ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Quinta-feira, 28 de Julho de 2005
A TERTÚLIA VAI DE FÉRIAS EM AGOSTO !
MENSAGEM DE AMÉRICA MIRANDA AOS TERTULIANOS
Durante o próximo mês de Agosto a TERTÚLIA POÉTICA AO ENCONTRO DE BOCAGE encerra as suas actividades regulares, bem assim as suas reuniões, para se recolher ao descanso de umas merecidas férias.
Desejo a todos os Tertulianos que as mesmas decorram segundo os seus melhores anseios e que gozem plenamente dentro da mais saudável alegria de viver.
Voltem no início de Setembro de alma disponível e de espírito aberto para repartir, convivendo, as qualidades bem assim as suas disponibilidades artísticas em benefício de todos.
Um abraço de cordial amizade da Presidente
AMÉRICA MIRANDA
TRIBUNA DOS POETAS - FÉLIX HELENO E ANTÓNIO SALA
ESCOLA VIVIDA
Por
Felix Heleno
Eu nunca fui à escola e sei escrever
Mas a escola veio a mim a cada instante
Só a vida me ensinou que p ra saber
Não basta ir à escola e ser estudante
Ser-se analfabeto é ler no vento
É escrever ao sol e ao luar
Saber ler e escrever no pensamento
O que a escola nem sempre quer ensinar
Quando algum qualquer senhor me quer dizer
Que p ra ser culto o importante é ser letrado
Que ser gente é ser diferente do que sou
Eu chego francamente a agradecer
De nunca numa escola ter entrado
E de saber tudo o que a vida me ensinou
Ser-se analfabeto é ler no vento
Saber ler e escrever no pensamento
O que a escola nem sempre quer ensinar
Não basta conhecer a teoria
Quem pensar conceber sabedoria
Tem de saber viver o verbo amar
Felix Heleno
In OLHOS DA MENTE
*
RECORDAR
Por
António Sala
Foi num dia de Setembro
Que eu te vi a medo.
Que eu te conheci.
Foi no frio de Dezembro
Que aqueci por dentro,
Ao olhar para ti.
Foi nas manhãs sem calor
Que senti nascer o amor.
Foi num dia de Fevereiro
Que olhaste p ra mim.
Foi no Março da aventura
Que despertou a ternura
Do gostar tanto de ti.
Foi no Abril do segredo
Que tu... que tu, quase a medo,
Me deste o primeiro beijo,
Enfim.
Foi no Maio dos meus cantos
Que vivemos mil encantos
Juntos de fogueira acesa
De santos e de alecrim.
E passaram alguns anos
Desde o dia inesquecível,
Em que eu acordei assim:
Senti mexer no teu ventre,
Nosso filho, sonho nosso:
Filho de ti e de mim.
Um menino nos nasceu
E bem depressa cresceu.
Mas sabemos que ele um dia
Nos irá dizer assim:
Que bom, também, recordar:
Olhar o tempo a passar
E ver um amor assim,
Continuado em mim.
Que bom, também, recordar,
Olhar o tempo a passar.
E ver os sonhos que estão
Ainda na nossa mão.
António Sala
In PALAVRAS DESPIDAS DE MÚSICA
CRÍTICA BOCAGEANA - ALMEIDA GARRETT
SEGUNDA GARRETTIANA
... A metrificação de Bocage, julgam-na sua melhor qualidade; eu, a pior; ao menos, a que piores efeitos causou. Não fez ele um verso duro, mal-soante, frouxo; porém, não são esses os únicos defeitos dos versos. As várias ideias, as diversas paixões e afectos, as distintas posições e circunstâncias do assunto, do objecto, de mil outras coisas, variada medida exigem; como exige a música vários tons e cadência. A mesma medida sempre, embora cheia e boa; o mesmo tom, embora afinado; a mesma harmonia, embora perfeita; o mesmo compasso, embora exacto, fazem monótona e insuportável a mais bela peça de música ou de poesia. E tais são os versos de Bocage, que nos pertendem dar para tipo seus apaixonados cegos: digo «cegos», porque muitos tem ele ( e nesse núnero eu me conto ) que o são, mas não cegos. Imitar com o som mecânico das vozes a harmonia íntima da ideia, suprir com as vibrações que só podem ferir a alma pelo órgão dos ouvidos, a vida, o movimento, as cores, as formas dos quadros naturais, eis aí a superioridade da poesia, a vantagem que tem sobre todas as outras belas artes; mas, quão difícil é perceber e executar esse delicadíssimo ponto. Poucos o conseguiram: Francisco Manuel foi entre nós o que mais finamente o entendeu e executou, mas nem sempre, nem cabalmente.
Porém, nos intervalos lúcidos que a Bocage deixava o fatal desejo de brilhar, nalguns instantes em que, despossesso do demónio das hipérboles e antíteses, ficava seu grande engenho a sós com a natureza e em paz com a verdade, então se via a imensidade dessa grande alma, a fina têmpera desse raro engenho que a aura popular estragou; perdeu o pouco estudo, os costumers desregrados, a miséria, a dependência, a soltura, a fome. Muitas epístolas, , vgários edílioas marítimos, algumas fábulas e epigramas, as cantatas, não são medíocres medidas de glória. Dos sonetos há grande cópia que não tem igual nem em português, nem em língua nenhuma, duma força,duma valentia, duma perfeição admirável. O resto é pequeno e pouco. A linguagem é pobre: às vezes fácil, mas em geral escassa. Sabia pouco a Língua: a força do grande instinto lhe arredava os erros; mas as belezas do idioma, só as dá e ensina o estudo. As traduções de Ovídio, Delille e Castel são primorosas.
F I M
« Ilustração Bocageana »
( Segundo Garrett )
..................
Troquem-se os choros em hinos mélicos,
Em ledos cantos as nénias fúnebres;
Desarreiguemos d alma
A seva dor anguífera.
Sim, adoremos, tácitos, tímidos,
O Deus terrível, dos homens árbitro,
Que empunha, que arremessa
O raio horrendo e rápido.
Tu, que professas virtudes sólidas,
Ah, não consintas, cristão, filósofo,
Que abale inútil mágoa
Tua constância rígida.
Bocage
In RIMAS
Quarta-feira, 27 de Julho de 2005
TRIBUNA DOS POETAS - CELESTE REIS , PERPÉTUA MATIAS E HELENA BANDEIRA
LONGE DE TI
Por
Celeste Reis
Correm cinzentos os meus dias
Sem a luz do teu olhar
E sempre que me sorrias
Eras outro sol a brilhar.
Vão-se os dias, vai-se a vida
De esperanças tão apagada
P la tristeza perseguida
Longe de ti, não sou nada.
Que sina esta, que tortura,
Sinto o coração destroçado
Vou caminhando para a loucura,
Por não te ver a meu lado.
Tanto me pesa este silêncio
Somente à Lua eu confesso
Pois só ela chora comigo
Quando companhia lhe peço...
Quando a tarde declina
E o dia chega ao fim,
Maior é a neblina
Que sinto dentro de mim...
Não sei onde pequei
Das rosas que semeei
Só espinhos eu colhi...
Queria apenas ser amada
E tenho de viver separada
Longe de ti!...
*
PRÍNCIPE ENCANTADO
Por
Perpétua Matias
És nuvem que passa,
Príncipe encantado,
Pássaro que esvoaça
E f.lor do prado.
És a lua cheia,
Folha de junquilho
Amor que enleia,
Cheirando a tomilho.
És o rosmaninho,
Quando floresce,
És o meu carinho,
Sol que me aquece.
*
UM DIA,
UMA HORA DE CADA VEZ ...
Por
Helena Bandeira
Resolvi...
Viver apenas um dia de cada vez,
Viver apenas uma hora de cada vez...
E porquê ?
Certamente, ou talvez,
Para adiar preocupações,
Para evitar precipitações...
E isso para quê ?
Para ignorar e esquecer
O amanhã...
E assim poder,
Em cada manhã,
Acordar sem sofrer...
Nada sonhando,
Nada desejando
Por nada, nada querer,
Além daquilo que se vê!...
E assim o meu novelo
Vou fiando e desfiando,
Sem desvelo nem zelo...
Um dia de cada vez,
Um momento e uma hora
De cada vez !
Helena Bandeira
CRÍTICA BOCAGEANA - ALMEIDA GARRETT
PRIMEIRA GARRETTIANA
( ... ) Bocage, a quem seu fado, por mais aventureira lhe fazer a vida, levou ao antigo teatro das glórias portuguesas, voltando da Ásia foi recebido em Lisboa entre os aplausos dos muitos admiradores que já tinha deixado na viril infância do seu talento poético. Aumentou-se esta admiração com os novos improvisos do jovem poeta, com a extrema facilidade, com o mui sonoro de seus versos. O fogo de suas ideias ateou o entusiasmo geral; a mocidade inflamou-se com o nome de Bocage: de entusiasmo degenerou em cegueira, em mania; não lhe viam já defeitos; menos ele em si mesmo. Ninguém duvidava que os improvisos dos cafés do Rossio eram superiores a todas as obras da Antiguidade, e que um soneto de Bocage valia mais que todos esses volumes de versos do século de D. João III e do de D. José. Esta era a opinião comum da mocidade; e tão geral se fez, tantas vezes a ouviu repetir o objecto de tal idolatria, que força era que a acreditasse, que com ela se desvanecesse e desvairasse.
Isso aconteceu. O temperamento irritável e ardentíssimo de Bocage o levava naturalmente às hipérboles e exagerações: essas eram as mais admiradas de seus ouvintes; requintou nelas, suboiu a ponto que se perdeu pelos espaços imaginários dea sua criação fantástica, abandonou a natureza, e a supôs acanhado elemento para o «génio». Mais ele repetia «eternidades», «mundos», «céus», «esferas», «orbes», «gorgonas», «fúrias», mais dobrava o aplauso, mais delirava ele, mais o admiravam. Ao cabo, nem ele a si, nem os outros a ele o sentiam. A par e passo que as ideias desvairavam, desvairava também o estilo, e, enfim, se reduziu a uma continuada antítese, perpétuos trocadilhos, «tours-de-force», pulos, saltos, rompantes, castelhanadas, com que se tornou monótono e ( usarei duma expressão de pintor) «amaneirado».
ADEUS, ADEUS !
Vai, vai... para sempre, adeus!
Para sempre, aos olhos meus,
Sumido seja o clarão
de tua divina estrela!
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la.
Alta está no firmamento
Demais, e demais é bela
Para o baixo pensamento
Com que, em má hora, a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci;
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão,
Donde me vem sangue às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe,
Porque é só terra e não cabe
Nele uma ideia dos céus...
Oh! vai, vai; deixa-me! Adeus!
.........................................
Oh! vai-te, vai, longe, embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... Ai! não.
E que pude, a sangue frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te mentir sem brio,
Sem alma, sem dá, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai! triste, não chores,
Não chores, anjo do céu,
Que o desonrado sou eu.
...................................
Almeida Garrett,
In FOLHAS CAÍDAS
Terça-feira, 26 de Julho de 2005
TRIBUNA DOS POETAS - ARMANDO DAVID, AMÉLIA MARQUES E CUSTÓDIA PEREIRA
RETRATO ESCRITO
Por
Armando David
Ao traçar o seu retrato
nos versos que vou fazer
a sua figura trato
tendo algo para dizer.
Ela é a mãe do meu neto,
realiza a sua vida
e distribui seu afecto
sempre na mesma medida.
A sua figura é pequena
magra, mas bem definida,
o rosto de tez morena,
uns olhos cheios de vida.
Raramente está calada,
ágil e muito mexida,
anda sempre atarefada,
resoluta e decidida.
Aqui revelando agora
uma joverm com firmeza,
já vos digo, é minha nora
o seu nome: é a Teresa !
Armando David
*
À GRANDE SENHORA DA POESIA AMÉRICA MIRANDA
Por
Amélia Marques
É Poetisa,
não poetisa qualquer
de ideias espontâneas
escreve tudo o que quer.
É Poetisa,
poetisa de bem saber
Deus lhe iluminou o espírito,
o lindo dom de escrever.
Lindos poemas escreve
ao sol, à luz e ao mar,
visitada pela musa
à hora do despertar.
Sua viveza de espírito
dá lugar ao bom humor,
mas, de grande sensibilidade,
ao carinho e ao amor.
Amélia Marques
*
AMAR
Por
Custódia Pereira
Felizes dos que amam
que sentem amor no coração
vivem a vida melhor
com muito mais emoção.
O amor lhes invade
o coração e o pensamento
sentem tanta felicidade
que não o esquecem um momento.
Mas há também os infelizes
que amam e não são amados
se sentem muito tristes
por serem ignorados.
Mas na vida tudo passa
e tudo vai desaparecendo
só o amor vai ficando
para os que vão nascendo.
Custódia Pereira
Segunda-feira, 25 de Julho de 2005
POETAS CONSAGRADOS - FILINTO ELÍSIO
FILINTO ELÍSIO
Filinto Elísio (1734 -1819), pseudónimo do Padre Francisco Manuel do Nascimento, foi um dos mais importantes poetas do Neoclassicismo português. Apesar de ser clérigo, lendo livros racionalistas franceses proibidos pela Inquisição, teve de fugir para França, exilando-se em Paris em 1778.
Estabeleceu relações de amizade com o poeta Lamartine. As suas poesias foram publicadas em Paris em onze volumes entre 1817 e 1819, seguindo-se uma segunda edição em Lisboa de vinte e dois volumes entre 1836 e 1840. Além de poeta era tradutor, vertendo para português os Mártires de Chateaubriand, as Fábulas de Lafontaine e Púnica de Sílio Itálico.
Admirador de Horácio, defensor dos ideais iluministas e enciclopedistas, e das revoluções francesa e americana, a permanência em França marcou a sua obra. Nesta lamenta o obscurantismo português, evoca a gastronomia e os costumes pátrios, retrata as dificuldades e a tristeza crescentes da sua doença e da sua velhice.
O seu estilo segue os preceitos da estética classicista arcádica, sendo um defensor enérgico do purismo da língua. Apesar deste formalismo, muitos dos seus poemas reflectem uma grande intensidade emocional, no que têm de revolta e de sofrimento pessoais, o que faz com que alguns o considerem já precursor do Romantismo. Cultivou praticamente todos os géneros da poesia clássica.
A obra de Filinto Elísio tem sido estudada por Fernando Alberto Torres Moreira, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ( Tese de mestrado com o título O Epigrama em Filinto Elísio Um Género para um Poeta, 1995) .
Têm vindo a ser publicadas desde 1998 as Obras Completas de Filinto Elísio. Fernando Moreira, professor da UTAD, com o apoio do Ministério da Cultura e do Instituto Português do Livro e da Leitura, coordenada actualmente a reedição das mesmas. Foram publicados até ao momento 4 volumes ( Filinto Elísio: Obras Completas, colecção Clássicos da Literatura Portuguesa, Braga, Edições APPACDM, 1998-1999. Edição de Fernando Moreira).
CONTO
Saiu da Samardã certo pedreiro,
faminto de ouro, em busca da fortuna.
Embarca, vai-se ao Rio, deita às Minas
e lida e fossa e sua, arranca à Terra
o luzente metal, que o vulgo adora.
Vem rico à Samardã: vinhas, searas,
casas, móveis, baixela compra fofo;
brocados veste, vai-se nos domingos
espanejar à igreja, acompanhado
de lacaios esbeltos. Vem o Cura
saudá-lo coa água benta; os mais graúdos
do lugarejo a visitá-lo acorrem;
para ele os rapapés, as barretadas
se apostavam de longe, a qual mais prestes.
Falaram-lhe os vizinhos, e a gazeta
na célebre Paris, cidade guapa,
onde todo o estrangeiro, nobre ou rico,
vai fazer seu papel. Ei-lo azoado,
que deixa a Samardã, que se apresenta
na capital francesa; roda em coche,
alardeia librés, passeia Louvres,
Versalhes, Trianões. Volta enfadado
à sua Samardã. «Gabam tal gente
de polida?! Oh, mal haja quem tal disse!
Corri casas, palácios, corri ruas;
não vi um só, nem grande, nem plebeu,
que ao passar me corteje co chapéu!»
Filinto Elísio, Obras, vol. III
DAS PEDRAS NOUTRA MARGEM
Soube das pedras das mais preciosas, diria -,
e era-o topázio no teu peito e no elevador,
de onde se via Nova Iorque envidraçado,
pensei a vida toda dos teus seios;
Quis, a cada paragem, cantar as pedras
e, num manifesto, fazer das pedras meus versos,
a cor furtada ao brilho dos meus olhos
e o néon tremeluzente, tuas mãos;
Soube-as em dedos cuidados doutras musas,
em brincos e piercings fabulosos, no trote das deusas,
pelas montras e avenidas fabulosas, soube-as lindas;
Horas que se escapam das clepsidras e são areias,
inertes que se evaporam no néon da cidade
- topázio! e continuam pedra, das pedras, em mim
Filinto Elísio,
In OBRAS
CRÍTICA BOCAGEANA - BOCAGE EM BOCA ALHEIA !
«Diversamente julgado por quem sublinha de preferência as suas qualidades ou os seus defeitos, Bocage continua a ser pomo de discórdia para a Crítica»
JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO
Têm aparecido agora dois que fizeram seita, e que contam adeptos; o primeiro é um tal Filinto
e o segundo é um tal Elmano
Nas composições dos mancebos dados a metromania não transpira outra coisa mais que o mecanismo dos versos, a cantilena, os pensamentos destacados de um, e a aspereza e pedantesca cerzidura de palavras antigas do outro. Quantos danos produz esta perniciosa mania! O primeiro é arriscarem os moços o bom êxito do seu talento relativamente às letras. Nem todos podem ter a faculdade e a inclinação análoga às maneiras e ao génio daqueles dois homens que, longe de adiantarem a beleza sólida da poesia portuguesa, a atrasaram. Eis aqui os rapazes constituídos voluntariamente em um estado de violência obrigados a bater uma estrada enquanto a natureza os chama para outra inteiramente oposta. Desta maneira algemados , não se pode esperar deles uma composição que cheire a natural
Tantos génios pois que há entre nós e tão aptos para a poesia, em lugar de se empaparem na estéril lição de Filinto e nas monotonias Elmânicas, onde se encontra sempre a triste linha recta, ou uma inalterável corda coral de prodigiosa virtude soporífica
BOCAGE AOS SEUS PRÓPRIOS VERSOS
Chorosos versos meus desentoados,
sem arte, sem beleza e sem brandura,
urdidos pela mão da Desventura,
pela baça tristeza envenenados:
Vede a luz, não busqueis, desesperados,
no mudo esquecimento a sepultura;
se os ditosos vos lerem sem ternura,
ler-vos-ão com ternura os desgraçados.
Não vos inspire, oh versos, cobardia
da sátira mordaz o furor louco,
da maldizente voz a tirania:
Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
que não pode cantar com melodia
um peito de gemer cansado e rouco.
Bocage
In RIMAS
TRIBUNA DOS POETAS - HUMBERTO DE CASTRO / EUGÉNIA CHAVEIRO
ESTE CANTO
Por
Humberto de Castro
Este Canto brota do coração da terra
e do sangue da raça
e recusa qualquer compromisso,
mas desafia que falem dele
- basta ouvi-lo em silêncio
e beberem na fonte das palavras
segredos arrancados
à musa do povo, à Academia da rua
e assim andar
de mão em mão
de boca em boca.
Este canto brota do coração
e das entranhas da terra
- este canto é o Canto do Povo !
Humberto de Castro
In POEMAS A NÚ
*
AS ESPÉCIES DE FLORES
Por
Eugénia Chaveiro
São variadas as cores!
Têm muitas aplicações
reconquistam os corações
e dão paz a tantos amores.
Eu queria poder descrever!
Contar em cada jardim
numa dimensão sem fim
tanta grandeza e poder
Há ramos feitos com arte!
Para eventos importantes
em silêncio confiantes
viagem para toda a parte!...
A quietude é a sua voz!
Sempre mudas, e a mercê
quem pisa, faz que não vê
sempre indefesas e sós
As pessoas se comparam!
Diferentes, na sua sorte
enfeitando, em vida e morte
destino que lhes ditaram
Eugénia Chaveiro
NOVOS LANÇAMENTOS - « TERRA LUSÍADA »
« TERRA LUSÍADA » - POESIA INTERNACIONAL EM PORTUGUÊS ...
ANTOLOGIA DE POESIA E TEXTOS POÉTICOS PUBLICADA POR 25 ESCRITORES DE EXPRESSÃO LUSÓFONA.
O LANÇAMENTO da Obra terá lugar a 29 de Julho - simultaneamente em São Paulo e em Lisboa e, posteriormente no Canadá.
A Sessão de Lançamento de Lisboa ocorrerá na Biblioteca Municipal das Galveias, ao Campo Pequeno, às 19 horas, do dia 29 do corrente. Esta Sessão terá a apresentação
da ilustre poetisa portuguesa AMÉRICA MIRANDA , digníssima Presidente desta Tertúlia.
Estão convidados para este Lançamento todos os Tertulianos !
Prof. Assis Machado