«O Príncipe dos Poetas Germânicos»
PROÉMIO
Em nome daquele que a Si mesmo se criou!
De toda eternidade em ofício criador;
Em nome daquele que toda a fé formou,
Confiança, actividade, amor, vigor;
Em nome daquele que, tantas vezes nomeado,
Ficou sempre em essência incorporado:
Até onde o ouvido e o olhar alcançam,
A Ele se assemelha tudo o que conheces,
E ao mais alto e ardente voo do teu 'spírito
Já basta esta parábola, esta imagem;
Sentes-te atraído, arrastado alegremente,
E, onde quer que vás, tudo se enfeita em flor;
Já nada contas, nem calculas já o tempo,
E cada passo teu é já imensidade.
*
Que Deus seria esse então que só de fora impelisse,
E o mundo preso ao dedo em volta conduzisse!
Que Ele, dentro do mundo, faça o mundo mover-se,
Manter Natureza em Si, e em Natureza manter-Se,
De modo que ao que nele viva e teça e exista
A Sua força e o Seu génio assista.
*
Dentro de nós há também um Universo;
Daqui nasceu nos povos o louvável costume
De cada qual chamar Deus, mesmo o seu Deus,
A tudo aquilo que ele de melhor em si conhece,
Deixar à Sua guarda céu e terra.
Ter-Lhe temor, e talvez mesmo — amor.
Johann Wolfgang von Goethe,
in "Últimos Poemas do Amor, de Deus e do Mundo",
Tradução de Paulo Quintela
*
AGORA ME SINTO ALEGRE E INSPIRADO
Agora me sinto alegre e inspirado em chão clássico;
Mundo de outrora e de hoje mais alto e atraente me fala.
Aqui sigo eu o conselho, folheio as obras dos velhos
Com mão diligente, cada dia com novo prazer.
Mas, noites fora, Amor me mantém noutra ocupação;
Se apenas meio me instruo, dobrada é minha ventura.
E acaso não é instruir-me, quando as formas dos seios
Adoráveis espio e a mão pelas ancas passeio?
Compreendo então bem o mármore; penso e comparo,
Vejo com olhar tacteante, tacteio com mão que vê.
E se a Amada me rouba algumas horas do dia,
Em recompensa me dá as horas todas da noite.
Nem sempre beijos trocamos; falamos sensatos;
Se o sono a assalta, fico eu deitado a pensar muitas
coisas.
Vezes sem conto eu tenho também poetado em seus
braços
E baixo contado, com mão dedilhante, a medida
hexamétrica
No seu dorso. Em sono adorável respira,
E o seu hálito o peito me acende até à raiz.
O Amor atiça a candeia entretanto e pensa nos tempos
Em que aos Triúnviros seus o mesmo serviço prestava.
Johann Wolfgang von Goethe,
in "Elegias Romanas"
Tradução de Paulo Quintela
GOETHE, Wolfgang - 1749 - 1832
BIOGRAFIA
Goethe era formado em Direito e chegou a actuar como advogado por pouco tempo. Como sua paixão era a literatura, resolveu dedicar-se a esta área. Fez parte de dois movimentos literários importantes: romantismo e expressionismo. Apresentou também um grande interesse pela pintura e desenho.
No ano de 1786 foi para a Itália, onde morou por dois anos. Neste período escreveu importantes obras como, por exemplo, Torquato Tasso (drama), Ifigênia em Taúrides (peça de teatro) e as Elegias Romanas.
Porém, sua grande obra foi o poema Fausto, escrito em 1806. Baseada numa lenda, esta obra relata a vida de Dr. Fausto, que vendeu a alma para o diabo em troca de prazeres terrenos, riqueza e poderes ilimitados.
Em 1806 casou-se com Christiane Volpius, que faleceu dez anos depois.
Escreveu também sobre temas científicos. Defendia uma nova explicação para a teoria das cores, em oposição à defendida por Isaac Newton. Demonstrou também grande interesse por botânica e pela origem das formas de vida (animal e vegetal). Alguns pesquisadores afirmam que seus estudos abriram caminho para o darwinismo e evolucionismo (teoria da Evolução das Espécies).
Principais obras de Goethe
- Götz von Berlichingen - 1773
- Prometheus - 1774
- Os Sofrimentos do Jovem Werther - 1774
- Egmont - 1775
- Ifigênia em Taúrides - 1779
- Torquato Tasso - 1780
- Reineke Raposo - 1794
- Xenien (em conjunto com Friedrich Schiller) - 1796
- Fausto - 1806
- Hermann e Dorothea - 1798
- Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister - 1807
- Faust II – 1833
Frases célebres de Goethe
- "A idade não nos torna adultos. Não! Faz de nós verdadeiras crianças."
-"Todas as coisas no mundo são metáforas."
- "A igualdade nos faz repousar. A contradição é que nos torna produtivo."
- "Coloquei a minha casa sobre o nada, por isso todo o mundo é meu."
-"A alegria não está nas coisas: está em nós."
- "A natureza do amor tem sempre algo de impertinente."
- "Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser."
- "O que cantamos em companhia vai de cada coração aos demais corações."
-"Um homem de valor nunca é ingrato."
- "O homem deseja tantas coisas, e no entanto precisa de tão pouco."
A CONSTRUÇÃO DO EU
Relembrando momentos passados
Os meus olhos se inundaram
Em recordações antigas
Meus sentimentos se afogaram!
Relembrar dias de ouro
Que tanto me fizeram feliz
Rolam lágrimas de saudade
De tanta coisa que fiz.
Saudade de personagens
Que ilustraram minha vivência
Saudade de passagens
Que iluminaram minha existência.
Cada pequeno personagem
Me ajudou na construção
Daquilo que hoje sou
Dona e senhora de um bom coração.
BENJAMIM
*
AMOR IMORTAL
Amar sem esperar,
Amor condenado.
Perder a razão de estar
E ficar abandonado.
Sei de onde venho
Mas não sei para onde vou.
Nem sei a razão que tenho
Do motivo porque estou.
Está errado, dirão…
Certo, não estará,
Que fazer então?
Tudo passará…
Mas o amor não.
Esse ficará!
Fátima Pela
*
Giovanni Formaggio
RIVIVREMO L' ALBA
De
Giovanni Formaggio
Torna com i tuoi occhi di vent
com le tue labbra
nutrite dalle mie radici
com il tuo corpo
che as di flamenco.
Com le tue tempestea
la tua quiete.....
È porta verde
il sale che há bruciato le tue rose
e ti há visto fuggire....
Torna al tramonto
quando il sole incendia le case e il mondo.
Stingerò forte le tue mani
trascinerò la tua anima
nell'infinito....
Insieme
rivivremo l'alba delle nostre fedi nuziali
come quel giorno....
*
REVIVAMOS O AMANHECER
Por
Giovanni Formaggio
Volta com os teus olhos de vento
com os teus lábios
alimenta-te das minhas raízes
com o teu corpo
que tens de flamenco.
Com a tua tormenta
a tua bonança…
É porta verde
o sal que queimou as tuas rosas
e te viu fugir…
Volta ao pôr-do-sol
quando o sol incendeia as casas e o mundo.
Distingue bem as tuas mãos
arrasta a tua alma
até ao infinito…
Juntos revivamos
o alvorecer da nossa fé nupcial
como naquele dia…
AMÉRICA MIRANDA PRESIDINDO À TERTÚLIA DO PRETÉRITO DIA 17-09-2011
Tertúlia Poética Ao Encontro de Bocage – Tertúlia Anual de Homenagem a Bocage – celebra-se cada ano na segunda quinzena de Setembro. Porquê em Setembro e em cada ano? É o mês em que se celebra o aniversário do nascimento do Vate Sadino, Manuel Maria Barbosa du Bocage. Esta Tertúlia faz questão de lembrar a todos os amantes da Poesia e da Literatura, em geral, que Bocage – o poeta português mais popular, sem sombra de dúvidas – é o seu patrono artístico e também cultural.
Cada Tertúlia deve a sua motivação a grandes artistas que, do passado (muitas vezes longínquo), continuam sendo o modelo ideal para a sua forma de ver o mundo e de se afirmar como o fórum ideal das suas actividades humanístico-culturais. Esta Tertúlia, com sede na capital portuguesa, e dirigida pela conhecida poetisa América Miranda, desde há uns anos a esta parte, tem por hábito celebrar todos os meses a memória deste insigne poeta – facto que acontece no primeiro sábado de cada mês e, uma vez por ano, em Tertúlia Alargada comemorativa do seu nascimento.
Pode dizer-se que esta mesma Tertúlia tem sido um dos polos culturais mais dinâmicos da Capital, não só pela assistência que tradicionalmente consegue aglutinar à sua volta mas, principalmente, pela revitalização da convivência cultural e artística de que faz jus e atracção na vida comunitária das autarquias. Assim sendo, estas Tertúlias têm-se mantido em grande parte devido ao agrément e patrocínio, ainda que insuficiente, dos pelouros culturais das Juntas de Freguesia. É o caso da Junta de Benfica. Ali teve lugar, desta forma, no sábado passado mais uma Tertúlia Poética Alargada Ao Encontro de Bocage.
Prof. Assis Machado
O HOMEM-ESTÁTUA
Numa tarde com sol, na Primavera,
Andava vagueando no Chiado,
Quando vi um “homem-estátua”, no passeio
Imitando a figura de Camões.
Petrificado, imóvel, permanece.
Então num movimento inesperado,
Desperta, estremece.
Alteando um rosto pálido, inspirado,
Começa a recitar, de cor, uns versos:
Sonorosas estâncias dos Lusíadas
Do seu canto primeiro.
Quem dera fosse eterno
Tão breve e belo instante
E nunca passageiro.
Em momentos dum tempo, já sem crenças,
Por vezes me convenço
Que os milagres da vida
No tormento das nossas incertezas
Nascem da fé, de sonhos, de ilusões.
E assim este “homem-estátua”, mascarado
Não sendo, até julguei que era Camões.
Ó homem mascarado,
Ó estátua de carne
Com alma de poeta,
Eu vi-te nessa tarde, no Chiado.
E se tiver em mim alguma fé
Até direi que nessa tarde eu vi
Camões ressuscitado!
Orlando Lizardo
O PALCO DA MINHA INFÂNCIA
Sou uma mulher do campo,
Nasci em lençol de espigas
Embalaram-me as cigarras
Com as suas frementes cantigas.
Entre um montado de esperança
Eu vi o bailado das folhas
Tão certinho lá nos montes
Ouvi a voz das montanhas
E o doce palrar das fontes.
No palco da minha infância
Escutei na esquina da noite
Lindos contos de encantar
Quando a lua madrinha
Com toda a sua doidice
Entrava p’ la pequena janela
Da minha meninice.
E com aquela cara tão bela
A sua voz mansinha
E suas mãos prateadas
Lentamente me vinha acariciar.
Hoje guardo em meu regaço
Elo do qual eu não me desfaço:
A mansidão do Alentejo.
Graciett Vaz
*
O LIVRO
Um livro é um pedaço de nós
Onde se expressa a alegria e a tristeza
É o erguer da nossa voz
É voar para parte incerta
É um lançar de um alerta
À Humanidade e à Natureza.
Eugénia Chaveiro
*
DESESPERO
As flores crepitam
Nas labaredas da fogueira
Onde me queimo
Onde me ardo
Onde me asso
Me desfaço…
Deixando que o amor, ao vento,
Se desvaneça em fumo
Aqui e além!
Lobo Mata
AMOR SEM BARREIRAS
Graciosa, gentil e airosa, passava a Rita, a menina mais linda daquela terra. Tinha um corpo elegante, sinuoso e provocante que deixava os olhos e os corações dos homens chamejantes. Os ricos desejavam-na e julgavam comprá-la com o vil metal. Ela limitava-se a olhá-los, sobranceira com um ar desdenhoso.
A sua paixão era por um rapaz pobre, com um humilde emprego, mas, infelizmente era casado, vivendo um mau casamento que lhe pesava sobre os ombros como um fardo demasiado pesado. Um amor de certo modo impossível, pois Rita adorava o Carlos, mas não queria viver uma relação considerada pecaminosa.
Todavia, a chama que lhe queimava a alma obrigava-a sempre a correr para os braços daquele amor que apenas se limitava a simples ósculos e abraços sem que ele a possuísse. Mas o desejo, esse sentimento que possuem as almas gémeas dos amantes, fez com que um dia Rita se entregasse a Carlossem medir as consequências inevitáveis desse acto.
O amor e a paixão redobraram, os encontros em lugares escondidos sucederam-se até que, uns olhos indiscretos os descobriram e espalharam a notícia, chegando aos ouvidos da mulher legítima e que, desorientada até pensou matar os dois amantes, pois amava o marido à sua maneira egoísta e não queria perdê-lo.
Quanto mais surgiram dificuldades, maior foi a paixão daqueles dois entes e Carlos decidiu enfrentar a possibilidade de um divórcio. Seguiram-se impropérios, insultos e tudo isso ainda aumentou mais o desejo dos dois amantes estarem juntos até ao fim dos seus dias. Quando conheci a Rita e o Carlos já estavam casados e passados tantos anos, ainda havia nos seus olhos aquela chama, aquela força imperiosa que os atirou para os braços da paixão e do amor sem limites.
Já há neve nos seus cabelos, mas uma serenidade indescritível naquele amor que ainda persiste, naquela cumplicidade tão linda de se ver. Após anos de luta ambos conseguiram melhores empregos, têm filhos e uma posição económica estável. E agora, perguntam os leitores… Que foi feito da primeira mulher?
Após diversas tentativas para destruir aquele amor que acabou com o seu casamento, conformou-se, arranjou outro amor e hoje também está feliz.
Estas linhas querem provar que o amor, mesmo caminhando por caminhos tortuosos, acaba sempre por vencer.
América Miranda
A MINHA AMANTE
Tenho um segredo guardado
No meu coração constante
Que, embora sendo casado,
Eu tenha uma boa amante.
Ela é linda, apaixonada,
E dá-me sempre em seguida
Duma forma deslumbrada
Motivos de amar a vida.
Com ela vejo a beleza
Com ela desfruto o bem
Que existe na Natureza
Tudo o que de bom contem.
Vamos sempre de mãos dadas
Nos passeios que encetamos
Com frases enamoradas
Longamente nos beijamos.
Esta minha querida amante
Dona do meu coração
Pouco pede, é confiante,
Apenas inspiração.
E meu corpo a palpitar
Do prazer que ela irradia,
Não pode deixar de amar
Esta amante: A Poesia!
Armando David
*
ORAÇÃO
Deixa que eu Te diga assim baixinho
O que nunca com palavras sei dizer,
Deixa que eu Te veja sem te ver
Para nunca mais sentir que estou sozinho.
Deixa-me seguir no Teu caminho
Para saciar a fome do Teu ser;
Só Tu és tudo o que há no verbo haver,
Só Tu és o corpo e alma, pão e vinho.
Só Tu és a verdade omnipresente
Só Tu és o perdão mais transcendente
Só Tu és a justiça verdadeira.
Eu sou apenas um entre os mortais
Que Te pregou na cruz como os demais
Para esperar por Ti a vida inteira.
Féliz Heleno
IRACEMA
Não podemos abrir à descarada
Portas da nossa vida de entrar tudo,
A quem escuta, há que ficar mudo
Sabendo nossa vida devassada.
A quem vê, com visão bem aguçada,
Só há esse esconder o que é desnudo,
A quem fala, com seu ar tão sanhudo
É fingir que palavra não foi dada.
Isto de conviver tem arte rara,
E a subtil ciência só medida.
Como tudo o que é feito se repara,
Sentido criticar logo em seguida
A vida boa ou má, doce ou amara,
Tem de ser, por nós, sempre entendida.
Eloy Ferreira do Amaral
*
HÁ NO MEU PEITO UMA NASCENTE
Sinto que há no meu peito uma nascente.
Só não sei se de lágrimas, se de amor…
Será de lágrimas, pois brota em torrente,
E além disso… Conheço-lhe o sabor.
Se estas lágrimas, que antes teimosas
Pudessem abrandar a dor, o sofrimento,
Se estas lágrimas sentidas, silenciosas
Pudessem dar lugar ao esquecimento,
Talvez eu pudesse ver o que não vejo
E vir ansiar pelo que não quero ter,
Talvez eu pudesse procurar o ensejo
P’ ra esquecer tudo o que deixou de ser,
P’ ra olvidar o que sempre revejo
Ganhar coragem… E, voltar a viver!
Helena Bandeira
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