ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Terça-feira, 31 de Maio de 2005
A TRIBUNA DO POETA - FÉLIX HELENO
É TEMPO DE ACORDAR
Por
Félix Heleno
Homem, não queiras ir mais para além
da dimensão que podes descobrir.
Pára, escuta, olha e pensa bem,
que ficas sempre aquém do que há-de vir.
Sonha porque o sonho é salutar.
Sem sonho não há razão de existir.
Mas vê se consegues acordar,
porque o sonho está cansado de dormir.
Sonhas com a paz, fazes a guerra.
Sonhas com um lar, destróis a terra
e dizes ao morrer: - Não existi ...
Tu sofres por ter voz e por não ter,
e recusas-te a lutar para vencer
esse animal feroz que existe em ti.
Félix Heleno
In GRÃO DE PÓ EM SONHO ETERNO
EDITORIAL BOCAGEANO - « EM LOUVOR DE BOCAGE ! »
Por
América Miranda
A minha enorme admiração por Bocage já vem dos meus tempos de adolescente influenciada por minha mãe e meu avô que o idolatravam. Ainda hoje não posso sequer ouvir chamar-lhe feio, tal como é descrito por alguns estudiosos. Não, eu imagino-o um moço de singular porte, com seus lábios finos nunca descerrados em riso, mesmo no meio de algumas das suas estúrdias, com seus grandes olhos inundados de azul e ainda o imagino com uma consciência de uma possessão transcendente que nas horas de improvisação o arrebatava para muito longe de si próprio.
Imagino-o a recitar como ele o sabia fazer, parecendo habitado pelo demónio da poesia, de pé, os olhos em brasa, os gestos em delírio e dos lábios o facílimo fluir da melodia maravilhosa, mostrando imagens brilhantes, irradiantes de calor comunicativo, havendo um crescente empolgamento em todos que o ouviam.
E eu continuo empolgada com este génio ímpar da poesia, dedicando-me à divulgação e ao estudo da sua obra, até que a vida, a coragem e a saúde me permitirem.
América Miranda
In O ARAUTO, Ano VII, nº 89/90, Junho de 2005
A TRIBUNA DOA POETAS - ARMANDO DAVID
A BATALHA TRÁGICA
Por
Armando David
O campo de batalha coberto de encarnado
a lividez da morte no rosto dos vencidos;
corpos alquebrados, contorcidos
pelo supremo esforço consumado.
Dor e desolação. Morte na alma;
a guerra é implacável no ódio e na ambição.
Ruínas deixa e, a destruição
rouba ao humano a paz e doce calma.
Mas, no meio deste cena sangrenta
em que o desgosto, o suor e o pó
tudo entristece e cobre de dó
e põe a nu a trágica tormenta;
Indiferente ao choro que fica,
uma voz se eleva por fim
dizendo, altiva, vibrante, qual clarim:
- Viva o Benfica !
Armando David
Sexta-feira, 27 de Maio de 2005
MAIS UM DESAFIO DE AMÉRICA MIRANDA ! - " A TERTÚLIA EM PESQUISA "
LIBELO BOCAGEANO AO MUNDO
- DINAMIZAÇÃO do prof. Assis Machado
Não sou vil delator, vil assassino,
ímpio, cruel, sacrílogo, blasfemo;
um Deus adoro, a eternidade temo,
conheço que há vontade e não destino.
Ao saber e à virtude a fronte inclino;
se chora e geme o triste, eu choro, eu gemo;
chamo à beneficência um dom supremo;
julgo a doce amizade um bem divino.
Amo a pátria, amo as leis, precisos laços
que mantêm dos mortais a convivência,
e de infames grilhões oiço ameaços!
Vejo-me exposto à rígida violência
mal folgo e canto e durmo nos teus braços,
amiga da Razão, pura Inocência.
Barbosa du Bocage
In RIMAS
N. B. Segue-se leitura e reflexão analítica deste Soneto, para discussão em tempo oportuno. O guião condutor ficará a cargo do prof. Assis Machado. Participam todos os Tertulianos.
CONHECER MELHOR BOCAGE - "A POLÉMICA DOS SEUS AMORES"
BOCAGE E OS SEUS AMORES
Amores, Bocage teve muitos. E isso contribuiu para que o poeta ficasse conhecido ao longo da história como namoradeiro e libertino. Em seus poemas surgem os nomes de Marília, Ritália, Márcia, Gertrúria etc. Há quem diga que todas elas são mulheres por quem o poeta se enamorou.
As duas primeiras, correspondem a Maria Margarida Rita Constâncio Alves, que alguns estudiosos apontam como a maior paixão do poeta. Márcia é um anagrana de Maria Vicencia e Gertrúria é Gertrudes Homem de Noronha, filha do governador da Torre de Outão em Setúbal, por quem o poeta se enamorou muito cedo. Devido a quantidade de versos dedicados a Gertrúria, tudo leva a crer que tenha sido ela o grande amor do poeta.
Ao seguir para a Índia, Bocage faz um poema expressando os seus sentimentos amororos:
"Ah! Que fazes, Elmano? Ah! Não te ausentes
Dos braços de Gertrúria carinhosa:
Trocas do Tejo a margem deleitosa
Por bárbaro país, bárbaras gentes?
Um tigre te gerou se dó não sentes
Vendo tão consternada e tão saudosa
A tágide mais linda e mais mimosa;
Ah! Que fazes, Elmano? Ah! Não te ausentes
(...)"
Cabe aqui uma pergunta: Se Bocage estava realmente apaixonado por Getrúria por que abandonou o seu amor e seguiu viagem para Goa?
Por receio de seus atos boêmios?
Para seguir o caminho traçado por Camões, como alguns sugerem?
Para tentar carreira militar?
Para conseguir um nome ilustre e ser digno de Gertrudes?
Todas estas são possíveis respostas para a pero caminho traçado por Camõesgunta original, mas nenhuma delas pode ser comprovada com argumentos lógicos. Segundo alguns grandes teóricos da Literatura e da História Portuguesa, não estaremos muito afastados da questão fundamental se adoptarmos como ponto de partida : "o caminho traçado por Camões" ! E sabemos quanto Bocage se identificava com o destino fatal do Grande Poeta Luso.
Considerações de
Frassino Machado
A TRIBUNA DOS POETAS - FERNANDO ELOY DO AMARAL
CONSTANTE SONHAR
Por
Fernando Eloy do Amaral
Num constante sonhar perdi a Vida
entre Sonho voraz e Realidade.
Que importa sentir dual Verdade
se é Realidade, só perdida ?
Quando a quimera fica destruída,
por se tornar em Sonho a ter saudade,
e o Sonho se transforma de ansiedade
em concreta vivência entendida
Sentimos na Razão, no Sentimento,
esse cruel remorso do não feito
em dado e raríssimo momento.
Que serve ao ser humano ser perfeito
se passa a viver sempre em lamento
e nunca bem Feliz e satisfeito ?
MEMÓRIA DOS QUE PARTIRAM - POR AMÉRICA MIRANDA
GABRIEL PAIS - ( 23- 10 - 1924 / 13 - 02 - 2005 )
«Actor Saudade»
Foi com grande pesar que assistimos à partida do nosso querido amigo GABRIEL PAIS.
Grande declamador, actor e cantor, levou a todo o lado a poesia de poetas já consagrados e também de muitos desconhecidos. A Poesia na sua voz tinha um eco diferente e a sua maneira de estar na vida foi muito especial e também muito sofrida. No início da sua carreira trabalhou no Teatro Nacional D. Maria II com os consagrados actores Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro.
Lamentamos a tua falta querido amigo GABRIEL e esperamos que estejas finalmente em paz e no lugar que mereces. As nossas saudades
América Miranda
A TRIBUNA DOS POETAS - AMÉRICA MIRANDA
A VIDA
Por
América Miranda
A vida é um enorme vendaval
que varre as emoções
traz-me o bem e o mal
destruindo as ilusões.
É um remoinho de vento
é o céu enluarado
é como um catavento
que vira p ra todo o lado.
É um querer e não querer
é um amor sem ter amor
dá alegria ao sofrer
dá-nos mágoa e amargor.
A Vida é um curto tempo
que a morte nos quer dar
alegria e sofrimento
é uma forma de estar.
Mesmo assim eu amo a Vida
com suas contradições
embora co a alma ferida
ainda tenho ilusões !
*
QUADRA DE MIM
Triste palavra a solidão
que aparece em meu caminho
faz sangrar meu coração
pela falta de um carinho !
***
América Miranda
Quarta-feira, 25 de Maio de 2005
A TRIBUNA DOS POETAS - EUGÉNIA CHAVEIRO
DESEJO DE CANTAR
Por
Eugénia Chaveiro
Quem canta seu mal espanta
diz o povo e com razão
é uma voz que se levanta
e quem fala é o coração...
Um coração a pulsar
como o relógio hora a hora
se comparam ao rodar
dos alcatruzes da nora...
A nora que tira a água
para regar a Natureza
seu rodar tem certa mágoa
junto de tanta beleza...
Essa beleza sem par
nas voltas que dela pende
é difícil de escutar
só o poeta as entende...
Esse som ensurdecido
com o tempo não esqueço
sinto entoar-me ao ouvido
para além do Universo !
Eugénia Chaveiro
In DEGRAU PARA UM HORIZONTE
"PARA QUE CONSTE" - ANTÓNIO CARVALHO
HOMENS, ARTES E TRETAS II
Por
António Carvalho
Pelo exposto anteriormente só estiveram patentes 249 trabalhos de cento e quarenta e oito artistas das várias centenas que concorreram.
Uma grande parte dos artistas portugueses ( cursados ou não ) de grande nomeada e que pertenciam ao Grupo de Artistas Portugueses foram pura e simplesmente recusados...
Assim no ano seguinte ( 1958 ) realizaram uma exposição das Obras Recusadas, num total de cem Trabalhos de trinta e nove pintores e quatro escultores. Entre os artistas excluídos estavam: Albertino Guimarães, Alda Machado Santos, Domingos Rebêlo, Fortunato Anjos, Fernando Santos ( Prémio Rocha Cabral 1929 ); António Saúde (Medalha de Honra da SNABA); João Reis, possuidor de várias medalhas internacionais, e muitos clássicos e impressionistas. Os escultores: Júlio Vaz Júnior, outra medalha de Honra da Casa dos Artistas; João da Silva, premiado em Paris, Barcelona e Rio de Janeiro, e Raúl Xavier, condecorado com o Oficialato de Cristo, na Exposição do Mundo Português.
Estávamos num período de renovação e as relações entre figurativos, abstractos e outras tendências estéticas eram hostis. No ano de 56, já nas Belas Artes se tinha realizado o Salão dos Artistas de Hoje e finalizado a Geral de Artes Plásticas. No ano seguinte ( ano da exposição da Gulbenkian ) dá-se a reforma do ensino das Belas Artes.
Ao tempo já existiam dois agrupamentos de grande mérito: o Grupo dos Artistas Portugueses GAP (1945) onde estavam muitos dos pintores e escultores já mencionados, e o Grupo Português dos Aguarelistas GPA ( 1949 ) a que pertenciam José Félix, Alberto de Sousa (vogal da Academia de Belas Artes), Mário Salvador e muitos outros mestres da especialidade.
A Gulbenkian cessa as suas exposições com a realização da 2ª Exposição deste género em 1961, passando a um intercâmbio com o estrangeiro e certames itinerantes.
António Carvalho, Do Catálogo da 1ª Exposição, 1957