ALMA CHEIA DE POEMAS
Por
Eugénia Chaveiro
Eu vou fazer escrevendo
o que a falar não consigo
o papel é meu aconchego
para expressar minhas penas.
Sinto que ele é meu amigo
por isso faço-o sem medo,
escrevendo não sinto algemas
mesmo que diga um segredo
ditado do coração
não sinto a troça e o desdém
de sentir a dor da ingratidão
a coisas que o mundo tem...
*
CAMINHO DE PRIMAVERA
Por
Conchita Machado
No azul do céu e do mar
o sol transluz nos confins da noite.
Cada manhã floresce
e respira nos braços
junto ao rio dos sonhos...
Navega num mar de flores
como maré alta agitando dor
e transformando caminho.
Como perfume de flores nos jardins,
salmodeando versos
a Primavera chegou!...*
E DEPOIS DE TI
Por
Helena Bandeira
E depois de ti...
e depois de nós dois...
O que farei sem ti?
O que farei comigo?
Tão sem ti, assim,
o que farei de mim
se não estou mais contigo!
Se o nosso amor
contigo levaste,
e tudo o que deixaste
foi só a minha dor!
Como recuperar o amor,
o ardor e o vigor,
se tudo isso... contigo se foi!
Como renovar a emoção,
como reforçar o coração,
se tudo em mim tanto dói!...
Como viver sem amor,
como viver sem paixão
ou seja lá o que for!
Algo que renove a emoção,
algo que traga comoção,
mas faça do amor
um estado de espírito apenas...
Mesmo sem calor,
mesmo sem ardor,
e... por isso mesmo, sem penas!
*
PARA TI, BOCAGE
Por
Celeste Reis
Neste mundo em turbulência
onde impera a rebeldia
como um sol rasgando as nuvens
nasce o nosso Manuel Maria.
O seu espírito diamantino
duma radiância invulgar
derrubava quaisquer fronteiras
que o impedissem de amar.
Enfrentou perigos mas não desistiu
e ao avançar entre trevas e luz
não encontrou a sua estrela
mas soube abraçar a Cruz...
E se por amor desceu ao inferno
se tanto por amor sofreu
aos Céus se elevou reinando
no Trono que o amor lhe deu.
Vibrante a chama do amor
para sua luz perpetuar
elegeu o coração de Bocage
e lá tem o seu Altar.
Luz que jamais se apaga
luz que sempre há-de brilhar
nos corações de quem o ama
dos que sempre o hão-de amar.
E a Eternidade abriu as portas
a este poeta universal
glorificando o seu nome
e o nome de Portugal !
*
CALÚNIA
Por
Félix Heleno
A calúnia é semelhante à tempestade
é semelhante ao vento frio e louco
quem gosta de a espalhar sabe-lhe a pouco
neste mundo semilouco de ansiedade.
Quantas vezes a calúnia é a maldade
de quem grita, berra quase rouco;
à verdade todo o mundo fica mouco
se a calúnia passa a ser toda a verdade.
A calúnia é um veneno a semear
flores de ‘spinhos que provocam tantas dores
desde o dia em que ela é anunciada;
Mas o veneno um dia há-de secar
os espinhos transformar-se-ão em flores
no dia em ela for desmascarada.
*
PAPELADA
Por
Armando David
Não me pedem pão, pedem-me espaço,
papéis e mais papéis, que trapalhada;
fazendo escolha, de alguns eu me desfaço
p’ ra me livrar de tanta papelada.
Junto papéis, papéis e mais papéis,
muitos a causarem-me embaraço;
papelada a não valer dez reis,
não me pedem pão, pedem-me espaço.
Recordações, recortes de jornais,
albuns e pastas, tudo de enfiada;
prateleiras, armários e outros tais
papéis e mais papéis, que trapalhada.
Tento separá-los, dar destino,
de os por em ordem, já sinto cansaço;
porque há papéis e papéis, que desatino,
fazendo escolha, de alguns eu me desfaço.
Podem-se rir, até por maroteira
confesso, que isso até nem tem piada:
eu a dar cabo da minha prateleira
p’ ra me livrar de tanta papelada.
SONHEI COM JESUS
Por
América Miranda
Eu vi Jesus nos meus sonhos
envolto no seu manto
meus olhos assaz tristonhos
brilharam plenos de encanto.
Dei-Lhe a mão p’ ra caminhar
no Seu ombro repousei
e no Seu brilhante olhar
meus receios descansei.
Fiz-Lhe queixas deste mundo
mostrei-Lhe grande desgosto
e com um sorriso profundo
Ele afagou o meu rosto.
E o meu Jesus adorado
com Sua auréola de luz
limpou-me do meu pecado
e aliviou minha cruz.
Acordei maravilhada
com o sonho tão fecundo
sentindo minh’ alma lavada
das torpezas deste mundo.
DESENCANTO
Analisando as facetas da nossa existência e recordando os nossos tempos idos temos que admitir que a nossa passagem nesta vida é um trilho quase impossível de transpor.
A fé, a nossa força interior, o nosso desejo de vencer o mal, ainda nos ajuda a transpor o que nos parece intransponível. O amor verdadeiro, puro, já quase não existe. Há o desejo normal, animalesco, que substitui aquele desejo lindo que havia entre os seres que se amavam. A ternura do homem na exploração do corpo feminino, amado e desejado, aquele secretismo e cumplicidade erótica que existia entre duas pessoas a sós na sua intimidade, não é o mesmo. Agora, há demonstração na rua daquilo que não chega a existir verdadeiramente nas relações íntimas. Existem ainda pessoas um pouco fora do comum que são consideradas “botas de elástico” e se amam a poesia são apelidadas de loucas.
Vou na rua vagueando e analisando o que se passa à minha volta. Que vejo? Mais miséria, podridão, lixo humano e de consumo misturados numa dança fantasmagórica que arrepia. Mas como sou poetisa, como tenho uma alma sonhadora e romântica, sonho acordada com um mundo cheio de coisas maravilhosas quase impossíveis de alcançar.
Mas porquê ficar impotente e nada fazer? Porquê não usar a caneta que tem o poder de uma arma mortífera? Porquê não ferir os que nos ferem com a palavra sardónica tão veloz como uma bala certeira? Será falta de coragem ou desalento? Será fragilidade? Podemos reprovar mas temos que combater esse temor maligno que se agrava progressivamente e vem tomando conta da Humanidade – o desespero, a fome, a doença, a inveja, o terror, o desencanto, a malvadez e o uso abusivo dos mais fracos!
Esta prosa não tem poesia, porque a poesia seria maculada com tanta iniquidade, mas tem um grito de revolta misturado com laivos de esperança e força para lutar!
América Miranda
ALTURA DOLORIDA
Por
Fernando E. do Amaral
Tu pedes um soneto ao pensamento?
Um soneto tem Arte, Vida, Amor ...
Festeja uma alegria, chora a dor ...
É clara voz que sai dum sentimento!
Se é turbilhão que alcança o Firmamento
cabe num diminuto, no que for
grandiosa Visão em pensador
que ausculta a existência num momento.
Tu pedes um soneto, companheira
do curto carnaval da nossa vida!
No festival sem graça da canseira
Quem se importa saber d’ alma subida?!
Pede apenas, um dito-brincadeira...
Um soneto é Altura dolorida!
*
A SOLIDÃO
Por
Augusto Viveiros
A solidão bateu-me à porta
e, sem pedir licença, entrou
estupefacto fiquei sem resposta
ao ver que ela, afinal ficou.
Espero que a sua companhia
venha a dar-me muito jeito
já tenho quem me dê o bom dia
e à noite o carinho de um beijo.
Agora, habituei-me à sua presença
e até bendigo a sua inesperada vinda
entre nós não há nenhuma desavença
nem tampouco qualquer intriga.
Repartimos alegrias e tristezas
e o pão nosso de cada dia
juntos contamos as estrelas
e até cantamos à porfia.
Sei que vai haver separação
no momento da partida
conto com a sua devota oração
mesmo que seja noutra vida!
A UMA AMIGA
Maria, quero dedicar-te estes versos
Amiga, a prova da minha amizade,
Razão pela qual sempre te vou adorar
Independentemente da estrada de vida
Andarei a teu lado para te apoiar.
Adoro a tua espontaneidade,
Minha amiga do coração,
Intimida-me a seriedade
Grave da tua disposição
Amigavelmente saudosa.
Pergunto-me como consegues
Andar sempre com tal sorriso
Radiantes, teus olhos como brilham
Alheios à alegria que transmitem...
Senhora da tua vida
Eterna amiga da minha
Magnifica-me tua alegria
Pertinente e radiante
Rebelde sorriso nasceu
E que ele sempre me acompanhe!
Benjamim
In “Sentimentos de uma Adolescente”
*
VIOLETA DAS VEREDAS
Ó minha flor discreta e perfumada
nas orlas das veredas renascida
conseguiste dar força à minha vida
que de si se encontrava amargurada.
Mil vezes transitei por esta estrada
sem a presença tua consentida
e o meu ser co’ a essência pervertida
jamais t’ havia visto, minha fada.
Agora, meu olhar em ti assoma
desfrutando em teu bem a mor beleza
e a mais pura energia em teu aroma.
De ti me vem prazer e mais riqueza
e a minh’ alma cá dentro já retoma
um novo brilho e uma fiel grandeza!
Frassino Machado
In “Odisseia da Alma”
Madonnina del Ponte
Di
Giovanni Formaggio
Quando s’ alza il giorno
e il sole ti veste di splendore
penso a te, Madonnina del Ponte.
Ricordo maggio d’ altri tempi
il tuo volto tra fiori e lumi
la processionne
un tripudio di campane a festa.
Ora la gente passa veloce,
spinta dal progresso va...
Solo il lamento del fiume
ti racconta questi giorni di pietra
questo mondo infelice.
Ma quando cala na notte
il cielo accende un rosario di stelle
sul tuo capo un diadema di luna.
Quando cala la notte
poso ai tuoi piedi
una rosa con petali di parole
Madre di questo Paese
ogni giorno, un canto d’ amore.
*
Senhorita da Ponte
Por
Giovanni Formaggio
Quando clareia o dia
e o sol te cobre de esplendor
penso em ti, Senhorita da Ponte.
Recordo Maio de outrora
o teu rosto entre flores e luzes.
A procissão
uma exultação da campina em festa.
Agora a gente passa rápido,
um vago impulso do progresso...
Só o lamento da ribeira
te sussurra estes dias empedernidos,
este infeliz mundo.
Mas quando chega a noite
o céu acende um rosário de estrelas,
sobre a tua cabeça um diadema de lua.
Quando cai a noite
coloco a teus pés
uma rosa com pétalas de palavras.
Mãe deste País
em cada dia, um canto de amor!
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