O HOMEM-ESTÁTUA
Numa tarde com sol, na Primavera,
Andava vagueando no Chiado,
Quando vi um “homem-estátua”, no passeio
Imitando a figura de Camões.
Petrificado, imóvel, permanece.
Então num movimento inesperado,
Desperta, estremece.
Alteando um rosto pálido, inspirado,
Começa a recitar, de cor, uns versos:
Sonorosas estâncias dos Lusíadas
Do seu canto primeiro.
Quem dera fosse eterno
Tão breve e belo instante
E nunca passageiro.
Em momentos dum tempo, já sem crenças,
Por vezes me convenço
Que os milagres da vida
No tormento das nossas incertezas
Nascem da fé, de sonhos, de ilusões.
E assim este “homem-estátua”, mascarado
Não sendo, até julguei que era Camões.
Ó homem mascarado,
Ó estátua de carne
Com alma de poeta,
Eu vi-te nessa tarde, no Chiado.
E se tiver em mim alguma fé
Até direi que nessa tarde eu vi
Camões ressuscitado!
Orlando Lizardo
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