Voaste, alma inocente, alma querida,
foste ver outro sol de luz mais pura;
falsos bens desta vida, que não dura,
trocaste pelos bens da eterna vida.
Por Deus chamada, para Deus nascida,
já de vãs ilusões vives segura,
feliz a Fé te crê; mas a ternura,
co' o punhal da saudade está ferida.
Desgraçado o mortal, insano, insano,
em dar seu pranto aos fados de quem mora
no palácio do Eterno Soberano!
Perdoa, Anarda, ao triste que te adora,
tal é a condição do peito humano;
se a Razão se está rindo, Amor te chora.
DOIDO CORAÇÃO
Por
América Miranda
Quando o amor como a nuvem se desfaz
Quando a vida de resistir é capaz
Então há um florescer no nosso corpo
E o sentir desejo não está morto.
Há vida como pássaro a saltitar
Há ânsia de tudo e todos amar
O sangue jorra com tanta esperança
Que a nossa existência é bonança.
O rosto torna-se meigo e langoroso
O porvir se apresenta tão esperançoso
O coração bate mais fortemente
E o corpo é uma chama incandescente.
E tudo isto porque sinto a vida a pulsar
E o mundo inteiro quero alcançar
E com esta ânsia tão fremente
Sinto bater o coração tão doidamente.
Doido coração não pares de pulsar
Pois ainda quero um dia vir a amar.
*
PERFUME
Por
Lobo Mata
Elixires da vida brotavam
Dos seus mamilos eriçados
Fragrâncias multiculores faiscavam
Dos seus olhos azul-turquesa
Rosáceas avermelhadas bailavam
Envolvendo sua boca ardente.
Mil formas confundiam sua mente perversa,
Mil sons condenavam sua alma submersa.
Mil formas
Mil cores
Mil sons
Mil dores
Destruiam sua vida adversa.
Lobo Mata
In “PROSAS E POESIAS”
HERNÂNI CIDADE 2
“... Mais do que em qualquer outro dos escritores portugueses seus contemporâneos, teve repercussão em Bocage o agravamento profundo, naquele momento histórico vivido em todas as nações da nossa cultura, do conflito permanente entre a ordem e a liberdade. Em sua vida como em sua arte, já teremos notado que oposição semelhante resultava da educação recebida e dos impulsos do temperamento. Era assim natural fosse nele mais sensível a caótica desordem geral. No fundo, um grande momento de crise de crescimento do indivíduo, que o Iluminismo e o Enciclopedismo tinham favorecido, ao ponto de não mais caber nos velhos quadros das Instituições, desde a da Família às do Estado. No mundo clássico, uma hierarquia tradicional, abrangendo todas as relações entre a sociedade e o indivíduo, punha este na dependência dos quadros sociais prefixos e definitivos. Do nascimento à morte, o indivíduo tinha de adaptar-se a tais quadros, como figura escultórica em fachada de igreja, tomando a estatura, constrangendo-se na posição exigida pelo nicho ou cavidade a que era destinada. No mundo que em oposição lhe sucede, e que chamamos romântico, é o indivíduo que submete à sua expansão os quadros, não previamente formados, mas a formar. Passa da sociedade para o indivíduo o centro impulsor do mundo que se reorganiza.
O conflito entre as duas realidades, na hierarquia do mundo, teve repercussão no conflito entre o sentimento e a razão, na hierarquia interior, e daí a era caótica em que se viveu, até a reconquista de um novo equilíbrio – que ainda estamos longe de atingir ... Bocage, segundo o vemos na sua biografia, dá repercussão a este conflito, ele mesmo tem dentro de si, ética e esteticamente, muito de clássico e romântico. Sentimo-lo na sua biografia, acidentada das evasões de um irrequietismo constitucional de ser em oscilação, por isso mesmo em descontentamento que, radicado em si próprio, mais de uma vez julga motivado por um mundo circundante. No fundo, o sentimento doloroso do desnível entre a altura do seu ideal moral e a baixeza do seu teor de vida. Secundariamente, e no plano puramente estético, a diferença entre o seu ideal estético e seus desbordamentos e ímpetos românticos." ( continua )
O ÚLTIMO DOS HERÓIS
À memória de
Humberto Delgado
Ó ilustre e lídimo Varão de cinco estrelas
que de vezes n’ infame exílio conspiraste
e ousadamente à pobre Pátria regressaste
co’ a intenção de lhe curar suas mazelas...
Ó temerário e fiel Romeiro das vielas
conducentes ao labirinto onde chegaste
e àquela luta desigual, qu’ até ganhaste,
reduzindo ao silêncio as tristes sentinelas.
Teu honesto sonho não cumpriste fielmente
que a humana vida te levou a cobardia
daquele tirano que detinha a lusa gente.
Ó leda Pátria minha, para onde vais,
que não consegues vislumbrar a valentia
que resta ainda da memória dos heróis ?
Frassino MachadoIn MUSA VIAJANTE
Nasceu há cem anos ( em 15 de Maio de 1906 ) o protagonista da maior explosão de entusiasmo popular contra a ditadura Salazarista: Humberto Delgado. Se para os mais jovens este é apenas um nome, os mais velhos recordam-se da onda avassaladora gerada em torno da candidatura do General Sem Medo à presidência da República, em 1958, e da sua promessa de que, se vencesse, demitiria Salazar da chefia do governo. Claro que, na contagem fraudulenta dos votos, perdeu para Américo Tomás, que permaneceria no cargo até à Revolução de 25 de Abril de 1974.
De início adepto do regime, como tantos jovens dos anos trinta, Delgado cedo se aperceberia de que era bem mais nobre bater-se por outras causas. A esta evolução não terão sido estranhos os contactos com os Ingleses para a negociação da base dos Açores e a permanência nos Estados Unidos, como adido militar e representante na Nato. General aos 47 anos, apaixonado pela aeronáutica civil, foi também o fundador da TAP...
Atraído do exílio a uma emboscada, na fronteira espanhola do Alentejo, seria assassinado pela PIDE, em 1965, com foros de selvajaria. Tem sido considerado, por todas as tendências políticas e sociais, como um dos grandes heróis populares portugueses do Século XX.
(*) – De A VISÃO, Nº 689
AS RESPOSTAS ESTÃO EM TI
Por
Júlio Roberto
Tal como a flor
sem perfume
não atrai as abelhas,
assim tu não podes
esperar atrair amigos
com a tua amargura.
Veste-te de ti
e não de outro.
Saberás então
onde estão
os teus amigos!
*
DESCREVENDO A MENTIRA
Por
Armando David
Na vida há tanta mentira...
mente-se por conveniência;
há quem a use e perfira
só p' ra salvar a aparência.
Eva não mostrou juízo,
a serpente a seduzira;
com o fruto do Paraíso
disse a primeira mentira.
Mentira traz desacatos,
vindo já der longa idade;
pois até Pôncio Pilatos
não conhecia a Verdade.
Mente o rico, mente o pobre,
o canalha, gente bem;
porque a mentira algo encobre
que o saber não lhes convém.
Mentem alguns por prazer,
outros é por cobardia;
vários, p´ra se defender
daquilo que os contraria.
Mente o culto inteligente,
mente o néscio ignorante;
seja o motivo diferente
que a mentira é inconstante.
Muitos mentem a chorar,
há quem nos minta a sorrir;
as crianças, nem falar,
cedo aprendem a mentir.
E porque a mentira encerra
dentro de si falsidade,
veio Jesus Criasto à terra
ensinar-nos a Verdade.
**
A MINHA CASA
Por
Amélia Marques
A minha casa é modesta
mas há carinho e amor
entra o sol pela fresta
ilumina e dá calor.
A minha casa é modesta
tão modesta como eu
o cantinho que me resta
onde escrevo o verso meu.
Na sua simplicidade
vivo mui serenamente
embora com a saudade
do meu grande amor ausente.
Sem quaisquer ostentações
vivo à minha maneira
num caminhar de ilusões
que me segue a vida inteira.
Sou mãe e avó feliz
de seres que tanto anseio
são as minhas flores-de-liz
as pétalas onde me enleio.
*
LUZ MISTERIOSA
Por
Celeste Reis
Não é só a luz do Sol
que a nossa alma ilumnina
há outra maior que nos cega
nos faz tremer e fulmina.
Suavce, às vezes, outras forte,
até nos abana os sentidos
fazendo perder o norte
se formos por ela atraídos.
Pode durar uns segundos
ou até uma eternidade
e bem estremece os mundos
em abanões de felicidade...
Oh, luz bendita,
que as almas aqueces
porque és infinita
sensível às nossas preces.
Bela, misteriosa,
quando entras nos corações
não há outra tão luminosa
nem tão forte nas emoções...
Pois toda ela
venha do Sol ou das estrelas
é sempre bela...
pode a alma fazer florir
mas também perder o siso,
quando a sorrir
nos mandar abrir
as Portas do Paraíso !
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