Ó NISE !
Debalde um véu cioso, ó Nise, encobre
Intactas perfeições ao meu desejo;
Tudo o que escondes, tudo o que não vejo,
A mente audaz e a lígera descobre;
Por mais, e mais que as sentinelas dobre
A sisuda modéstia, o sério pejo,
Teus braços logro, teus encantos beijo
Por milagre da Ideia afoita, e nobre:
Inda que prémio teu rigor me negue,
Do pensamento a indómita porfia
Ao mais doce prazer me deixa entregue:
Que pode contra Amor a tirania,
Se as delícias, que a vista não consegue,
Consegue a temerária fantasia!
Bocage
In RIMAS, I
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