O ARAUTO DE BOCAGE – Verão de 2009
EDITORIAL, por América Miranda
A aventura de Manuel Maria, no Oriente, foi o princípio do fim não só porque se sentiu extremamente infeliz, mas também pela inadaptação à grave doença que o acometeu. Espírito exaltado, impaciente, de temperamento volúvel e irritável, Bocage ansiava regressar à Metrópole, depois de alguns dias de miséria em Cantão e mais tarde mitigados pela bondade do abastado comerciante Joaquim Pereira de Almeida que o admirava sobremaneira.
De novo em Lisboa, surge a vida de embriagues e sofreguidão e novamente o seu estro poético é saudado por toda a capital. Um ano após o seu regresso é publicado o I Volume das Rimas e Bocage é convidado a fazer parte da Nova Arcádia ou Academia das Belas Artes, Cenáculo Literário que se reunia às quartas-feiras em casa do Conde de Pombeiro, mas que fora fundado por Lereno, nome arcádico do padre Domingos Caldas Barbosa.
A Manuel Maria foi dado também o nome de Elmano Sadino. Todavia o palacianismo, formalismo e mediocridade dos seus pares da Academia fazem Bocage não resistir a essas frivolidades e inicia as suas hostilidades contra eles. A Nova Arcádia perde o conflito depois de expulsar Manuel Maria, mas a vingança surgiu mais tarde, quando o acusaram de herético perigos e dissoluto de costumes, com a agravante da sua simpatia pela recente Revolução Francesa.
Um génio como o nosso patrono é sempre um homem perigoso para aqueles que lhe são infinitamente inferiores. Será sempre assim através dos Séculos. A propósito, recordo este célebre, quão sofrido, Soneto de Elmano Sadino:
Enquanto muda jaz, e jaz vencida
Do sono, que a restaura, a Natureza,
Aumento de meus males a graveza,
Eu, desgraçado, que aborreço a vida.
Velando está minha alma escurecida,
Envolta nos horrores da tristeza,
Qual tocha, que entre túmulos acesa,
Espalha feia luz amortecida.
Velando está minha alma estão com ela
Velando Amor, velando a Desventura,
Algozes com que a sorte me flagela…
Preside ao acto acerbo a formosura,
Marília desleal, Marília, aquela
Que tão branda me foi, que me é tão dura.
Manuel Maria Barbosa du Bocage, in Rimas
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