ESPAÇO COLECTIVO ARTISTICO E CULTURAL - COORDENADO PELA POETISA AMÉRICA MIRANDA - E ONDE SE INSEREM AS CONTRIBUIÇÕES DE TODOS OS TERTULIANOS, TANTO EM VERSO COMO EM PROSA, COM O OBJECTIVO DE DIVULGAÇÃO E HOMENAGEM AO GRANDE POETA ELMANO SADINO !
Segunda-feira, 7 de Maio de 2007
REFLETINDO BOCAGE - MARIA DE LOURDES AGAPITO
“INTERPRETAÇÃO DE UM SONETO”
Por
M.ª de Lourdes Agapito
«Meus dias, que já foram tão luzentes,
hoje de noite opaca irmãos parecem;
meus dias miseráveis emurchecem
longe do gosto e longe dos viventes.
Horror das trevas, peso das correntes
olhos, forças me abatem, me entorpecem, e apenas por momentos me aparecem
rostos sombrios de intratáveis entes.
Pagam-se de rugosa austeridade;
antolha-se-lhe um crime, um atentado
sofrer nos corações a humanidade.
Voai, voai do céu para meu lado,
Ah! Vinde doce amor, doce amizade,
sou tão digno de vós, quão desgraçado».
Bocage
In RIMAS
Diante deste Soneto sentido e doloroso de Bocage, compreende-se o sofrimento e o conflito interior por o poeta estar privado da liberdade.
Nenhum poeta foi tão notável na rima e na métrica como Bocage. Nenhum poeta sentiu tanto o desprezo, o cárcere, a tortura, a inveja como Bocage.
O Vate era ... é um Génio. Todos os seus Sonetos são magistrais.
Bocage não morreu, vive nos nossos afectos e na nossa «Tertúlia Poética Ao Encontro de Bocage»!
A sua vida feita de grandes tropeções, de grandezas e misérias, de dores e de fascínio, são marcas que o poeta deixou na sua grande obra literária. O seu génio foi reconhecido, homenageado e acolhido pela Academia de Belas-Letras.
Na cidade do Sado, Setúbal, sua terra natal, está erguido um digno monumento, constando de uma base com quatro degraus, uma coluna de ordem Coríntia com seis metros de altura e, no topo, uma estátua de dois metros que representa o Poeta vestido com traje da época e com uma pena na mão direita e um livro na esquerda. Na inscrição pode ler-se:
A MANUEL MARIA BARBOSA
DU BOCAGE
Admiradores seus Portugueses e Brasileiros
A BOCAGE
À SUA SENSIBILIDADE E SOFRIMENTO
Nas horas de paixão viu a seu lado
os tormentos do cárcere, o desprezo,
a vingança como cruel atentado
horrores amarrados com força e peso.
Da liberdade divina, arredado
por um manhoso inferno aceso,
já bastava estar acorrentado
ainda estar de corpo e sonho preso.
Como eu compreendo o sofrimento
do Vate tão ilustre no seu tempo,
que preces fazia com humildade...
Ó meu Bocage, talentoso, soberano,
maior que todos, até que o Oceano,
Poeta que só pedia amor e amizade!...
M.ª de Lourdes
Agapito