ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2006
"MEU CRAVO, MINHA PAIXÃO" - MANUEL ALEGRE
CRAVO.jpg
LUSÍADA EXILADO


Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.

Há nevoeiro em mim. Dentro de abril dezembro.
Quem nunca fui é um grito na memória.
E há um naufrágio em mim se de quem fui me lembro
há uma história por contar na minha história.

Trago no rosto a marca do chicote.
Cicatrizes as minha condecorações.
Nas minhas mãos é que é verdade D. Quixote
trago na boca um verso de Camões.

Sou este camponês que foi ao mar
lavrou as ondas e mondou a espuma
e andou achando como a vindimar
terra plantada sobre o vento e a bruma.

Sou este marinheiro que ficou em terra
lavrando a mágoa como se lavrar
não fosse mais do que a perdida guerra
entre o não ser na terra e o ser no mar.

Eu que parti e que fiquei sempre presente
eu que tudo mandava e nunca fui senhor
eu que ficando estive sempre ausente
eu que fui marinheiro sendo lavrador.

Eu que fiz Portugal e que o perdi
em cada porto onde plantei o meu sinal.
Eu que fui descobrir e nunca descobri
que o porto por achar ficava em Portugal.

Eu que matei roubei eu que não minto
se vos disser que fui pirata e ladrão.
Eu que fui como Fernão Mendes Pinto
o diabo e o deus da minha peregrinação.

Eu que só tive restos e migalhas
e vi cobiça onde diziam haver fé.
Eu que reguei de sangue os campos das batalhas
onde morria sem saber porquê.

Eu que fundei Lisboa e ando a perdê-la em cada
viagem. (Pátria-Penélope bordando à espera.)
Eu que já fui Ulisses. (Ai do lusíada:
roubaram-lhe Lisboa e a primavera.)

Eu que trago no corpo a marca do chicote
eu que trago na boca um verso de Camões
eu é que sou capaz de ser o D. Quixote
que nunca mais confunda moinhos e ladrões.

Eu que fiz tudo e nunca tive nada
eu que trago nas mãos o meu país
eu que sou esta árvore arrancada
este lusíada sem pátria em Paris.

Eu que não tenho o mar nem Portugal.
(E foi meu sangue o vinho meu suor o pão.)
Eu que só tenho as lágrimas de sal
que me deixou el-rei Sebastião.

Lusíada exilado. (E em Portugal: muralhas.)
Se eu agora morresse sabia por quê.
Venham tormentas e punhais. Quero batalhas.
Eu que sou Portugal quero viver de pé.


M. Alegre, 19 - 04 - 199


publicado por assismachado às 19:42
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O COMBATE DA POESIA - "A SAGA DAS PRESIDENCIAIS"
Manuel Alegre.jpgMANUEL ALEGRE - “ O COMBATE DA POESIA ! “

É com a maior satisfação cívica que vimos manifestar o nosso respeito e homenagem pelo resultado conseguido pelo candidato e poeta português Manuel Alegre.
Ao conseguir o segundo melhor resultado destas Eleições entre seis candidatos , contra a maioria das expectativas, Manuel Alegre logrou provar que a actividade de poeta pode dignificar e valorizar, de igual modo, a integração de qualquer cidadão na sua prática comum de cidadania, mesmo que não tenha o apoio expresso de organizações políticas.
Esta sua atitude, pela sua dimensão humanista e social, mais vem dignificar a grandeza real e o papel da Poesia no concerto das Artes Nacionais. Assim os poetas portugueses – não esqueçamos que Portugal desde sempre tem sido um país de Poetas ! – aproveitem esta “vaga de fundo de auto-estima” para conquistarem aquele lugar que merecem na Cultura Portuguesa !

N. B. Biografia Síntese de Manuel Alegre :
Manuel Alegre, natural de Águeda, estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi dirigente estudantil. Mobilizado em 1962 para Angola como oficial miliciano, foi preso pela polícia política por não querer participar na guerra colonial. Depois de em 1963 regressar a Coimbra, sob o regime de residência fixa, conseguiu, no ano seguinte, desertar. Até 2 de Maio de 1974, viveu em Paris e mais tarde em Argel, onde foi locutor da emissora Voz da Liberdade. Conhecido pela actividade política, tem-se dedicado também à produção literária, com incidência particular na poesia. Em 1999, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa. E, agora, em 2006, candidatou-se à Presidência da República tendo conseguido o segundo lugar, com 20,7% dos votos
Obras: Poesia – Praça da Canção (1965), O Canto e as Armas (1967), Um Barco para Ítaca (1971), Coisa Amar (Coisas do Mar) (1976), Nova do Achamento (1979), Atlântico (1981), Babilónia (1983), Chegar Aqui (1984), Aicha Conticha (1984), Com que Pena – Vinte Poemas para Camões (1992), Sonetos do Obscuro Quê (1993), Coimbra Nunca Vista (1995), As Naus de Verde Pinho (1996), Alentejo e Ninguém (1996), Che (1997), Pico (1998), Senhora das Tempestades (1998) e Livro do Português Errante (2001).

Tertúlia Poética Ao Encontra de Bocage



publicado por assismachado às 11:16
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A TRIBUNA DOS POETAS - LOBO MATA E HELENA BANDEIRA
DRAMA DE AMOR

Por
Lobo Mata


Determinado coloquei o dedo
Entre as chagas, na ferida
Estanquei o sangue com medo
Sem medo dei vida!

Não sabendo porque o fazia
Toquei nos lábios rosados
Um sorriso que resplandecia.

Coloquei o dedo
Na ferida.

O sangue parou
O corpo floresceu
O Mundo cantou.

Estanquei o sangue com medo!

Ainda que ele não corresse;
Deixei a mão esquecida
Para que a vida se não perdesse!

Dei vida!

Dei carinho, encanto
Fiel?! Oh! Espanto
Às vezes custou muito
Por vezes, custou tanto!

Coloquei todos os dedos
Nas chagas, na ferida
Estanquei o sangue sem medos
Dei! Ganhei! Nova Vida!


Lobo Mata
In Escritos Meus II

*

PALAVRAS

Por
Helena Bandeira

Palavras soltas, palavras loucas,
palavras que se disseram,
outras que ficaram por dizer.

Como saber se foram poucas
as palavras que se disseram,
ou demais as que se calaram?

Como saber se foram as certas
as palavras que se disseram,
ou aquelas que se guardaram...

Pode a palavra dita ser perigosa...

Tanto quanto pode ser frustrante,
triste, doloroso e inquietante
a palavra que ficou por dizer.

Se essa era uma palavra carinhosa!...

Que jamais fiquem por fazer
gestos de carinho, ternura e amor...

Que jamais fiquem por dizer
as palavras ditadas pelo amor


Helena Bandeira


publicado por assismachado às 10:27
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Terça-feira, 24 de Janeiro de 2006
BOCAGE NA TV - SÉRIES TELEVISIVAS À HORA NOBRE !

BOCAGE MORA NO PAÍS ! 


ÀS SEXTAS-FEIRAS DEPOIS DO JANTAR ...


Tem estado a ser transmitida uma Série Televisiva dramática sobre a vida do poeta BOCAGE. Já decorreram dois episódios e, pelas primeiras reacções gerais do comum dos espectadores, tem tido bastante audiência. Talvez possamos retirar já algumas conclusões:


1.      Trata-se de um horário nobre com possibilidades de agradar à maioria dos espectadores ...


2.      O tema é bastante condizente com a “figura nacional”, incarnada na pessoa do poeta, o que pressupõe um certo conhecimento da opinião pública ...


3.      O emergir de um certo « mito bocageano» que vive ainda subjacente ao consciente social da nação ...


4.      A última conclusão a retirar pode ficar sob a forma de questão a pôr a quem de direito :  qual a fiabilidade/autenticidade que se poderá atribuir a esta representação? ...  É que parece que começam a surgir por aqui e além algumas reacções pondo em causa o verdadeiro rigor e historicidade do argumento desenvolvido ...


Quanto a nós apenas, para já, deveremos seguir de perto todo o desenrolar da transmissão, analisar com justeza as interpretações e, se se justificar uma intervenção nossa sobre o assunto, deveremos ir preparando a melhor estratégia para, na hora certa, dizermos de nossa justiça salvaguardando o nome e o valor do grande poeta nacional que foi ELMANO SADINO !

  Tertúlia Poética Ao Encontro de Bocage


publicado por assismachado às 12:31
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Segunda-feira, 23 de Janeiro de 2006
BOCAGE - O HUMANO IRRESISTÍVEL !

 MEU TEMOR LOUCURA


Por

Barbosa du Bocage



Em verso torneado ao som da lira

eu canto Amor, a Formosura eu canto;

por teus olhos gentis, que podem tanto,

arde meu coração, treme, suspira.


Audaz competidor, esse que aspira

de teus carinhos ao celeste encanto;

grosseiro e carrancudo, infunde espanto,

da bruta estupidez nas sombras gira.


Ao vê-lo assim, e ao ver minha amargura,

mal que ele a ti dirige a vista acesa,

todos ao meu temor chamam loucura.


Ah! Vem de alta Razão minha tristeza;

não receio o rival, temo a Ventura,

porque o pode vingar da Natureza !

 

Barbosa du Bocage, in  RIMAS



publicado por assismachado às 19:14
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EDITORIAIS BOCAGEANOS - « EM LOUVOR DE BOCAGE »

Por  América Miranda


Bocage era geralmente tido por inconstante nos seus amores. Trata-se de mais uma lenda tecida em volta do poeta. Acontecia com ele algo de estranho, infelicidade a acrescentar às suas desventuras – as mulheres cansavam-se dele rapidamente. Amava com veemência, havia decerto na vivacidade e no ardor das suas palavras um irresistível poder de sugestão, a que elas se submetiam mais dominadas do que persuadidas. Nos primeiros tempos de entusiasmo, algumas chegavam a ceder tudo àquela espécie de fauno que era o nosso poeta. No entanto, deixando-se embalar mais nos seus versos que nos seus braços, não tardavam a trocá-lo por outro mais prosaico e talvez mais apetecido para a sua feminilidade. Muitas vezes, após o abandono, o nosso Vate ficava desalentado, outras, a consumir-se em intensos ciúmes, cujas labaredas procurava apagar com fogo de outro amor. Que se poderia esperar de um génio, de um homem infinitamente superior ao resto dos mortais e terrivelmente incompreendido? Ao passar o segundo centenário da sua morte, mais uma vez eu rendo as minhas homenagens ao Vate Imortal que foi e será sempre o meu ídolo, desde os bancos de escola até à fase outonal da minha vida em que me encontro. Bocage, o teu enorme talento e o teu génio perdurarão através dos séculos.
América Miranda , In O ARAUTO DE BOCAGE, Nº 95/96. de 2005



publicado por assismachado às 19:07
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Terça-feira, 3 de Janeiro de 2006
TRIBUNA DOS POETAS - ANTÓNIO SALA E ORLANDO LIZARDO
CAMINHOS

Por
António Sala

Caminhando nas nuvens do tempo,
Sobre um campo de nuvens vivi,
Percorrendo os caminhos do vento,
Num Outono de tempo sem fim.

Sou o sol da madrugada,
Sou um sol que nunca vi,
Mas que inventei a queimar,
Brilhando dentro de mim.

Palmilhando avenidas do espaço,
Sob a luz das estrelas do além,
Percorri os caminhos da vida
E o castelo das forças do bem.

Sou a força do grito que passa,
Sou a luz que ilumina a vidraça,
Oceano dum mundo a nascer,
Verde mar que só eu hei-de ter.

Sou deserto, oasis, floresta,
Sou a fonte cantante que resta,
Primavera no Inverno do crer,
Neste Outono que é benção viver.

*

NUVEM SEM NORTE ...

Por
Orlando Lizardo

Ó nuvem solitária sem ter norte,
Instável como a vida das paixões,
Viajante, peregrina, sem ter mágoas,
Leva contigo as minhas orações.

E quando a chuva for teu fim, tua morte,
Quais lágrimas do céu as tuas águas,
Que chovam orações na minha sorte,
Refresca alheias penas, compaixões,
Afoga, em mim, a dor das minhas mágoas ...


publicado por assismachado às 19:38
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