ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Sexta-feira, 16 de Junho de 2006
A TRIBUNA DOS POETAS - FRASSINO MACHADO e CONCHITA MACHADO
PARA SEMPRE TE AMAREI
Por mais voltas qu’ o velho mundo der
por tudo quanto, enfim, acontecer
nunca ocorrerá m’ esquecer de ti,
tu a mulher mais simples que já vi.
Tive ciúmes por ti daquelas rosas
como tu sempre belas e charmosas
não ligando aos espinhos obviamente
já que o perfume teu está presente.
Não faltam por aí amores perdidos
meu coração pela vida está desfeito
que as lágrimas secaram a preceito...
Porém, pela verdade dos sentidos,
a única certeza que eu terei
será que para sempre te amarei!
Frassino Machado
In “Odisseia da Alma”
*
CRUZ FLORIDA
Caminhos destroçados
Realidades insondáveis
Unidas na razão
Zurzida da alma.
Força originante
Levando na vaga
Oriunda da aurora
Renasce hoje
Iniciando novo rumo
De místico sinal
Agua cristalina.
Conchita Machado
In “A Minha Vida é Um Poema”
CRÍTICA BOCAGEANA - FALAM OS ESPECIALISTAS
HERNANI CIDADE 3
“... Uma armadura clássica na forma clássica herdada, mas trespassada, nas junturas, pela substância romântica temperamental em fervor. O ideal moral e o ideal estético eram os do mundo em que tinha sido formado e um e outro se aparentavam, no mesmo alto plano. Em ambos, como «primum movens», o princípio da ordem. Era ele que hierarquizava os valores sobre que assentava, na vida moral, a norma do procedimento, e na actividade estética, os cânones codificados da obra de arte.
Quanto à ordem moral, era ela autêntica vivência na alma de Bocage, mas modelando-lhe a vida apenas nos calmos momentos em que, sonhando e traduzindo seu sonho em verso, adormecia nele a libertinagem dos instintos. Pelo que toca à ordem estética, era-lhe infinitamente mais fácil o equilíbrio entre o que lhe sugeria a educação e o que lhe exigia o temperamento.
Orgulhava-se ele da sua capacidade de improvisação, mas dos seus autógrafos, tanto como das notas que faz ao emprego de um termo, ao uso de uma construção sintáctica, patenteia-se o esmero que ele punha no tratamento da forma, na correcção do improviso – na subordinação, afinal, ao magistério clássico, a cada passo invocado.
A diferença entre o Elmanismo e o Filintismo é, afinal, o diferente objectivo no tratamento da forma que a determina. Filinto procurava nos clássicos exemplos de “valentia” para a sua frase; Bocage, sobretudo lições de harmoniosa melodia e certas estruturas tão gratas ao engenho que as modela como que ao ouvido que lhes saboreia a música. Alguns exemplos :
Calada testemunha de meu pranto,
de meus desgostos secretária antiga,
«Quase perfeita» - disse eu. Apenas voluntariamente «imperfeita», na elegante inversão com que o segundo verso varia a estrutura do primeiro. Ele deseja que à hora da morte
Ganhe um momento o que perderam anos,
saiba morrer o que viver não soube.
Dois versos de construção paralela, cada um com sua antítese reciprocamente se reforçando. E reforçam-se, na verdade. O artista não diminui, em geral, com seus arranjos frásicos, o poder impressivo dos seus conceitos".
( continua )
Quinta-feira, 15 de Junho de 2006
A TRIBUNA DOS POETAS - ANTÓNIO SALA E HELENA BANDEIRA
QUANTAS VEZES
Por
António Sala
Quantas vezes, diz lá,
fui o sol do meio dia.
Quantas vezes, diz lá,
fui a sombra que havia,
fui o chão, fui o ar,
fui também africano,
fui o gelo polar,
fui o beijo do engano.
Quantas vezes, diz lá,
fui o mar do teu rio.
Quantas vezes, diz lá,
fui amarra e navio,
fui o peito e o ventre
do Adónis sonhado,
se fechavas os olhos
a um sonho trocado.
Quantas vezes, diz lá,
fui o peito e a loucura.
Quantas vezes, diz lá,
fui a tua ternura,
fui o macho, a criança,
o princípio e o fim...
fui o pulsar de ti
dentro de mim.
Quantas vezes, diz lá,
fui a cor do teu rosto.
Quantas vezes, diz lá,
meu sabor era um mosto
que bebia nos poros
e te sabia a mim
e chamaste-me fonte,
fontes de água sem fim.
Quantas vezes, diz lá,
fui canção de embalar.
Quantas vezes, diz lá,
me sorriste a chorar.
Foste favo de mel,
minha abelha rainha
e no meio do enxame
eu sabia-te minha.
*
TEMPO SEM TEMPO
Por
Helena Bandeira
Foi um tempo sem tempo
aquele nosso tempo.
Mas foi um tempo que, forçosamente,
nos fez dar tempo ao tempo...
E assim fomos ficando, sofridamente,
aguardando o nosso tempo!...
E por fim,
quase sem tempo ficámos
e pouco aproveitámos
do tempo que tanto desejámos!...
Mas, mesmo assim,
esse nosso tempo, que foi só nosso,
e esquecê-lo não posso...
Aproveitá-lo soubemos,
somando, dividindo
e multiplicando.
Desejos e sentimentos,
paixão e emoções...
Até que afinal esquecemos
os antigos sofrimentos
e as grandes decepções...
Mas o pouco tempo do nosso tempo
foi avidamente vivido,
extasiadamente sentido,
apaixonadamente mantido...
Sabíamos que aquele nosso tempo,
era... um tempo sem tempo !
ESPERANÇA EM MELHORES DIAS !

MENSAGEM
É noite, desce sobre nós o negro véu e a angústia paira sobre os solitários que não têm ninguém a seu lado com quem partilhar a sua dor. Há mulheres sós, homens sós e a noite assustadoramente longa, que insufla sofrimento nesses seres que não sabem e não podem vencer o terror de se sentirem sós. Mal clareia o dia, o sol com as seus raios abrasadores, vem atenuar esses sentimentos de dor e impotência que muitos mortais sentem.
Mas porquê sentir solidão ? Porque não tentar encetar uma luta sem tréguas para que a vida vos possa sorrir? Olhai o céu anilado salpicado de nuvens de algodão, o mar esverdeado com espuma rendilhada, a criança que sorri para a vida, o velho que ainda tem alegria de viver e assim sentir-vos-eis felizes. A vida é um bem precioso, por muito adversa que seja a vida, mesmo sem alguém a vosso lado, é sempre a vida que tereis que viver. Enxugai as vossas lágrimas e olhai as folhas das árvores que também choram e logo secam, sorrindo ao abraço carinhoso do astro solar.
Há amor e alegria em todas as pequenas coisas que nos rodeiam, há a esperança que nunca morre, mesmo quando a dor se instala na alma.
Esta é a mensagem de alguém que muito amou, de alguém que não gosta de ver os outros sofrer, de alguém que tem dentro de si uma transbordante alegria de viver e que anseia que a felicidade se instale em todos os corações.
A TRIBUNA DOS POETAS - PERPÉTUA MATIAS E MA. LOURDES AGAPITO
ILUSÃO
Por
Perpétua Matias
Abri a minha janela
para ouvir melhor o vento,
vi uma linda aguarela,
sobre a terra e o Firmamento.
Pois só Deus sabe pintar,
o céu azul estrelado,
fazer de prata o luar,
e lindas flores no prado.
A natureza chamava,
a minha alma de criança,
um rouxinol trinava,
a melodia da esperança.
No mais lindo firmamento,
já espreitava a luz do dia,
dei largas ao pensamento,
asas à minha alegria.
Corri por vales e montes,
cantei ao sol e ao mar,
paravam rios e fontes,
para me ouvir cantar.
*
O REGRESSO
Por
Ma. de Lourdes Agapito
Na margem direita do rio Ceira
a nordeste da serra da Lousã
vejo Góis monumental, verdadeira,
onde se acende o sol em cada manhã!
Um caminho aberto sem fronteira,
sobre o seu ego me sinto cristã,
tendo orgulho nas almas e bandeira
onde palpita a minh’ alma viva e sã.
Onde a luz do Sol é o olhar que me guia,
o ânimo tremulino a subir d’ alegria,
o crepúsculo a descer com magestade...
Oiço um cântico de louvor e de Paz,
oiço a voz da serra que a Góis me traz
o regresso recordando a mocidade!...