ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Domingo, 13 de Fevereiro de 2005
POETAS CONSAGRADOS - António Gedeão
A POESIA É O VERBO
Por
António Gedeão
Quem me dera a mim cantar
como devia regar:
alma nua, toda nua
como a nudez dos cordeiros
ou como a Verdade e o Vento
alma em chamas, toda em chamas
como um incêndio invisível;
mãos erguidas, sem ninguém
que lhes adivinhe os gestos;
sangue das veias correndo
para o fundo dos abismos;
os olhos presos dos astros
sem que os astros o suponham;
e os pés deixando na terra
vestígios indecifráveis;
cantar adentro de mim
como se o canto não fosse
senão pureza e silêncio,
para que acima das coisas
só ficasse a palpitar
o coração do mistério.
E, dominando as palavras,
mais do que a lua as marés,
apenas se ouvisse o Verbo,
que está sempre no princípio
e sempre no fim de tudo.
Porque a poesia é só Ele !
António Gedeão
In Movimento Perpétuo
EDITORIAL BOCAGEANO - " EM LOUVOR DE BOCAGE "
Por
América Miranda
O poeta Bocage,génio incomparável, repentista sem rival, rei inconfundível do Soneto,Vate cuja obra facilmente se poderia ter guindado às alturas da Epopeia, cantor malogrado, como nele foi malograda a única radicada paixão, foi em definitivo, um desventurado, dos que vêm ao mundo predestinados para muito sofrerem. Essa predestinação explica muitas das incompatibilidades e converte em dever a reabilitação da memória de ELMANO frequentes vezes julgado com menos justiça e demasiada severidade por alguns erros que, como todos os mortais, ele cometeu. Por essa teimosia popular de não querer ou não entender o valor incontestável do Vate Sadino, a Tertúlia Poética Ao Encontro de Bocage tenta desde 1997 combater tão terrível injustiça. Assim, lenta e discretamente vai conseguindo, sem alardes, sem querer brilhar à sombra do Poeta, trazer a lume toda a sua rutilante e admirável poesia.
América Miranda
In O ARAUTO DE BOCAGE, Nº 77 / 78
Quarta-feira, 9 de Fevereiro de 2005
A TRIBUNA DOS POETAS - Humberto de Castro
NAS ONDAS DO MAR
por
Humberto de Castro
Segui as ondas do mar
com o olhar
e vi-me ao sabor delas
deslizando pelo mundo.
Nelas banhei
a minha alma
e purifiquei-me
de todos os pecados.
Senti-me limpo,
puro,
vivo,
honesto,
feliz
- outro !
E continuo a deslizar
pelas ondas do mar !
Humberto de Castro
In POEMAS A NU
TRIBUNA DOS POETAS - Maria de Lourdes Agapito
AROMA DA PALAVRA
por
Lourdes Agapito
Poeta, não demores! Segue em frente
em busca do aroma das palavras!
À terra, com amor, deita a semente
para que o mundo seja diferente
e o campo desabroche quando o lavras!
Não esperes! Olha além e vê, sem medo,
que o verso é oração fundamental!
Que o tempo, com quem falas em segredo,
se insistes, vai-te pôr em cada dedo
o canto da poesia universal!
Não esperes de ninguém, mesmo que amigo,
a frase com aroma verdadeiro!
Vê, antes, ondear o loiro trigo
e canta, braço dado a um mendigo,
que o pão, agora, é vosso, e por inteiro !
Mª de Lourdes Agapito
A TERTÚLIA ITINERANTE - « Tertúlia à moda do Minho »
Crónica de Assis Machado
Realizou-se no transacto dia cinco do corrente mais uma vez no Auditório Carlos Paredes, à Avenida Gomes Pereira, em Benfica uma muito concorrida Tertúlia "Ao Encontro de Bocage". Como era de esperar o público aderiu bem como, aliás, tem acontecido em quase todas as sessões. A razão do nosso título, em epígrafe, deve-se a que o segundo número desta Tertúlia, se baseava na actuação do Grupo Etnográfico Danças e Cantares do Minho que após a abertura inicial em que teve lugar um Diálogo Poético encenado por América Miranda e Félix Heleno, que animaram todo o público presente, tendo este último cantado duas canções a play-back se exibiu a alto nível técnico. Uma após outra foram evoluindo algumas célebres Danças do Folclore minhoto que, bem acompanhadas musicalmente pelo dito Grupo, deram brilho e dinamismo a esta Tertúlia. Terminada esta actuação subiram ao palco sucessivamente, portando-se à altura do evento, diversos tertulianos, tais como: Celeste Reis e América Miranda, com dois poemas seus cada uma, que foram muito aplaudidas pelo público. Júlio Roberto que, com o seu charme declamativo tradicional, deliciou mais uma vez o público presente. Humberto de Castro que interpretou a karaok, duas canções e declamou dois poemas de sua autoria, que muito agradaram a todos. Graciett Vaz, Francisco de Assis, Eugénia Chaveiro e Armando David. As suas actuações foram muito apreciadas. De seguida actuou, com duas canções de sua autoria, uma delas em estreia, o cantor tertuliano Francisco de Assis. Fazendo-se acompanhar à viola as suas interpretações agradaram ao público. Depois foi a vez das tertulianas Amélia Marques, Perpétua Matias e América Miranda que com alguns poemas de bom gosto encantaram o público. E novamente Humberto de Castro subiu ao palco para interpretar, também a karaok, mais duas canções desta vez de Zeca Afonso. O público gostou e acompanhou.
Para terminar e acabar em beleza América Miranda mandou subir ao palco os principais tertulianos que, em coro, e acompanhados por Francisco de Assis à viola, cantaram com entusiasmo o Hino da Tertúlia. Pelo desenrolar de todas as iniciativas, com beleza , com dinamismo e com variações interessantes de temas e de cantares, teve lugar hoje, com toda a propriedade, uma autêntica "Tertúlia à moda do Minho".
Assis Machado
Segunda-feira, 7 de Fevereiro de 2005
LANÇAMENTO TERTULIANO - Humberto de Castro
CONVITE
HUMBERTO DE CASTRO tem o prazer de comunicar que o lançamento do seu novo livro POEMAS A NU terá lugar no dia 26 de Fevereiro, pelas 15 h e 45 min, na BIBLIOTECA MUNICIPAL CAMÕES, no Largo do Calhariz, nº 17 ( junto ao elevador da Bica ).
Haverá leitura de alguns poemas pelos actores e poetas, AMÉRICA MIRANDA, ANTÓNIO FLORIANO e FÉLIX HELENO, com acompanhamento musical por FRANCISCO DE ASSIS, que também cantará alguns temas de sua autoria.
HUMBERTO DE CASTRO interpretará canções dos seus últimos discos.
A ENTRADA É LIVRE. ESPERAMOS POR SI !
EDITORIAL BOCAGEANO - "EM LOUVOR DE BOCAGE"
Por
América Miranda
Segundo o "Dicionário de Rimas Luso-Brasileiro" , de Eugénio Castilho,
"o soneto português, podemos dizer sem exagero, nasceu com Bocage e com
Bocage morreu". Também houve diversas opiniões de grandes mestres da
poesia, louvores de poeta a outro poeta, que consideraram Bocage "o máximo
cinzelador da métrica".
O nosso Vate, como todas as criaturas, viveu sua época própria, formou estilo,
imprimiu personalidade à literatura, que atravessava uma fase indecisa,
emoldurando-a, pondo-lhe rutilante sinete, que jamais se extinguirá, nem nunca
perderá o brilho. Hoje no espaço etéreo banhado de intensa luz, deve estar
sobretudo dominada pela Divina Musa da Redenção e ficará sempre na memória e no coração dos que amam a sua magnífica obra e a sua forte e ímpar personalidade.
América Miranda
In O ARAUTO DE BOCAGE, Nº 75 / 76
FALAR , FALAR, ATÉ OS ANIMAIS FALAM ...
FAMOSA GERAÇÃO DE FALADORES
Famosa geração de faladores
soa que foi, Riseu, a origem tua ;
que nem todos os cães ladrando à lua,
tiveram que fazer com teus maiores.
Um a língua ensinou aos palradores,
outro o moto contínuo achou na sua ;
outro, além de encovar toda uma rua,
açaimou numa junta a cem doutores.
Teu avô, santanário venerando,
soube mais orações que mil beatas,
com reza impertinente os céus zangando.
Teu pai foi um trovão de pataratas ;
teu tio, o bacharel, morreu falando ;
tu falando, Riseu, não morres, matas !
Barbosa du Bocage
In RIMAS