NO CAMINHO DE SANTIAGO
Mais uma vez a voar
Sobre o mar, espelho do céu,
O desejo é desbravar
O Mundo que nos acolheu.
Está tão escuro lá fora
E como tarda o chegar…
Como se anseia a aurora
Para seu esplendor desfrutar!
E eis o sol alaranjado
Que emerge de mansinho
Entre as nuvens que em bailado
Asfaltam o nosso caminho.
Vem dar-nos as boas-vindas
À nossa chegada ao Chile
E desejar-nos ainda
Um ameno mês de Abril.
Maria Clara Costa
*
PEQUENOS DEUSES CASEIROS
Pequenos deuses caseiros que brincais aos temporais,
Passam-se os dias, as semanas, os meses e os anos
E vós jograis, jogais
O jogo dos tiranos.
Pequenos deuses caseiros cantai cantigas macias
Tomai vossa morfina, perdoai vossos dinheiros,
Derramai a vossa raiva, gozai vossas tiranias,
Pequenos deuses caseiros.
Erguei vossos castelos, elegei vossos senhores,
Espancai vossos criados, violai vossas criadas,
E bebei, bebei o vinho dos traidores
Servido em taças roubadas.
Dormi em colchões de penas, dançai dias inteiros,
Comprai os que se vendem e alteai vossas janelas,
E trancai vossas portas, pequenos deuses caseiros,
Reforçai, reforçai as sentinelas.
Que é sempre um dia a menos, este dia que passa,
E cada dia a mais aumenta o preço da traição
E cada dia a mais aumenta o preço da desgraça,
E a nossa moeda não é piedade nem perdão
Porque foi temperada com todas as lágrimas da raça.
Não, pequenos deuses caseiros, não!
Sidónio Muralha
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