ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Quinta-feira, 30 de Junho de 2005
A TRIBUNA DOS POETAS - AMÉRICA MIRANDA
GRATIDÃO
Por
América Miranda
Foi um dia tormentoso
de uma angústia sem ter par
mas o momento doloroso
para longe foi pairar.
Ver um anjinho a sofrer
sem descobrir a razão
e sem lhe poder valer
sangrava meu coração.
Mas o nosso Criador,
Ente Supremo de Luz,
desceu com Seu esplendor
pondo fim àquela cruz.
Obrigado meu Senhor
pela graça concedida
nunca perdi o fervor
mesmo co a alma ferida.
E com enorme fé e muito amor
eu Vos estou grata, meu Senhor !
América Miranda
A TRIBUNA DOS POETAS - FERNANDO ELOY DO AMARAL
VIVER
Por
Fernando Eloy do Amaral
Não penses num Amor já na Saudade,
nem penses num Amor tão sempre amado,
não deixes o teu ser amargurado
só a desentender cruel verdade.
Viver é muito mais que ansiedade,
ansiar um vasto Porto desejado,
um Porto, por Amor, nunca alcançado,
perdido pela eterna imensidade.
Viver é bem sentir amado Mundo,
enfrentá-lo na dor, no sofrimento,
no prazer, a dar riso tão jucundo.
Viver é só lembrança e esquecimento,
é esse estar olhando o que é profundo,
sentindo o que é real em pensamento.
Fernando Eloy do Amaral
A TRIBUNA DOS POETAS - GRACIETT VAZ
MULHER POETA
Por
Graciett Vaz
Digo esteva,
rio, monte,
cardo, urze,
lírio, gaimão.
Digo trigo,
joio, papoila,
digo terra,
digo pão.
Digo alegria,
suor, lágrima,
charneca, fonte,
homem, mulher,
arado, foice,
infusa, saramago,
malmequer.
Digo amor,
tristura, brasa,
criança, mel,
pássaro, firmamento,
aurora, chuva, vento,
tudo o mais
que me aprouver
digo poesia
e sinto-me poeta
e mulher!
Graciett Vaz
BASES DA CULTURA MODERNA PORTUGUESA - DR. REIS BRASIL
II - UMA NOVA VISÃO CIENTÍFICA
Este alargamento do mundo espiritual pela conquista de novos campos de acção
teve o seu natural reflexo no movimento das ideias. O homem começa a sentir o
seu valor humano, por forma mais profunda. Daqui resulta um forte desejo de
emancipação e de libertação, desejo esse que se tem vindo acentuando,
através dos tempos, até produzir os problemas sociais dos nossos dias.
O homem torna-se mais cioso da sua liberdade de inteligência. Começa a criar
hábitos de crítica mais objectiva, fugindo aos princípios imaginários, ao
visionarismo dos tempos medievos. Este espírito de objectividade deu um novo
rumo à Ciência. Entre nós, dois nomes enchem a Ciência deste Século: Pedro
Nunes e Garcia da Orta. Pedro Nunes revolucionou a ciência náutica com os seus
estudos. É célebre o seu Tratado da Esfera. Garcia da Orta foi um
revolucionário nos métodos científicos com a sua importantíssima obra
«Colóquio dos Simples e Drogas da Índia». Nesta obra assinala-se o
espírito de observação do grande naturalista, que rejeita o saber livresco e
apriorístico, exigindo o experimentalismo e observação rigorosa.
Para esta nova e ampla visão da Ciência, mas da Ciência ao serviço do homem,
da Ciência como fonte de humanismo, contribuíram os Descobrimentos
Portugueses. O homem adquiriu novos horizontes, ao serem descobertos mares e
continentes ignorados. O valor destes conhecimentos poderá avaliar-se pelo
facto de que só no tempo de D. João II, isto é, durante vinte e quatro anos,
a marinha portuguesa percorreu aproximadamente 50 milhões de milhas. Desfez-se
o mito da existência do «Mar Tenebroso» , desaparecendo, para sempre, lendas
e ficções seculares. Neste tempo adopta-se como princípio o recurso à
experiência. O nosso cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira, exaltou o valor, do
conhecimento experimental nestes termos: " a experiência é a madre das
coisas; por ela soubemos radicalmente a verdade." Esmeraldo de Situ Orbi".
Os Descobrimentos foram feitos com uma ânsia de Ciência e de nova visão do
mundo, pois os nossos marinheiros obedeciam aos grandes ensinamentos
científicos da nossa Escola Náutica, conhecimentos que progrediam, dia a dia,
em virtude dos próprios ensinamentos colhidos da experiência.
Portugal contribuiu, mais que nenhum outro povo, para a formação dessa nova
visão da Ciência, porque deu elementos que serviram para muitos dos grandes
movimentos científicos, que depois se seguiram. Tudo isto prova o sentido
profundamente humano do Renascimento Português. A suprema exaltação deste
Humanismo aparece em Camões, glória incomparável deste movimento literário.
No poema OS LUSÍADAS encontraremos sempre uma defesa do conhecimento
experimental contra o saber puramente livresco dos antigos filósofos,
geógrafos e historiadores.
Graças aos Descobrimentos Portugueses, o Mundo entrou numa nova era. O saber
náutico dos nossos marinheiros, a sua acção metódica e perseverante, foram
causas do movimento científico então iniciado com o conhecimento de novos
mundos.
Prof. Dr. Reis Brasil
Quarta-feira, 29 de Junho de 2005
A TRIBUNA DOS POETAS - Mª DE LOURDES FERREIRA
A LUZ DO MEU CORAÇÃO
Por
Mª de Lourdes Ferreira
Julguei ir encontrar a luz que perdi,
a luz que só no coração existia,
no pensamento me enganei e senti
que essa luz se transformou em nostalgia.
À verdadeira realidade eu fugi,
tinha encanto que até me seduzia,
tristeza foi o que me apercebi
era o sonho de uma vida que perdi.
A alma chora, a luz se apagou,
para quê iludir assim o coração,
tudo na vida também se transformou...
Sublime e tão triste é a paixão
o coração viu a realidade, sangrou,
apenas a luz foi mera ilusão.
Mª Lourdes Ferreira
OS AMIGOS DE ITÁLIA - ACADEMIA INTERNAZIONALE « IL - CONVIVIO »
CANTA UNA CICALA
Di
Loretta Bonucci
Canta una cicala
Nella notte:
il suo canto
si perde nell' aria
e profuma di erba
tagliata da poco. .
Il cielo è stellato
e le stelle brillano
e fanno luce nel buio
e la cicala frinisce
innamorata
del cielo
CANTA UMA CIGARRA
Por
Loretta Bonucci
Canta uma cigarra
pela noite:
o seu canto
perde-se no horizonte
e no aroma da relva
Cortada há momentos.
O céu está estrelado
e as estrelas brilham
refulgentes na escuridão
e a cigarra extasiada
enamorada
do céu.
IL CONVIVIO - ( pg. 32 )
***
CANTO DELLA RIMEMBRANZA
Di
Nello Cristaudo
Una sublime voce
qual melodia soave,
simile al canto d' un usignolo sciolto,
irrompe nell' aria.
Furtiva,
mi riporta nei meandri del passato,
sprigionando il canto libero dell' amore:
dono di un istante percepito nell' irreale
e intrappolato nelle pieghe del cuore.
Pagine tristemente strappate
all' amaro diario della vita
volata via nell' attimo del sospiro:
ultima immagine dell' essere
riversate com amore
nell' incrocio degli sguardi
in un lampo pregno di dolore.
CANTO DE RECORDAÇÃO
Por
Nello Cristaudo
Uma voz sublime,
qual suave melodia,
semelhante ao canto de um distinto rouxinol,
irrompe no horizonte.
Discreta,
transporta-me aos meandros do passado,
soltando um canto de amor liberto:
privilégio de um instante apercebido no imaginário
e aprisionado numa dobra do coração.
Página arrancada com tristeza
no amargo quotidiano da vida
raio volúvel num átomo de suspiro:
última imagem do ser
derramada com amor,
no cruzamento dos olhares
e num lampejo impregnado de dor.
IL CONVIVIO - ( pg. 32 )
BASES DA CULTURA MODERNA PORTUGUESA - DR. REIS BRASIL
I - O HUMANISMO PORTUGUÊS
Por
Dr. Reis Brasil
O gosto pela Antiguidade começou a tornar-se notório através de todo o Século XV. Intensificou-se o estudo da língua latina como elemento de Cultura. Vieram humanistas estrangeiros, tais como Justo Baldino, Mateus Pisano, Cataldo Sículo e o flamengo Nicolau Clenardo. As Cartas deste escritor fornecem-nos elementos valiosos para o estudo do Humanismo e para o conhecimento da sociedade portuguesa do Século XVI.
Este amor pelo Latim já produzira os seus frutos em D. Duarte, que possuia uma biblioteca recheada de livros em latim. O Infante D. Pedro das Sete Partidas também mostrara a sua predilecção por Séneca e Cícero. D. Afonso V fora educado por humanistas.
Os estudiosos portugueses começam a frequentar as universidades estrangeiras, chegando muitos deles a ser professores notáveis, como Aires Barbosa e os três Gouveias: Diogo Gouveia, reitor da Sorbone; André Gouveia, mestre principal do Colégio de Santa Bárbara, admirado por Montaigne e António Gouveia, professor em Poitiers.
As línguas antigas foram avidamente estudadas por algumas mulheres célebres. A Infanta D, Maria correspondia-se com a mãe em Latim. Públia Hortênsia de Castro notabilizou-se na Universidade de Évora. Luisa Sigeia, conhecedora do grego, latim, hebraico e árabe, correspondia-se com Paulo III. Citaremos ainda os nomes de Joana Vaz, Paula Vicente ( filha de Gil Vicente ).
Um facto importantíssimo foi a organização do «Colégio das Artes» , a mandado de D. João III, em que foram mestres muitos portugueses célebres e alguns professores estrangeiros. Os grandes Centros de Cultura humanística, alé do Colégio das Artes, foram a Universidade, o Mosteiro de Santa Cruz e a Corte.
Muitos dos nossos escritores escreveram em Latim, sendo célebres alguns dos que escreveram versos latinos. O Pe. António dos Reis coligiu um Cancioneiro poético latino que intitulou: «Corpus Illustrium poetarum Lusitanorum». Entre esses poetas temos: Diogo de Teive, Henrique Caiado, Aquiles Estaço e André de Resende.Este foi um dos maiores humanistas do seu tempo; manteve relações intelectuais com João Vaseu, Pedro Bembo e Erasmo.
Este conhecimento da Língua e Literatura latinas e de outras línguas clássicas foi uma das determinantes do grande esplendor literário, e muito particularmente poético, do Século XVI em Portugal.
( continua )
Prof. Dr. Reis Brasil
Terça-feira, 28 de Junho de 2005
OS AMIGOS DE ITÁLIA - ACADEMIA INTERNAZIONALE « IL - CONVIVIO »
UN PO '
Di
Guglielmo Manitta
Um po' di giallo
Per fare il sole,
Un po' di rosso
Per fare il fuoco,
Un po' di verde
Per fare le foglie,
Un po' d' arancione
Per fare le arance,
Un po' di bianco
Per fare la neve,
Un po' di grigio
Per fare il fumo,
Un po' di marrone
Per fare il legno,
Per fare il cielo,
Un po' di blu
Per fare il mare,
Un po' di rosa
Per fare i fiore
Ed il mondo
È tutto colore.
IL CONVIVIO - ( pg. 13 )
UM POUCO '
por
Guglielmo Manitta
Um pouco de amarelo
para criar o sol,
um pouco de encarnado
para criar o fogo,
um pouco de verde
para criar as folhas,
um pouco de alaranjado
para criar a laranja,
um pouco de branco
para criar a neve,
um pouco de cinza
para criar o fumo,
um pouco de castanho
para criar a madeira,
um pouco de azul
para criar o céu,
um pouco de azulado
para criar o mar,
um pouco de cor-de-rosa
para criar as flores,
e todo o mundo
está repleto de cor.
IL CONVIVIO - ( pg. 13 )
***
LE RAGIONI DI GIULIA
DI
Giulia Chieffi
"Oggi è la festa della mamma.
Io sono una mamma con la lettera minuscola.
Tre figli non hanno una mamma.
Una mamma non ha tre figli.
Avrei voluto tre figli da amare
non tre figli che non mi amano.
Se torno a nascere non voglio tre figli cosi.
Se torno a nascere cosi, non voglio nascere.
Se torno a nascere, non occorre avere tre figli
per non essere amata:
basta tutto il resto per soffrire. "
A RAZÃO DE JÚLIA
Por
Giulia Chieffi
"Hoje é a festa da mãe.
Eu sou uma mãe com letra minúscula.
Três filhos não justificam (por si) uma mãe.
Uma mãe não tem três filhos (por ter).
Desejaria três filhos para amar
não três filhos sem me amar.
Se voltar a nascer não quero três filhos assim.
Se voltar a nascer, sem acontecer ter três filhos,
para não ser amada:
basta todo o resto para sofrer !"
IL CONVIVIO - ( pg. 14 )
Sábado, 25 de Junho de 2005
A TRIBUNA DOS POETAS Mª DE LOURDES AGAPITO
A TELA QUE PINTASTE
Ando a encher cântaros de paz,
de amor, luz, fé e compreensão,
na esperança de ser capaz,
de mandar embora a solidão !
Com assomos de vida que me traz,
a tela que pintaste em comunhão,
entre mundos de sonho que me faz
pulsar de poesia, meu coração.
Eu poeta e TU consagrado pintor,
TU com talento e eu com amor,
de mãos entrelaçadas a caminhar...
Entre Primaveras de Sol a pino,
ambos cumprindo o nosso destino;
TU de partida e eu a chegar !...
Mª do Lourdes Agapito
POETAS CONSAGRADOS OLAVO BILAC
PÁTRIA POR ONDE CIRCULO ...
Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por onde
circulo! E sou perfume, e sombra, e sol e orvalho!
E, em selva, ao teu clamor a minha voz responde,
e subo do teu cerne no céu, de galho em galho.
Dos teus líquens, dos teus cipós, da tua fronde,
do ninho que gorgeia em teu doce agasalho,
do fruto a amadurar que em teu seio se esconde,
de ti rebento em luz e em cânticos me espalho!
Vivo choro em teu pranto; e em teus dias felizes,
no alto, como uma flor, em ti pompeio e exulto!
E eu morto sendo tu cheia de cicatrizes,
tu golpeada e insultada eu, tremerei sepulto;
e os meus ossos no chão, como as tuas raízes,
se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto.
Olavo Bilac