RETRATOS DE LISBOA
Lisboa das vielas e grandes catedrais.
Lisboa de aguarelas e crimes nos jornais.
Lisboa, de avenidas sem destino ou país,
é dona do seu Tejo e é feliz.
Lisboa que adormece quando o dia é uma criança.
Lisboa com seus fados, de noitadas e andanças.
Lisboa dos marujos, de muitos travestis,
Lisboa que se pode igualar a Paris.
Lisboa tem Pigale no quiosque da Avenida
e os Champs-Elisées no virar de muita esquina.
O Tejo é seu Sena e, mesmo Notre Damme,
não tem a tradição que tem a Sé, na nossa Alfama.
Lisboa, muitos parques (o mais velho é o Mayer).
Lisboa dos cafés, já não há muitos para ver.
Lisboa das revistas, com várias junto ao cais.
Já troca o fado pelo «jazz» em Cascais.
Lisboa dos cinemas, dos museus, galerias,
Lisboa do Mercado Comum... teorias.
Lisboa traz no ventre muitos centros comerciais.
Mas tascas de ginginha... não há mais.
Lisboa dos eléctricos, da Graça à Mouraria.
E agora dos ”laranjas” em constante avaria.
Lisboa das «manifes» e das greves sindicais.
Ai casas de penhores...ai quem dá mais.
Lisboa do Chiado, Bairro Alto e Areeiro,
só troca os seus escudos pelo dólar... que é dinheiro
vamos gastá-lo numa casa de marisco.
Se algum nos resta do que leva o fisco.
António Sala,
Director de Coordenação Geral da Rádio
Renascença
FLORBELA E EU
Por
M.ª de Lourdes Agapito
Do palácio da ilusão sou sentinela,
debruçada sobre mim, procuro a vida,
até me lembro de ti, saudosa Florbela,
por na dor ser contigo tão parecida.
Sinto de ti um pouco uma parcela,
nesta ânsia de viver e andar perdida,
estou agarrada às grades de uma cela
e como tu em uma hora fui nascida.
Sinto pena de ti, de mim, daquela
que como eu e tu, ó doce Florbela,
quisemos amar e dar os nossos seres.
Encontramos ilusões, divórcios, egoísmos,
sofremos e choramos, também rimos,
mas fomos as mais tristes das mulheres.
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POMBA BRANCA
Por
António Carvalho
Pomba branca, paz perdida,
que andas tão alto a voar.
Pomba, pomba, minha amiga
vem pousar no meu lar.
Febris são tuas asas. Um louvor
lutando por ampla liberdade.
Traz-me contigo um bom amor
abençoado por toda a Santidade.
Voas ao frio e contra a tempestade,
que tudo derruba ao entardecer,
mas não consegue desfazer a amizade.
É heróico o teu esvoaçar,
pomba traz cedinho ao amanhecer
o beijo que já tarda em chegar!...
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PARA BOCAGE
Por
Lourdes Ferreira
Bocage, chora por ti o rio Sado,
e o Tejo também tem saudade
do Boémio e idolatrado
poeta da escrita, e sua mocidade.
Seu português foi rico de sabedoria,
poeta com grande esplendor,
teve muitos amores, por alguns sentia
ciúme, paixão, sofrimento e dor.
Esse nome ninguém esqueceu,
na vida nunca foi vencido,
egrégio Poeta, muito amou e sofreu,
um Génio que jamais será esquecido.
Ainda hoje são celebrados,
os dias lindos de seus anos
no Auditório Carlos Paredes comemorados,
por América Miranda e seus Tertulianos!
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
Não podemos deixar de recordar sempre o nosso patrono Bocage. Nasceu a 15 de Setembro de 1765 e foi um dos maiores Vates da Humanidade...
Nas formas arcádicas de ode, canção, cançoneta e sobretudo nos seus Sonetos, vaza a turbulência da sua alma – maior poeta do Século XVIII – ao sentir fugir-lhe a vida aos 40 anos disse:
Meu ser evaporei na lida insana
saiba morrer o que viver não soube!
Manuel Maria Barbosa du Bocage, talvez um pouco por hereditariedade foi um poeta. Mas o ambiente da época, com os seus preconceitos mesquinhos e seu fanatismo farisaico, seu formalismo oco, sua mentalidade acanhada, fez dele, primeiro um revolucionário, ascendendo depois ao nível de poeta conscienciosamente insubmisso, um idealista, que expressou, como nenhum outro, as aspirações políticas do seu tempo, as quais viriam impor à Nação, aquela estrutura de Estado a que se convencionou chamar Liberalismo, pré-anunciado nos seus versos foi expressão literária e artística. E se a estreiteza do meio lhe permitisse, seria um poeta muito maior, mas apesar de tudo, ainda foi muito grande!
“A LABAREDA DO CIÚME”
Há um medonho abismo, onde baqueia,
a impulsos das paixões a Humanidade;
impera ali terrível divindade,
que de torvos ministros se rodeia.
Rubro facho a Discórdia ali meneia,
que a mil cenas de horror dá claridade;
com seus sócios, Traição, Mordacidade,
range os dentes a Inveja escura e feia.
Vê-se a Morte cruel, no punho alçando
o ferro de sanguento, ervado gume,
e a toda a Natureza ameaçando;
Vê-se arder, fumegar sulfúreo lume...
Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando!...
Mortais, não é o Inferno, é o Ciúme!
Barbosa du Bocage
In RIMAS
EDITORIAL BOCAGEANO
A maior parte do povo português cita Bocage quando se trata de um dito fresco ou de uma anedota picaresca.
O colossal improvisador, o supremo sonetista entre nacionais e estrangeiros, o vate genial, tão grande como Luis de Camões, com o qual Garrett e outros autores estabelecem o paralelo, não obstante foi conhecido por esse povo com a mais terrível imperfeição e injustiça.
Na vida deste poeta , que nasceu a 15 de Setembro de 1765, houve lutas morais incessantes, grandes desventuras e por fim uma paixão cruciante, porque a união com a mulher que amou verdadeira e apaixonadamente foi impedida pela doença que lhe deu uma prematura morte. O terrível aneurisma não lhe permitiu realizar tão sonhada ventura e os anos de luta, em que a doença o impelia para a morte e o amor o solicitava para a vida, marcam essa última fase da sua movimentada existência como uma subida ao calvário.
O nosso patrono teve um final de vida trágico e pungente, tremenda injustiça para um génio imortal como ele – O Grande Bocage !
América Miranda
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