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MENINO DE OLHOS TRISTES
Por
Helena Bandeira
Menino tão triste,
que pouco falas
e tudo calas,
até a fome
que te consome...
Alguma vez sorriste?
Menino tão triste,
tens pai e mãe
ou ninguém?
Quando tens dor
recebes Amor,
ou ignoras que existe?
Menino de olhos tristes,
estarás só no mundo,
poço sem fundo,
que nada te dá,
que nada te dará...
e nem sabe que existes?!
Menino de olhos tristes,
colo, terás tido?
Carícias terás sentido?
Beijos, alguém te deu,
ou sequer prometeu?
Mas estás e resistes!...
Então, tenta crer
que não estás sozinho.
Que alguém virá
e te ajudará
com generosidade
e até com carinho!
*
NÃO SEI SE O AMOR EXISTE
Por
Armando David
Não acredito no amor
porque nunca o encontrei.
Terão outros seu favor?
Não sei!
Só sei que a vida levei
numa constante procura
desse amor, feito ternura.
Como sempre imaginei
mas, não tendo essa ventura,
meu coração fica triste.
Será que o amor existe?
Não sei !
«ENSAIO CRÍTICO ANALÓGICO»
Por
Assis Machado
( 6ª ) (10ª)
Camões, grande Camões, quão semelhante ( a )
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! ( b )
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, ( b )
Arrostar co' o sacrílego gigante; ( a )
Como tu, junto ao Ganges sussurrante, ( a )
Da penúria cruel no horror me vejo; ( b )
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, ( b )
Também carpindo estou, saudoso amante. ( a )
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura ( c )
Meu fim demando ao Céu, pela certeza ( d )
De que só terei paz na sepultura. ( c )
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!... ( d )
Se te imito nos transes da Ventura, ( c )
Não te imito nos dons da Natureza. ( d )
Barbosa du Bocage
In RIMAS
I
Temos perante nós um dos mais emblemáticos e, provavelmente, um dos mais conhecidos e estudados poemas de Bocage. Esta forma e modelo de poesia é designada em todos os tratados literários universais de “Soneto”.
O Soneto (originariamente o vocábulo significava "pequeno som") é um tipo de poesia de forma fixa, ou seja, utiliza métrica (medida dos versos), esquema de rimas (forma de terminação de cada verso) e a cadência dos vocábulos (ritmo).
É geralmente composto, na sua forma textual, por 14 (catorze) versos, distribuídos por duas quadras e dois tercetos (soneto italiano). Modernamente há mais umas tantas disposições esquemáticas, todavia interessa-nos aqui a forma convencionalmente apelidada de “clássica”, que é o presente caso que nos ocupa.
O Soneto clássico integra versos decassílabos (dez sílabas poéticas) ou dodecassílabos, também chamados de alexandrinos (doze sílabas poéticas).
Também aparece muito sob a forma de 03 (três) quadras e 01 (um) dístico (dois versos). É o clássico soneto inglês ou Shakespeareano.
O esquema mais frequente de rima apresenta-se da seguinte forma: abba – abba – cde – cde. Este é o modelo comum chamado “italiano”.
Quanto às terminações dos versos existem variantes, um pouco ao sabor da inspiração e da sensibilidade estética de cada poeta.
Recordo que, na forma como estão dispostos, chamamos aos versos “a ... a” interpolados; aos versos “bb” emparelhados e aos versos “c,d,c”/ ”d,c,d” cruzados.
Na moderna poética tem-se cultivado o “soneto branco”, isto é, com catorze versos sem rima mas com métrica (versos decassilábicos e alexandrinos).
Relativamente à cadência (ou ritmo) lembramos que as formas mais convencionais, desde os tempos do seu aparecimento, são as que respeitam em cada verso a acentuação na 6ª e 10ª sílabas – versos heróicos – ou nas 4ª, 8ª e 10ª sílabas – versos sáficos.
Quanto ao nosso caso, vejamos :
a) Estrutura textual : duas quadras (quatro versos cada) e dois tercetos (três versos cada)
b) Forma rimática : a,b,b,a / a,b,b,a / c,d,c / d,c,d //
c) Forma cadencial : 6ª e 10ª sílabas, portanto, versos heróicos.
Chamo apenas a atenção para alguns artifícios/técnicas do poeta – o que poderá ser entendido como virtuosismo rítmico. Refiro-me às “sinalefas” ou às “sinéreses”.
SINALEFA é o nome que se dá ao recurso que o poeta usa para juntar a última vogal de uma palavra com a primeira vogal da palavra seguinte, formando uma só sílaba.
SINÉRESE é o nome que se dá ao recurso que o poeta usa para juntar numa só sílaba, as vogais que, dentro da palavra, gramaticalmente seriam contadas em separado.
A aparente rigidez de seus traços formais possibilitou ao Soneto chegar praticamente incólume até à actualidade. Raras excepções o modificaram para lá das formas originais que lhe deram os seus primeiros cultores: Dante, Petrarca, Sá de Miranda, Camões, Shakespeare e outros grandes clássicos.
Terá sido Francisco Petrarca quem mais contribuiu para a sua difusão pelo Ocidente Europeu.
Houve uma fase de grande desinteresse por esta forma poética. No Século XVIII poucos foram os seus cultivadores na Europa. O nosso Bocage foi uma das raras e brilhantes excepções. Todavia há um grande ressurgimento do Soneto, no Século XIX, por influência dos grandes românticos, parnasianos e simbolistas que dele se serviram com mestria. Chegado até ao Século XX veio a sofrer grande desgaste com o desprezo a que foi votado pelos modernistas – a chamada revolução do verso livre. Mas por mais estranho que pareça e contrariamente a todas as previsões de críticos literários, que lhe entoaram o “fines diae”, até alguns dos mais radicais modernistas e muitos dos actuais pós-modernistas têm contribuído para a sua regeneração e resistência. Temos alguns casos de poetas portugueses que se distinguiram neste nobre estilo. Refiro-me a Florbela Espanca, Teixeira de Pascoaes, Jorge de Sena e até o próprio Fernando Pessoa o praticou com algum sucesso. Nos nossos dias todos sabemos que grassa novamente um enorme vazio no que diz respeito à arte do Soneto. Uns porque não gostam de facto dele e o desprezam, outros porque o desconhecem e outros, ainda, por falsa postura intelectualóide: dizem que não fazem sonetos porque estão fora de moda. Quanto a nós pensamos que o que existe verdadeiramente é um gritante défice de honesto e aturado estudo, já para não falar de engenho – coisa rara nos tempos que correm.
II
Bocage versejou de muitas e variadas maneiras mas onde atingiu a sua melhor perfomance foi no Soneto. Célebres poetas e amantes deste mesmo estilo afirmaram ter sido Bocage o melhor de todos em Portugal, incluindo Camões. E foi de facto com o génio lusitano que Bocage competiu. Competiu no sonho, competiu em honesto e aturado estudo e até, por força do destino, na sua estranha forma de vida.
Não obstante a formação humanística de base de cunho neo-clássico, no que diz respeito à sua obra poética, a sua intensa e vincada personalidade, a frequente violência do seu temperamento inconfundível, matizado por uma profunda e indelével sensibilidade, a auto-dramatizada obsessão face ao destino e à morte, denunciaram e anteciparam a era Romântica.
Poderemos afirmar, sem sombra de dúvida, que a parcela mais genuína da sua obra é aquela que pode ser denominada de pré-romântica. Toda a sua poética demonstra um mundo muito pessoal e subjectivo da paixão amorosa, do sofrimento e da morte, marcas incontornáveis de génios predestinados.
E se ele, como sabemos, muito foi censurado e perseguido deveu-se, em grande parte, ao espírito mesquinho e obscuro da sua época. É que o poeta, com admirável perspicácia e intuição, punha o dedo acusador nas chagas sociais de um país de aristocracia decadente, aliada a um clero de corrupta índole.
Comprometidas ambas as classes com uma política interna e externa anacrónica para aquele momento restava aos cidadãos de boa fé uma vivência passiva e inócua e aos poetas e artistas uma resistência a toda a prova.
Também, descobre-se ali presente a exaltação do amor físico o qual, inspirado no modelo natural, e nas virtualidades do quotidiano citadino, afasta para longe todo o platonismo fictício de uma sociedade que via pecado e imoralidade em tudo o que não fosse convenientemente disfarçado.
III
E que diremos, então, nós sobre a presente comparação que Bocage faz neste Soneto “Camões, grande Camões...”, pondo-se em destaque com o seu modelo preferido?
Talvez o que Bocage admirasse realmente em Camões fosse o lado "romântico", num sentido amplo da palavra, da sua vida, do seu "fado", e o seu temperamento individualista e inconformista, no que sentia alguma semelhança consigo próprio: ambos incompreendidos, votados ao esquecimento, marginais perseguidos pela sociedade:
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Começarei, primeiramente, por destacar uma identidade e personalidade sui generis , obviamente genuína, que o coloca objectivamente passível de comparação.
Enquanto o romantismo de Camões foi subordinado pelo domínio da razão, que o classicismo maneirista impunha, Bocage – o poeta do Amor e da Liberdade – consegue sacudir as razões da razão e, embora diversificado na forma, dá livre curso ao potencial emotivo que o seu Eu possuía.
Analisando, mesmo ao de leve, o Soneto em epígrafe, direi que poderemos destacar, por exemplo, o tema. O tema é o descontentamento por se igualar a Camões apenas na infelicidade.
Mais direi que se destacam duas partes lógicas, o estado psicológico do poeta , a análise estilistica e quais os aspectos da sua vida que Bocage considera serem comparáveis aos da vida de Camões:
a) A 1ª Parte (versos 1 a 11) - O sujeito poético faz uma enumeração dos aspectos semelhantes com Camões;
b) 2ª parte (versos 12 e 14) - inesperadamente, dá conta do desgosto que sente por apenas se assemelhar ao génio nas desgraças.
O “estado psicológico” do sujeito poético sobressai pela constatação que várias semelhanças fazem sentir, ao sujeito poético, um certo conforto, na medida em que considera que alguém tão célebre e digno de mérito ("grande Camões”) teve uma existência e passos da sua vida idênticos aos seus, afirmando mesmo que Camões foi um modelo para si (v. 12).
0 sofrimento, causado pela sua vida de infortúnio, dor e desgraça é atenuado pelas semelhanças detectadas com Camões (embora deseje pôr fim a tanta infelicidade - vv. 10-11), pois é apenas no último terceto que o sujeito lírico realça o sentimento de tristeza ao dar-se conta de que o destino apenas o fez parecer-se com Camões nos aspectos negativos (vv. 12-13), não naquilo que Camões teve de grandioso, de extraordinário - o dom para a poesia (escrita). No verso 12, a exclamação completando o sentido da interjeição “Oh” confere um tom de desânimo, frustração às palavras que a seguir são proferidas.
Em poesia a expressão configura a forma, o ritmo, a sonoridade, o emprego das imagens ou das metáforas, a escolha das palavras ou das frases. É claro que o estilo também condiciona a forma, na medida em que lhe coloca marcas entre as quais o poema se vai desenvolver (isto é mais significativo no caso do Soneto).
Reparemos agora noutras particularidades:
Recursos estilísticos: a conjunção “Mas"; a apóstrofe; a repetição, o uso anteposto do adjectivo '”grande"; a metáfora (v. 4); a adjectivação expressiva (v. 5); o trocadilho (v. 7); o paralelismo antitético. Justificados pela maior expressividade dos versos requerida obviamente pelo poeta.
Aspectos semelhantes entre Bocage (motivo romântico: centralização na identidade do Eu) e Camões:
- o mesmo fado;
- a partida de Lisboa provocada por motivos semelhantes;
- o encontro com o Adamastor;
- a estada e a miséria na Índia;
- as saudades da amada;
- o ludíbrio da sorte.
Bocage afirma-se um seguidor de Camões: imitou-o na vida, entre Lisboa e a Índia, mas não conseguiu imitá-lo na capacidade de poetar. Crê-se marcado por um destino semelhante, que o levou para longe da Pátria, a saudade e a desventura; com Camões parece ter aprendido a arte do Soneto e, talvez, algumas atitudes mais conotadas com a sua personalidade.
Competindo, assim, com Camões ('Camões, grande Camões, quão semelhante / Acho teu fado ao meu, quando os cotejo') Bocage conseguiu ser um dos maiores poetas da Literatura Portuguesa, trazendo a poesia lírica para o plano terreno, quotidiano e burguês. De pés cravados no solo, agitava-o uma “doença cultural” que principiava a contagiar os espíritos mais sedentos de novos caminhos: a ânsia metafísica. Com efeito, sendo um sequioso de metafísica, sentiu-se impossibilitado de superar o fascínio que em sua imaginação e sensibilidade exerciam os estímulos da vida terrena. Por outro lado, Camões deambulava em esferas metafísicas, incapaz de ajustar-se ao mundo contingente; todavia, mesmo quando se sentia 'bicho da terra, vil e pequeno', a sua visão permanecia transcendental. Assim a poesia de Bocage irrompendo das vísceras, do sangue, dos ossos, entranha-se em sentimentos menores que procuram ardorosamente escapar de seu círculo de fogo e ascender para as regiões etéreas. Resumindo, para Camões a terra significava a dimensão do existir, ou do não-ser: para Bocage, seu terreno próprio e definitivo... Para o luso Príncipe dos Poetas, os espaços sobrenaturais constituíam a morada do ser, enquanto para o Vate Sadino se afiguravam o símbolo perfeito do inatingível.
Quando Bocage morreu, o solo já estava preparado para o advento das verdades novas trazidas pelo Romantismo. Se o seu ensinamento não foi imediatamente aproveitado, se a sua obra não foi de pronto erguida ao plano em que se encontra hoje – para gáudio dos seus imensos simpatizantes, como nós – é porque a sua língua destemperada tinha feito das suas.
F I M
LIBERDADE
Quem disse ao sol para deixar o azul do céu
e à lua que se escondesse no (fundo) mar
não queria saber quanto da vida se perdeu
pelos vindouros; querendo vos encontrar.
E desse encontro libertador renasceu
qual destino premonitório em tal lugar
rica e linda águia que demónios venceu
bem como a angústia no manifesto olhar.
Angústia altaneira qual voo de condor
dominando ciprestes entre montanhas
planando livremente, voando sem temor.
Anulando, assim, destemidamente a dor
libertada das espremidas entranhas
por amor; feita de amor; sem ódio; desamor.
Lobo Mata
In POEMAS MEUS, Lv. II
*
A FONTE E O LAGO
Meu menino, meu Diogo
verde relva, meu valado
és mar que cheira a iodo
e tens a beleza dum lago...
Lago à beira duma fonte
passarinhos vão beber
cheirando a urze do monte
de manhã ao sol nascer.
Sol que vai abraçar
a urze cheia de abelhas
que o pólen vão deixar
nos teus olhos que são estrelas!...
Eugénia Chaveiro
In DEGRAU PARA UM HORIZONTE
INCONSTÂNCIAS
Por
América Miranda
Ansiando um beijo teu
com os espaços sem fim
e quando o beijo foi meu
não teve interesse p’ ra mim.
E agora eu ando louca
querendo o teu beijo ardente
e a minha vida é tão pouca
p’ ra esperar eternamente.
E esse beijo ansiado
que uniu teus lábios aos meus
embora fosse pecado
foi uma benção dos céus.
*
PARA TI, QUERIDA
Estas flores que te dou
meu amor levar-te-ão
o calor que germinou
dentro do meu coração.
Com elas vai o perfume,
recordações acrescidas,
queimadas em brando lume
mas agora renascidas.
Junto a elas deixo a luz
e a crença que a alma tem
p’ la vida que já vivi...
Teu destino me conduz
fazendo crescer também
este meu amor por ti !
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA
Por
Assis Machado
Lançamento de “CORPO AUSENTE”, de Helena Bandeira
Helena Bandeira, Lisboa, membro efectivo da TERTÚLIA POÉTICA AO ENCONTRO DE BOCAGE.
Lançou hoje um Livro de Poemas – CORPO AUSENTE – no auditório da Junta de Freguesia de São João de Brito. Estiveram presentes, além de muitos amigos da poetisa, como América Miranda e outros, muitos tertulianos e o actor João de Carvalho.
Abriu a sessão João de Carvalho que, com toda a sua mestria, fez a leitura de alguns poemas da obra em epígrafe. O público aplaudiu com entusiasmo. Em seguida América Miranda falou sobre a autora e a obra de Helena Bandeira, bem assim o editor da Palimage Editores. Seguidamente e, para agrado do público presente, América Miranda recitou alguns poemas da autora que, na sessão de autógrafos muito teve de dar à caneta – tão grande a afluência de compradores do seu livro. A sessão terminou, como não podia deixar de ser, com um porto de honra.
Parabéns à nossa autora por parte de toda a Tertúlia Poética !
PENSANDO EM TI ...
Pensando em ti,
eu, que para ti nasci...
Pensando em ti,
e no que contigo vivi...
Pensando em ti,
e no que por ti sofri...
Pensando em ti,
pensando em mim,
pensando em nós...
E novamente,
pensando em ti,
querendo esquecer que te perdi...~
mas em ti pensando logo após...
Imediatamente,
te sinto me amando,
e a minha dor beijando...
Como num ritual divino
que me afaga,
que assim apaga,
e até esconde a minha dor...
E todo o meu ser eu ilumino...
conseguindo sentir o teu ardor,
do teu sensual beijo o sabor,
e toda a loucura do nosso Amor...
Então, saudosamente,
mas mais serenamente.
Fico te sentindo e...
PENSANDO EM TI !
Helena Bandeira,
In CORPO AUSENTE
Por
Félix Heleno
Ver historicamente uma verdade
é ter de acreditar mesmo sem ver.
Se nunca vi Camões na realidade
não o posso negar, mas posso crer.
Quem acredita em Deus sem O ter visto
vê muito mais além, noutra visão.
Assim consegue ver o próprio Cristo
na Sua transcendente dimensão.
Basta de O ver só acabrunhado
basta de O manter crucificado.
Assim nunca mais finda a Sua dor.
Basta de ficar só nessa história.
é tempo de cantar, gritar glória
e cantar mais alto ainda o Seu esplendor!
Félix Heleno
In “Grão de Pó em Sono Etéreo”
Por
António Sala
O nosso Fado que parece desgarrado,
e quantas vezes é cantado sem ter tom.
O nosso Fado que parece amargurado
é uma guitarra de gemidos sem ter som.
Cantei-te muitas vezes ao sol posto.
Tu cantavas à noite só p’ ra mim.
Transformámos a vida em desgarrada
às vezes só cantada assim, assim.
Fado vadio, muitas vezes só de amor.
Fado corrido, muitas vezes por ser dor.
Mas Fado alegre, contente por te ter,
Fado amargura, pensando em te perder.
Fado vadio que eu sou e não mereces.
Fado corrido teu corpo que apetece.
Mas Fado alegre ter-te bem junto a mim.
Será sempre cantado assim, assim.
Um Fado com guitarras de ternuras
mas também com picadinhos de amargura
desgarradas dizendo que é tão bom
afinar e cantarmos num só tom !
António Sala
In “Palavras despidas de música”
Os meus links