ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Quarta-feira, 28 de Junho de 2006
CRÍTICA BOCAGEANA - FALAM OS ESPECIALISTAS !
HERNÂNI CIDADE 5
“É preciso acrescentar que, na oscilação, já apontada em Bocage, entre, de um lado, a nobre sobriedade e a máscula elegância clássica e, do outro, a natural fluência melódica, grata aos românticos, há momentos em que a arte em que havia sido educado toca o artifício barroco. Veja-se no soneto «A Morte Duma Formosa Dama», como as imagens evocadas da vida fazem esquecer as da morte, que o “tácito jazigo” mal deixa adivinhar. Em compensação, quando o poeta substitui a lira clássica pelo alaúde romântico pode atingir a expressão que o leitor observará no soneto que começa «Ó retrato da morte, ó noite amiga…» eis os tercetos por que termina:
E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos como eu da claridade,
Em bandos acudi aos meus clamores,
Quero vossa medonha claridade;
Quero fartar meu coração de horrores!
O último verso ultrapassa as medidas românticas; chega aos excessos delirantes do ultra-romantismo, para cuja poesia poderia ser adoptado como legenda.
A «Noite amiga, retrato da morte, por cuja solidão suspira», a cada passo põe sua treva na poesia bocageana, alternando com quanto de claridade nela projecta o hereditário espírito clássico. Há versos que daquela trágica obsessão prolongam a sombra e eles bastariam para marcar o pré-romantismo do poeta:
Velando está minha alma esquecida,
Envolta nos horrores da tristeza,
Qual tocha que entre túmulos acesa
Espalha feia luz amortecida …"
( continua )