IRACEMA
Não podemos abrir à descarada
Portas da nossa vida de entrar tudo,
A quem escuta, há que ficar mudo
Sabendo nossa vida devassada.
A quem vê, com visão bem aguçada,
Só há esse esconder o que é desnudo,
A quem fala, com seu ar tão sanhudo
É fingir que palavra não foi dada.
Isto de conviver tem arte rara,
E a subtil ciência só medida.
Como tudo o que é feito se repara,
Sentido criticar logo em seguida
A vida boa ou má, doce ou amara,
Tem de ser, por nós, sempre entendida.
Eloy Ferreira do Amaral
*
HÁ NO MEU PEITO UMA NASCENTE
Sinto que há no meu peito uma nascente.
Só não sei se de lágrimas, se de amor…
Será de lágrimas, pois brota em torrente,
E além disso… Conheço-lhe o sabor.
Se estas lágrimas, que antes teimosas
Pudessem abrandar a dor, o sofrimento,
Se estas lágrimas sentidas, silenciosas
Pudessem dar lugar ao esquecimento,
Talvez eu pudesse ver o que não vejo
E vir ansiar pelo que não quero ter,
Talvez eu pudesse procurar o ensejo
P’ ra esquecer tudo o que deixou de ser,
P’ ra olvidar o que sempre revejo
Ganhar coragem… E, voltar a viver!
Helena Bandeira
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