DESEJO DE CANTAR
Por
Eugénia Chaveiro
Quem canta seu mal espanta
diz o povo e com razão
é uma voz que se levanta
e quem fala é o coração.
Um coração a pulsar
como o relógio hora a hora
se comparam ao rodar
dos alcatruzes da nora...
A nora que tira a água
para regar a natureza
seu rodar tem certa mágoa
junto de tanta beleza...
Essa beleza sem par
nas voltas que dela pende
é difícil de escutar
só o poeta as entende...
Esse som ensurdecido
com o tempo não esqueço
sinto entoar-me ao ouvido
pata além do Universo!...
*
FIZ UMA CORDA
Por
Lourdes Agapito
Fiz uma corda tecida de luz
com acenos de brisa e de amor.
Regressei às origens sem rumores,
voltei a ser criança, a ter asas,
e sentir afagos e ternuras,
a jogar à falua, ao lenço, às rodas,
ao senhor barqueiro, às escondidas,
ao jogo das cinco pedrinhas...
Uma corda me enleou à infância
recordando os meus dois irmãos
a jogar ao botar, à péla, ao pião,
a darem corda ao papagaio de papel
que subia, subia sem destino...
Neste tempo via da minha janela
os golfinhos a saltarem no Tejo.
As leis regem os tempos no tempo!
Também passavam barcos ébrios de ventos
enrodilhados de cordas e remos
no embalo das ondas desencontradas.
Cabia-me nos olhos uma paisagem
linda, hoje envelhecida de saudades,
desencantada por tantos males sem cura
no âmago dos mistérios a descobrir.
Que bom é adormecer, sonhar, recordar...
Ter memória, ver o fundo das águas,
ter irmãos, amigos e sorrir... sorri !
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