ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Domingo, 5 de Março de 2006
UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA DE BOCAGE II
BOCAGE E O BRASIL - 2
Em 1800, Bocage traduziu do latim dois livros da autoria de um professor brasileiro, natural da Baía, José Francisco Cardoso: Canto Heróico sobre as Façanhas dos Portugueses na Expedição de Tripoli e Elegia ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros D. Rodrigo de Sousa Coutinho .
Tendo em consideração a sua extrema popularidade, os livros de Bocage foram sendo publicados simultaneamente em Portugal e no Brasil até à independência deste país, registada em 1822.
No dia 15 de Setembro de 1865, José Feliciano de Castilho e Noronha, irmão de António Feliciano de Castilho, residente no Brasil, durante a celebração do centenário do nascimento de Bocage, sugeriu à comunidade brasileira que se fizesse um amplo peditório para
se erigir em Setúbal, uma estátua que perpetuasse o talento e a personalidade do poeta. Dito e feito: em breve se tinham recolhido 8.427.640 réis, quantia que foi depositada na casa Fortinho e Moniz, que, pouco depois, veio a falir. Felizmente, José Feliciano de Castilho e Noronha não tinha ainda depositado uma última verba, no valor de 1.583.000 réis, e o banco devolveu 162.000 réis. Foram estas duas verbas que custearam a estátua inaugurada no dia 21 de Dezembro de 1871, na presença do Marquês de Ávila e Bolama tristemente célebre por ter proibido as Conferências do Casino nesse mesmo ano , António Feliciano de Castilho e Eça de Queirós, entre outras personalidades.
Em 1905, o "Retiro Literário Português", sediado no Rio de Janeiro, evocou sentidamente o centenário do falecimento de Bocage, com a publicação de um livro de Luiz Murat, a leitura de poemas de homenagem ao escritor, um concerto e a representação da peça de Gervásio Lobato Condessa Heloísa.
No início do século, foi relevante a actividade laboriosa do escritor brasileiro Olavo Bilac que, em páginas de grande apuro formal, divulgou a personalidade multímoda e plural de Elmano. Na sua opinião, "em Portugal, a arte de fazer versos chegou ao apogeu com Bocage e depois dele decaiu."
Em 1965, no âmbito das comemorações do bicentenário do nascimento do poeta, foi descerrado na cidade de Setúbal um busto de Olavo Bilac, oferecido pela Academia Brasileira de Letras. Por sua vez, o governo português ofereceu ao Brasil um busto de Bocage, que se encontra na cidade do Rio de Janeiro.
Bocage está amplamente representado no panorama editorial brasileiro. Com efeito, é possível, como o demonstra esta exposição, encontrar actualmente muito mais edições bocageanas no mercado brasileiro do que no português. Livros que contemplam as várias vertentes da sua obra: a poesia erótica, lírica, satírica e epigramática, a tradução e as anedotas que lhe são atribuídas. De realçar ainda uma publicação da Federação Espírita Brasileira Volta Bocage... que dá à estampa versos alegadamente compostos pelo poeta no além mundo e transmitidos através de um médium...
Segundo o Professor Artur Anselmo, no nordeste brasileiro existe uma figura mitológica que se formou a partir dos nomes de Camões e de Bocage: Camonge. Um tributo relevante àqueles que são, eventualmente, os dois poetas portugueses mais perto das raízes populares.
Daniel Pires