DE MEIA TIGELA
Por
Armando David
Há para aí tanta pessoa,
eu mais diria: - Patetas!
Usando frases à toa
logo se julgam poetas.
Fazem poemas sem rima,
falta-lhes inspiração;
pensam fazer obra prima
e dão com as ventas no chão.
Sem fazer obra famosa,
não é poesia ou prosa,
apenas simples balela.
Não sendo muito dotados
estes poetas, coitados,
são só de meia tigela !
*
ESTRANHA FORMA DE SER
Por
Felix Heleno
Fumar é uma forma de suicídio.
É um acto tão medíocre
que apenas antecipa a mediocridade da morte.
Cigarro estranho vício me contenta
álcool estranha sede insaciável
droga estranha ilusão que alimenta
o prazer de ser um sonho irrealizável.
Guerra estranha forma de matar
ódio estranha forma de viver
fome estranho forma de aceitar
a gula dos que comem por prazer.
Que estranho é viver a procurar
toda a forma de querer sobreviver
à procura do que nunca tem sentido.
Que estranho é ser a morte a libertar
tudo quanto foi na vida padecer
e tudo quanto neste vida foi sofrido. Felix Heleno In OLHOS DA MENTE
“RECORDANDO O PASSADO”
Por
Mª de Lourdes Ferreira
Sozinha choro, sozinha falo,
para o Céu, estrelas, para a lua,
chegando à janela não me calo,
rogo às pedras da minha rua.
Olho as árvores dançando,
os pássaros esvoaçando,
continuo ao Céu suplicando,
porque sinto o coração chorando?
E pergunto, porque não vejo
aqueles seres que amei um dia?
Seria milagre, também desejo,
não sentia a alma assim tão fria.
Mais tarde, ao fechar a janela,
de divinas noites com seu luar,
olho a doçura da lua, e só ela
àquela hora me pode escutar.
***
GRACIOSIDADE DE UMA CRIANÇA
Por
Amélia Marques
Uma criança dormindo
os anjos a estão guardando,
um sono profundo e lindo
sorrindo está sonhando.
Os passos d’ uma criança
são leves como andorinhas
e seu doce olhar d ‘esperança
lembra duas estrelinhas.
Quando uma criança canta
sua doce melodia
sua vozinha encanta
a qualquer hora do dia.
A graça de um passarinho,
poisado num roseiral
acompanhando baixinho
a vozinha de cristal.
Para vós, crianças,
os Anjos da Guarda vos protejam
sob as suas divinas asas.
***
MICROFONE E VOZ
Por
António Sala
Entrar no palco é uma emoção:
sentir um foco a se acender
e a vir na nossa direcção
para o público nos ver.
Entrar no palco é uma emoção:
é ver as luzes multicolores.
E um gesto da nossa mão
faz-nos sentir actores.
É o microfone e a nossa voz
para dizer, para cantar.
É o dar tudo que há em nós
para o público gostar.
E se na altura em que actuamos
alguém vibrar com a nossa voz
sabemos que essa magia
se cria dentro de nós.
Entrar no palco é uma emoção
seja-se músico ou cantor
e há um prazer dentro de nós
que quase sabe a dor.
Entrar no palco é uma emoção
de locutor ou bailarina,
de grupo rock ou trovador,
se o público se anima.
E cada artista é uma criança
que um grande exame vai passar.
Cada um de vós é o professor
que nos está a avaliar.
E se houver palmas no final,
é porque o público gostou.
O palco é um mundo de emoções.
O artista já sorri... passou.
E o palco assim é também teu,
que sentes tudo o que eu senti
e apetece dizer com suave ironia
gostava de vos ver... aqui!
***
CEDO VI ...
Por
Helena Bandeira
Não sei qual o motivo porque escrevo,
se nem metade do que sinto eu descrevo...
P’ ra suster a solidão que nasceu comigo?
Duvido que o seja, porque não consigo!
Cedo vi... que a solidão comigo nasceu.
Cedo vi... que a tristeza em mim desceu.
Só o fogo do Amor me incitou a viver,
um fogo, uma chama que não vou reviver!
Fiz da Paixão minha divisa, meu lema
e do Amor, o meu esteio e o meu tema...
Desejos e beijos queimaram minha boca!
Hoje, a solidão impõe-se. Forte, sem peias,
sobranceira e pesada, urde suas teias...
tolhe-me... Não vê que estou ficando louca!
BAILE DE RODA
Por
Graciett Vaz
Envolto em lindas capas de cortiça
já o frio Inverno nos disse adeus
as andorinhas cortaram os céus
estão lindos os campos, metem cobiça.
É Abril, vem chegando a preguiça,
a margaça desdobra-se em lindos véus
e a água límpida que cai dos céus
a terra a bebe e com ela se enlaça.
A Primavera radiosa chama o palco do Verão
as espigas p’ rá eira que em romaria
trazem com elas, além da crença, amor e pão.
E enquanto que com muita alegria
fazem roda com mãos de gratidão
o tempo passa por nós em gestos de correria.
*
CALA-TE CORAÇÃO
Por
Perpétua Matias
Coração porque é que insistes,
o que queres fazer agora?
Choraram meus olhos tristes
foi antes, já foi outrora.
Cala-te, meu coração, cala-te,
porque me fazes sofrer?
Vives em plena aflição
mas não me vais convencer.
Andas sempre com paixões,
perturbas os meus sentidos,
eu tenho outras ambições
não te posso dar ouvidos.
Deixa-te lá de lamentos,
ser triste não me convém,
prefiro os meus pensamentos
que me levam mais além.
***
A BOCAGE
Parafraseando o Soneto
“Incultas produções da Mocidade”
Excelsos, Bocage, são teus poemas
que tua alma nos quis doar,
mas sem te libertar das algemas
que muito nos magoa e faz chorar.
A tua obra tão bela e valiosa
saiu do teu coração a sangrar
ao ver como a vida é caprichosa
afastando-te de quem mais querias amar.
E essa mão pesada do destino
que rege nossas vidas nas alturas
atravessou-te como raio ferino
cobrindo teu coração onde amarguras.
E para disfarçar tantas agonias
que tua face em sulcos marcou
atordoavas-te em falsas alegrias
até ao dia em que um anjo te falou.
A partir de agora, querido Bocage,
verás teu sofrimento terminar
o anjo ao amor abriu-te as asas
e com ele para sempre irás voar!
Celeste Reis
SEMPRE A LUTAR
No rescaldo de um sentimento, que julgamos ser amor, aprende-se lentamente a lidar com a vida, a combater as suas fatalidades e a distinguirmos a diferença dos sentimentos que nem sempre conseguimos entender.
Vê-se o ser humano com outros olhos e aprendemos a lidar com os nossos semelhantes com uma certa diplomacia, a que sou adversa, pois ela é sinónimo de cinismo.
Quando desejo ardentemente uma coisa eu luto por ela, mas se deixo de a desejar deixo-a indiferentemente escapar-me das mãos. A minha primavera da vida foi plenamente preenchida de mimosas flores, o meu outono já mais triste, teve caudal de lágrimas como folhas caídas das árvores que também choram. Todavia sinto-me quase realizada, embora a minha natural inconstância, não me deixe saber bem o que quero. Mas, quando ao raiar da aurora, meus olhos saúdam o Firmamento, eu sinto uma força vulcânica que me dita o que fazer e como fazer e vou conseguindo afinal tudo aquilo que ansiosamente pretendo.
Tenho levado uma vida inteira a lutar com muita garra, sem esmorecimento e ás vezes não sei porque luto , sei apenas que gosto de vencer as vicissitudes que a vida me apresenta.
E luto por um mundo melhor, luto por aquilo em que acredito, luto para encontrar algo que não existe senão na minha imaginação e luto porque sem luta não saberia viver.
América Miranda
Os meus links