ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Segunda-feira, 25 de Julho de 2005
POETAS CONSAGRADOS - FILINTO ELÍSIO
FILINTO ELÍSIO
Filinto Elísio (1734 -1819), pseudónimo do Padre Francisco Manuel do Nascimento, foi um dos mais importantes poetas do Neoclassicismo português. Apesar de ser clérigo, lendo livros racionalistas franceses proibidos pela Inquisição, teve de fugir para França, exilando-se em Paris em 1778.
Estabeleceu relações de amizade com o poeta Lamartine. As suas poesias foram publicadas em Paris em onze volumes entre 1817 e 1819, seguindo-se uma segunda edição em Lisboa de vinte e dois volumes entre 1836 e 1840. Além de poeta era tradutor, vertendo para português os Mártires de Chateaubriand, as Fábulas de Lafontaine e Púnica de Sílio Itálico.
Admirador de Horácio, defensor dos ideais iluministas e enciclopedistas, e das revoluções francesa e americana, a permanência em França marcou a sua obra. Nesta lamenta o obscurantismo português, evoca a gastronomia e os costumes pátrios, retrata as dificuldades e a tristeza crescentes da sua doença e da sua velhice.
O seu estilo segue os preceitos da estética classicista arcádica, sendo um defensor enérgico do purismo da língua. Apesar deste formalismo, muitos dos seus poemas reflectem uma grande intensidade emocional, no que têm de revolta e de sofrimento pessoais, o que faz com que alguns o considerem já precursor do Romantismo. Cultivou praticamente todos os géneros da poesia clássica.
A obra de Filinto Elísio tem sido estudada por Fernando Alberto Torres Moreira, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ( Tese de mestrado com o título O Epigrama em Filinto Elísio Um Género para um Poeta, 1995) .
Têm vindo a ser publicadas desde 1998 as Obras Completas de Filinto Elísio. Fernando Moreira, professor da UTAD, com o apoio do Ministério da Cultura e do Instituto Português do Livro e da Leitura, coordenada actualmente a reedição das mesmas. Foram publicados até ao momento 4 volumes ( Filinto Elísio: Obras Completas, colecção Clássicos da Literatura Portuguesa, Braga, Edições APPACDM, 1998-1999. Edição de Fernando Moreira).
CONTO
Saiu da Samardã certo pedreiro,
faminto de ouro, em busca da fortuna.
Embarca, vai-se ao Rio, deita às Minas
e lida e fossa e sua, arranca à Terra
o luzente metal, que o vulgo adora.
Vem rico à Samardã: vinhas, searas,
casas, móveis, baixela compra fofo;
brocados veste, vai-se nos domingos
espanejar à igreja, acompanhado
de lacaios esbeltos. Vem o Cura
saudá-lo coa água benta; os mais graúdos
do lugarejo a visitá-lo acorrem;
para ele os rapapés, as barretadas
se apostavam de longe, a qual mais prestes.
Falaram-lhe os vizinhos, e a gazeta
na célebre Paris, cidade guapa,
onde todo o estrangeiro, nobre ou rico,
vai fazer seu papel. Ei-lo azoado,
que deixa a Samardã, que se apresenta
na capital francesa; roda em coche,
alardeia librés, passeia Louvres,
Versalhes, Trianões. Volta enfadado
à sua Samardã. «Gabam tal gente
de polida?! Oh, mal haja quem tal disse!
Corri casas, palácios, corri ruas;
não vi um só, nem grande, nem plebeu,
que ao passar me corteje co chapéu!»
Filinto Elísio, Obras, vol. III
DAS PEDRAS NOUTRA MARGEM
Soube das pedras das mais preciosas, diria -,
e era-o topázio no teu peito e no elevador,
de onde se via Nova Iorque envidraçado,
pensei a vida toda dos teus seios;
Quis, a cada paragem, cantar as pedras
e, num manifesto, fazer das pedras meus versos,
a cor furtada ao brilho dos meus olhos
e o néon tremeluzente, tuas mãos;
Soube-as em dedos cuidados doutras musas,
em brincos e piercings fabulosos, no trote das deusas,
pelas montras e avenidas fabulosas, soube-as lindas;
Horas que se escapam das clepsidras e são areias,
inertes que se evaporam no néon da cidade
- topázio! e continuam pedra, das pedras, em mim
Filinto Elísio,
In OBRAS