LUZ DE OUTONO
Por
Celeste Reis
Manhã fresca de Outono
perfumada em sua aragem
contínuo desperta sem sono
até regressares da Viagem.
Há quanto tempo te espero
tua promessa não esqueci
e já no Outono da Vida
continuo a esperar por ti.
A Primavera já passou
está o Verão a chegar ao fim
mas a esperança não se apagou
vive sempre a fé em mim.
Por nós passam as Estações
são as Estações da nossa Vida
ficam-me as boas recordações
de não ser por ti esquecida.
Sei que um dia vais voltar
passaram as três Estações
a do Outono está a chegar
iluminando os nossos corações.
Breve passam as quatro Estações
a elas eu não me abandono
e mesmo em pleno Inverno
és tu a luz do meu Outono.
*
NO CAIS DA MINHA ESPERANÇA
Por
M.ª de Lourdes Agapito
Senhor de todos os mares, escuta a minha voz,
ainda há gente que ama Portugal,
este Portugal que é de todos nós,
não se pode desfazer como um punhado de sal.
É preciso, Senhor, que no cais da minha esperança
a maré encha extensa para todos,
que as ondas balancem a lembrança,
lavando as almas de limos e lodos.
É preciso, Senhor, que o mundo saiba
que fomos um País de heróis e navegadores,
no cais da minha esperança, não há água que caiba
nem há barcos sem pescadores.
Há, sim, no peito dos Portugueses,
um além-Tejo, um além-tudo, um além-mar,
raiz que deu frutos muitas vezes
e nautas destemidos pelo País a lutar!
*
**
PERLE DI SOLE
“A MIO PADRE”
Di
Giovanni Formagio
E dentro di me
e vibra com tenerezza
como il fruscio di betulle e salici piangenti
la tua vita.
Vivo
come un cespuglio di rododendri in fiore
che strappa al cielo perle di sole
è scrito qui, nele vene,
il rumore dei tuoi passi
di montanaro mai stanco.
Stupendi
come l’ alba che gioca
con la rugiada sui petali dei fiordalisi,
sono qui, nella rodura dell’ anima
i giocattoli di legno
plasmati com le tue mani
per farmi bambino felice.
È qui, nel cuore
racchiusa in un abbraccio infinito e leggero
la tua figura di vecchio sofferente
con le muie poesie sulle ginocchia
e un rigo di pianto.
Padre
hai accompagnato sottovoce i miei anni:
grande come l’ immensità del mare.
Vorrei gridare al tempo di fermarsi
perché non si spenga il dialogo
che nutre lo sorrere di questa mia vita
che continua la tua.
*
PÉROLAS DE SOL
«AO MEU PAI»
Por
Giovanni Formaggio
Está dentro de mim
e vibra com ternura
como o roçar das bétulas e dos salgueiros
a tua vida.
Vivo
como um arbusto de encaracoladas flores
que rouba ao céu pérolas de sol
está escrito aqui, mais que visto,
o rumor dos teus passos
de montanhês nunca fatigado.
Fantásticos
como a aurora que brinca
com o orvalho das suas pétalas floridas,
estão aqui, na raiz da alma,
os brinquedos de madeira
moldados pelas tuas mãos
para me fazer menino feliz.
Está aqui, no coração,
abrigada num abraço ténue e infinito
a tua imagem de velho sofredor
com a minha poesia prostrada
e um fluxo de lágrimas.
Pai
acompanhaste em silêncio meus anos:
sublime como a imensidade do mar.
Chamarei a tempo de parar
porque não se apaga o diálogo
que alimenta o deslizar desta minha vida
na continuidade da tua.
**
LÁGRIMAS
Por
Conchita Machado
Lágrimas no ar
sem dor nem cor
a deslizar!
Espaço
desfaz luar...
Lágrima leva
mágoa
treva...
Abraço aceso!
Lança beijo
com a mão...
cheio de paixão!
Entre a dor
e cor
da lua nova. In MINHA VIDA É UM POEMA
*
SÓ EM PENSAMENTO
Por
José Ribatua
Sentado em rocha húmida e fria
contemplo a imensidão do mar
a Lua se espelha em sua bruma
espalhando o seu luar
Meus pensamentos estão no Além
meu ser está todo concentrado
minha vida reflectida
nesse mar salgado
tento ver para além do horizonte
esse bem não me é dado
tento descobrir outros mundos
nesse imenso mar salgado
não vejo o que queria ver
mas também o quê não sei
sonhos que em criança tinha
hoje, só em pensamento,
os realizarei. **
CORAÇÃO AMANTE E VAGABUNDO
Por
América Miranda
Meu coração, em chamas, vagabundo
envolto em mãos níveas de luar
é triste, é alegre, é gemebundo
gritando alegria ao chorar.
É volúvel, meigo e mui profundo
quer e não é capaz de amar
procura o maior amor do mundo
e pensa nunca mais o encontrar.
Pulsa sempre muito acelerado
tão frágil e desencontrado
no seu toque leve e saltitante.
É volúvel e inquieto como o mar
dá voltas sem destino ao verbo amar
mas é afinal um grande e belo amante.
*
ESTRELAS ENCANTADAS Por Lobo Mata
Que tal amor no ar andava perdido
sem poiso, sem lugar algum onde ficar
procurando nas noites ser convertido
com alguém nos longos dias se confortar.
Acreditando nas estrelas a pedido
dum vasto auditório a confrontar
se condenou irado e pervertido
por outras, muitas, tantas estrelas por achar.
Noutros Mundos, noutros sóis, nalgum lugar
se ficaram, impunes, estrelas de alva
lua nova, escura, noite negra, sem luar.
Perdidos no tempo, pensamentos de marialva
andante ao acaso por nada já restar
senão a morte: que a vida nem sempre salva! In "Poemas Meus"
DEIXEM-ME DIZER
Por
Félix Heleno
Quando a ciência provar
e justificar todas as coisas
jamais justificará a sua existência
Deixem-me dizer que a Humanidade
ao percorrer caminhos turbulentos
hoje quase morre de ansiedade
cercada de murmúrios e lamentos.
Deixem-me dizer que é inútil
endeusar a ciência prometida
e transformar a vida em vida fútil
em troca da essência que há na vida.
Deixem-me dizer que a ciência
às vezes pode ser adulterada
se o homem é que está na sua essência
ciência sem o homem não é nada.
*
VOAR NO ESPAÇO
Por
Armando David
Tão leve como uma pena,
pequena.
Suave como uma brisa,
desliza.
Sobre uma nuvem serena,
amena.
É tudo o que a minh’ alma precisa.
Vejo mundos de formas tão belas,
a voar, o espaço me seduz;
passeando por entre as estrelas
eu mergulho na luz.
GRITO DE REVOLTA
Por
América Miranda
Por muito que se goste de uma pessoa não podemos deixar de lhe notar os defeitos e alguns chocam com os nossos sentimentos e por vezes fazem esfriar a chama que está dentro de nós. Mas, se observarmos, se analisarmos os nossos defeitos, talvez consigamos ceder um pouco aos defeitos dos outros.
Por vezes sou um pouco intolerante e não suporto a minha intolerância, procuro no ar, no infinito, em tudo o que me rodeia, algo que não consigo encontrar, algo de oculto, sublime e indefinido que não deve existir. Por isso sou inconstante. Por isso não acho o amor com que sonho, amor que povoa os meus sonhos e não existe na realidade, porque o mundo mudou, porque os sentimentos que eram lindos estão sórdidos, angustiantes e assustadores, porque impera o interesse, a sede do poder e o subir alto mas sem capacidade para alcançar o cume.
Pobre mundo, pobre Humanidade, pobres de todos nós que não conseguimos nada de nada deste universo iníquo, o qual está de rastos e no fim. Vou andando ao sabor das marés, levada pelos ventos ameaçadores de mudanças para um clima insuportável para a Humanidade aterrada e sem forças para lutar. Mas eu luto, luto muito, mas com a certeza de que não será em vão essa luta. Tenho a força da musa que me dita as palavras, a força telúrica da minha alma ainda apaixonada e crente de que vencerei, eu e outros poetas verdadeiros como eu, que querem mostrar aos outros, as torpezas e enganos de que somos alvo.
Não se deixem envaidecer pelo dom que Deus vos deu – empreguem-no na luta por um mundo melhor. Não deixem as palavras amordaçadas nas vossas bocas, façam como eu – gritem, mas gritem alto, não tenham receio de serem frontais, não sejam cínicos, fingidos, mostrem que os poetas são uns seres especiais e não devem atraiçoar nunca um dom que vos foi concedido. Lutem com a pena, lutem com a força da vossa alma por vezes torturada, mas fortalecida pela crença de que podem construir algo de novo que trará a felicidade àqueles que sofrem na carne o ferrete da injustiça e o amargo das maledicências daqueles mordidos pelo veneno letal da inveja de não serem como vós.
A MINHA DITA
Por
Fernanda de Castro
Busquei não entender o mandamento
da seta de Cupido em mim cravada;
então por esta culpa em ser culpada,
eu tive de sofrer mor sofrimento.
Desta arte meu engenho e pensamento
e minha rebeldia assignalada,
tudo curou da seta envenenada
que fez do meu doer o seu contento.
Busquei de mil bruxedos o esconjuro
julgando merecer minh’ alma aflita
a clara segurança do futuro.
E pois que esta humildade não limita
de amor o sortilégio fero e duro
farei d’ esta desdita a minha dita.
In “SONETOS”
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