Machado de Assis (1839 - 1908)
ELA
Seus olhos que brilham tanto,
Que prendem tão doce encanto,
Que prendem um casto amor
Onde com rara beleza,
Se esmerou a natureza
Com meiguice e com primor
Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspira em doce poesia
Ao meu terno coração!
Sua boca meiga e breve,
Onde um sorriso de leve
Com doçura se desliza,
Ornando purpúrea cor,
Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza.
Com sua boca mimosa
Solta voz harmoniosa
Que inspira ardente paixão,
Dos lábios de Querubim
Eu quisera ouvir um -sim-
P’ra alívio do coração!
Vem, ó anjo de candura,
Fazer a dita, a ventura
De minh’alma, sem vigor;
Donzela, vem dar-lhe alento,
“Dá-lhe um suspiro de amor!”
ASSIS, Machado de, 1839 – 1908
Globo 1997 – Obras Completas
*
A CAROLINA
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
ASSIS, Machado de
O Melhor Poema do Autor,
segundo os mais ilustres críticos.
DEBUTANTES
Ele feito só de receios
Tem medo do que anseia
Atrapalhado fica no meio
Enredado na sua teia.
Sem saber bem o que fazer
Nem recua, nem avança,
Mas lá acaba por vencer
A sua timidez de criança.
Pé ante pé lentamente
Vão crescendo em ousadia
Com carícias docemente
Vão escrevendo poesia.
Aspiram um néctar divino
Bebem ávidos de prazer!
Quem há pouco era menino
Agora deixou de o ser.
Felizes e embriagados,
Beberam taças de loucura,
E adormeceram cansados
Em finos lençóis de ternura.
Fernando Serrano
*
PRIMAVERA
Dia Mundial da Poesia
Eu sei dum ninho
De passarinho
Tem três ovinhos
Feito no chão
De cotovia.
É Primavera
E a luz do dia
Primaveril
Sobe ao monte
E abraça o mundo inteiro.
Primavera é esperança,
Renovação,
A esperança alcança
E o ninho
Feito no chão
De cotovia
É um grito de alegria.
Aires Plácido
Silas Leite - Poetinha de Itararé
DESVIVER
Eu sei o que é não sentir nada
Eu sei o que é não querer sentir
É como se eu me cortasse no escrever
Para dizer que assim sinto alguma coisa
Que não necessariamente sei exactamente o que é.
Escrevendo é que eu de alguma forma me sinto
Existir eu fui sublimando na sobrevivência terrível
De nunca não sentir
O não-ser no não-lugar, um entre-ser…
(Cortava os pulsos com poemas
Escrever era fuga… no desviver).
Vazio espiritual. Entorpecimento.
O não sentir (Não acusava os golpes?)
Frustrações, medos, incompletudes…
Custei e emergir no meu pântano existencial.
Minha poesia, minha âncora,
Mergulho em mim
Para me sentir preso a alguma coisa…
Silas Correa Leite
Itararé, Brasil
*
AGRADEÇO À VIDA
Agradeço à vida
Ter-me dado tanto.
Agradeço a Deus
Conhecer o teu encanto.
Agradeço à vida
Todos os sons e o ouvir
Pois com as palavras te declaro
Quanto te quero sentir.
Agradeço à vida
Todas as luzes e o ver.
Pois é com este olhar
Que vejo teus lindos olhos… negros
Agradeço à vida
O poder distinguir
Entre toda a multidão
A mulher que eu amo.
Céu, Lua, Estrelas,
Tudo tem o seu encanto
Mas é o meu coração
Que pulsa, luta, ama…
E me permite…
Agradecer à vida!...
Victor Jerónimo
Bahia, Brasil
Machado de Assis (1839 - 1908)
IMAGEM – MEMÓRIA
A Machado de Assis, a minha homenagem
Cada poema pertence ao seu autor
Cada obra pertence ao passado,
Em policromia de emoção e cor,
Cujo génio fica eternizado…
Pela força de alcançar o eterno
Circula a semente deixada
Fecundada em noites de inverno
Na curva nunca ultrapassada.
Imagem-memória presente
Como a música de um violino pausada
Palavras nascidas da mente
Para uma obra iluminada
O fundo da sabedoria existe
Ressurgindo da mortalha, a expressão
Da sensibilidade fértil que resiste
À obra escrita com a tinta do coração.
Maria de Lourdes Agapito
*
NÃO VENHAS TARDE
Meu amor, não venhas tarde
Sabes bem, estou à espera
Vem matar-me a saudade
Quem espera desespera.
O meu jardim está lindo
Cercado de cravos brancos
Onde o meu amor passeia
Domingos e dias santos.
A ribeira de Odemira
Tão linda como “loendrais”
Já fui lavar à ribeira
Na “companha” de outras mais.
Não sei se vens ou não vens
Isto são ideias minhas
Sabes que espero por ti
Para apanhar as camarinhas.
A minha saia tem roda
A tua nem roda tem
A minha saia é mais bonita
Porque a fez minha mãe.
Perpétua Matias
Os meus links