ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Segunda-feira, 25 de Julho de 2005
CRÍTICA BOCAGEANA - BOCAGE EM BOCA ALHEIA !
«Diversamente julgado por quem sublinha de preferência as suas qualidades ou os seus defeitos, Bocage continua a ser pomo de discórdia para a Crítica»
JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO
Têm aparecido agora dois que fizeram seita, e que contam adeptos; o primeiro é um tal Filinto
e o segundo é um tal Elmano
Nas composições dos mancebos dados a metromania não transpira outra coisa mais que o mecanismo dos versos, a cantilena, os pensamentos destacados de um, e a aspereza e pedantesca cerzidura de palavras antigas do outro. Quantos danos produz esta perniciosa mania! O primeiro é arriscarem os moços o bom êxito do seu talento relativamente às letras. Nem todos podem ter a faculdade e a inclinação análoga às maneiras e ao génio daqueles dois homens que, longe de adiantarem a beleza sólida da poesia portuguesa, a atrasaram. Eis aqui os rapazes constituídos voluntariamente em um estado de violência obrigados a bater uma estrada enquanto a natureza os chama para outra inteiramente oposta. Desta maneira algemados , não se pode esperar deles uma composição que cheire a natural
Tantos génios pois que há entre nós e tão aptos para a poesia, em lugar de se empaparem na estéril lição de Filinto e nas monotonias Elmânicas, onde se encontra sempre a triste linha recta, ou uma inalterável corda coral de prodigiosa virtude soporífica
BOCAGE AOS SEUS PRÓPRIOS VERSOS
Chorosos versos meus desentoados,
sem arte, sem beleza e sem brandura,
urdidos pela mão da Desventura,
pela baça tristeza envenenados:
Vede a luz, não busqueis, desesperados,
no mudo esquecimento a sepultura;
se os ditosos vos lerem sem ternura,
ler-vos-ão com ternura os desgraçados.
Não vos inspire, oh versos, cobardia
da sátira mordaz o furor louco,
da maldizente voz a tirania:
Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
que não pode cantar com melodia
um peito de gemer cansado e rouco.
Bocage
In RIMAS