A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS - NA ERA PÓS - AMÉRICA MIRANDA (*)
«Em homenagem a América Miranda»
«PRESIDENTE DA TERTÚLIA»
A imensidão do mar é uma beleza
As ondas revoltas são tão lindas;
Como é bela, toda esta grandeza
Que vem das profundezas tão infindas.
A espuma no seu belo rendilhado
Vem espreguiçar-se na areia
E o céu, tristemente enevoado,
Faz lembrar o lento apagar duma candeia.
E quando já cansado da revolta
O mar se queda em imensa mansidão
A minha alma lentamente dá a volta
À tristeza do meu pobre coração.
E, então, rio, brinco e canto
E tranquila como o mar tão inconstante
Deito ao vento e ao luar todo o meu pranto
E quedo-me alegre por um instante.
Estranha contradição, ó poetisa,
Que a tua alma alegra e pisa!
América Miranda
In SEGUNDA ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
À beira-mar me sentei e por instantes meditei…
Ó como é belo usufruir de tão grande beleza!
Contemplar o verde-esmeralda
Que se estende no infinito.
Como é belo olhar o azul do céu e o sol brilhante
Que ilumina toda a terra.
E como deve ser maravilhoso contemplar
O mar à luz do luar e das estrelas
E ter, por companhia, simplesmente a noite.
Elevarei os olhos ao céu e pedirei a Deus
Que os homens se entendam
Para um mundo melhor.
Que acabem as guerras
E que haja amor e concórdia
Em toda a Humanidade!
Amélia Marques
In 2ª. ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Perguntem o que tenho e não saberei dizer,
Experiências ao longo de uma vida,
Recordações da estrada ainda por fazer,
Ou da amante que foi perdida?
Obscuras são as delícias alugadas
Que inundam e incendeiam a respiração
Das almas que se julgam deslumbradas
Na sofreguidão do latejar do coração.
Como as ondas, uma a uma, sem cessar
Deslizam pensamentos, alentos sem destino
No horizonte dum azul claro e divino.
Dolorosa é a factura que tenho que pagar
Se deslumbrado e jovial, fiquei quando te vi:
Não perguntem o que tenho, mas sim o que perdi!
António Carvalho
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Cresci numa aldeia do interior,
De casas mal pintadas.
Ruas estreitas,
Mal iluminadas
E campos floridos em redor.
Cresci numa aldeia do interior,
Onde em cada casa há uma varanda,
Vasos de barro
E flores à janela,
Um cão vadio é ali a sentinela.
Cresci numa aldeia do interior
Com uma ponte sobre o rio
E o velho moinho
Já cansado,
A mastigar o pão que mata o frio.
Cresci numa aldeia do interior
Onde uma chanfana
É carne assada
Na caçoila.
O vinho é bem tirado
E quem vier depois
Terá sempre um lugar ao nosso lado.
Minha aldeia, minha aldeia,
Avenidas de alecrim,
Fontanário de cântaros sem fim.
Minha aldeia, minha aldeia,
Sons de sino a repicar
Ou que, dolentes, avisam
Que um de nós nos vai deixar.
António Sala
In PALAVRAS DESPIDAS DE MÚSICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Em pleno céu aberto,
Paralelo dezanove,
A tempestade está perto
Relampejou e já chove.
Nuvens negras, carregadas
De insensatez, meu desgosto,
Más vontades, trovoadas,
Chuva que rola em meu rosto.
Chega o Outono da vida
Sem o calor que eu preciso:
Em vez do sol por guarida
Tenho gelo, chuva e granizo.
Armando David
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
“Para América Miranda,
Opinião generalizada dos ouvintes
Da R. R.”
Renovam-se os dias em noites
As noites em dias
Só ouvindo a tua voz
Me passam as agonias.
A tua voz
Tem o condão
De levar para longe
A minha solidão.
Só a tua voz
É uma carícia de sol
Num dia invernoso
Em verdadeiro trinado
Sussurrante, apaixonado, delicioso.
A tua voz
É uma aragem refrescante
Uma estrela cintilante
Nesta abóbada sem fim,
É uma atracção deliciosa
Que revive silenciosa
Dentro de mim…
Somente a tua voz
Dá cor aos meus dias
E me poupa as arrelias
Nesta agitada viagem
Embelezando a paisagem
Das longas invernias.
A tua voz
Não sei de onde vem
Se vem da terra ou do luar
Do oriente ou do ocidente
Só sei que, ao ouvir-te falar,
Salta o coração de contente.
Ao sentir a tua voz
Perto dos meus ouvidos
Calam-se os meus ais
Naqueles sons musicais
Que fazem delirar os sentidos.
A tua voz
É um róseo amanhecer
Que leva para longe
As mágoas do meu viver,
Mágoas do meu coração,
São como hinos nas alturas
Que dão às noites escuras
Ternura e emoção.
Porque a vida se dilui
E porque o tempo é voraz
Só quando te oiço falar
A minha mágoa se desfaz…
E no deserto sem fim
Desta alma ansiosa
Vem até mim
Uma voz melodiosa
Que deseja e tenta
Dar à minha vida cinzenta
Um tom mais cor-de-rosa.
A tua voz, é uma doce sinfonia
Um novo alvorecer
Como um toque de clarim
Que ao vibrar em mim
Ma faz renascer!
Celeste Reis
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Na Poesia encontro a paz que necessito
E assim, escrevendo, alivio a minha dor,
São frases curtas que teimo e insisto
Em demonstrar meu carinho com amor.
Ao leres o que escrevo irás pensar
Que dramatizo a sorte que Deus me deu,
Mas não me queixo, só quero desabafar,
E se choro é problema meu.
Compreende que é triste a solidão
E o amor faz falta ao coração…
Por isso não rias da minha escrita.
Um dia também a solidão te baterá à porta,
Ficarás gelada, quase morta…
E irás precisar de um carinho, acredita!
Custódia Pereira
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Eu supliquei ao tempo que parasse!
P´ ra fazer algo, que ainda não fiz,
Ao sol e às estrelas para ser feliz
À Divindade que não me abandonasse.
Ao Firmamento eu implorei compaixão!
Que escondesse o sol ao amanhecer,
Não me aquecesse logo ao nascer,
O que orvalho não perfurasse meu coração…
E assim fui suplicando, dia após dia,
Que minhas penas voassem com o vento,
Pois teimam em não escutar meu lamento,
Entoando um acorde de triste melodia.
Por mais que introduza bemóis ou sustenidos
Oiço sonorizar como um carrilhão…
Mas, neste tão amargurado coração,
Só ecoa “a sinfonia dos gemidos”…
Nos tortuosos passos, desta caminhada,
Os “sons” do meu vazio vou escutando,
Em soluços e lágrimas suspirando
Calcorreando em “Dó” até ao fim da estrada.
Eugénia Chaveiro
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Fumar é uma forma de suicídio.
É um acto tão medíocre
Que apenas antecipa a mediocridade da morte.
Cigarro, estranho vício me contenta
Álcool, estranha sede insaciável
Droga, estranha ilusão que alimenta
O prazer de ser um sonho irrealizável.
Guerra, estranha forma de matar
Ódio, estranha forma de viver
Fome, estranha forma de aceitar
A gula dos que comem por prazer.
Que estranho é viver a procurar
Toda a forma de querer sobreviver
À procura do que nunca tem sentido.
Que estranho é ser a morte a libertar
Tudo quanto foi na vida padecer
E tudo quanto nesta vida foi sofrido.
Félix Heleno
In OLHOS DA MENTE
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Mil violinos soando ao vento
São notas vivas de mil cores
As flores vão abrindo com o tempo
E vão-nos deliciando com seus odores.
E assim o nosso amor
Também vai crescendo
Como esse jardim em flor
São notas de música chovendo.
Trazem as cores do arco-íris
É chuva, é pranto, é harmonia
É um beijo que não causa dor.
Mas chovem, chovem notas dolentes
Notas cheias de alegria
E assim vai crescendo o nosso amor.
Fernanda de Carvalho
In CAMINHOS DE POESIA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
“Ao amigo A. C.”
Angústia de viver na Solidão,
Onde vivem ausências, outras Eras,
Com sabor a perdidas Primaveras
Só presentes num triste coração.
Como Real, ficou como ilusão
Sempre a beber nostálgicas quimeras
E doces inverdades tão sinceras
A perturbarem lúcida Razão.
Esse estar só, com tanta multidão
Entranhada no vasto Pensamento,
Recordando o passado com Paixão.
Que inefável Prazer e que Tormento!
Enfrenta, amigo a tua Solidão
Sem mágoa, sem tristeza, sem lamento!
Fernando Eloy do Amaral
In 2. ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Neste mundo de egoísmos foi charneira
Entre a matéria vã e o sentimento
Onde a Virtude busca o condimento
E o terreno propício à sementeira.
Foi homem bom com alma hospitaleira,
Guardando nela até o sofrimento
E a fé que ao mundo deu de alimento,
Com sorriso feliz a vida inteira.
Nos factos e tragédias sem esperança
Foi sempre aquele espírito em bonança
Pomba da Paz com ramo de oliveira…
Seu nome, todos sabem, correu mundo
Por ser o Santo Papa, João Paulo Segundo,
D´ almas eleitas a mais verdadeira!
Frassino Machado
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Fomos nós, Tertulianos,
Unidos e muito humanos,
Visitar o uno Bocage.
A Casa estava fechada,
Toda a gente magoada,
Ora esta, mas que ultraje!
Valeu-nos irmos p´ la serra
Tão velhinha na hera,
Quase parece encantada.
Suas matas e arvoredos
Sussurram-nos de segredos
E o mar ouve essa toada.
Somos uma gente honesta
Dali seguimos p´ ra festa
Cumprimos o combinado.
Não deixou de ser feérica
E, na volta, Maria América
Exaltou o Bocage amado.
Graciett Vaz
In 2. ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Palavras soltas, palavras loucas,
Palavras que se disseram,
Outras que ficaram por dizer…
Como saber se foram poucas
As palavras que se disseram,
Ou demais as que se calaram?
Como saber se foram as certas,
As palavras que se disseram,
Ou aquelas que se guardaram…
Pode a palavra dita ser perigosa…
Tanto quanto pode ser frustrante,
Triste, doloroso e inquietante
A palavra que ficou por dizer.
Se essa era uma palavra carinhosa!...
Que jamais fiquem por dizer
Gestos de carinho, ternura e amor…
Que jamais fiquem por dizer
As palavras ditadas pelo Amor!
Helena Bandeira
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Procuro encontrar uma razão
Que justifique
Eu não querer acreditar em Deus…
Há guerras e fomes,
Tantas injustiças e egoísmos,
Desavenças entre várias religiões,
Assaltos e pedofilia,
Tanta ignorância e mesquinhez…
E Deus não vê?
E Deus deixa tudo acontecer?
E eu continuo à espera
Que Ele me faça mudar de opinião
E me dê algum Motivo
P´ ra não deixar de acreditar n´ Ele!
Humberto de Castro
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Longe das pontas do infinito ainda sou,
Renasce o acontecer das coisas esquecidas
Palavras da memória, no gozo dos dias…
Nudez do grito ausente, incendiado
Pela torrente de emoções…
À saudade da chuva misteriosa
Onde cordo pela primeira vez
Do foco da solidão do pensamento.
Fico no momento do inerte…
Solipsismo da noite sem ninguém
Aqui, no critério das veredas do tempo
Esvoaçando entre as diversas emoções
Instantes de desassossego
O isto recortado, pela tempestade
E as coisas não são como se programam.
Jorge Ferro Rosa
In VADIAÇÃO POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Vale a pena fazer a viagem
Sentir a Natureza virgem
Como o mais belo coral,
Bela, pura, natural,
Pelas montanhas e florestas.
Na sua íntima pureza
O vento faz-nos festas
Refresca-nos com sua brisa,
O sol queima-nos, com seus raios,
Raios ardentes, abrasadores,
Mergulhar nos seus rios,
Cheirar o perfume das flores
É uma viagem inesquecível!...
Mas, o que é mal vai e vem
Uma destruição incrível
Cujo culpado é o homem.
Destrói tudo para a Civilização,
Civilização tão grandiosa,
Civilização tão majestosa,
Que nem sequer olha para o coração…
Nem sequer consegue reparar
Que ocupa um lugar de beleza.
Se reparasse, também não saberia parar,
Só sabe destruir o que nos dá
A mãe Natureza,
Isso sim, poder, dinheiro, Civilização…
Civilização, tu não tens coração!
Lídia Susana
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Ele cheira a terra
Tem a morte no olhar.
As palavras firmes
Os passos de matar.
Ela cheira a flores
Com doçura no olhar
As palavras meigas
O andar de matar.
Por amor
Ambos matam
Ambos morrem.
Ele e ela
Andam assim
Sempre a dar a dar.
Ele, coração duro,
Ela, coração de chorar.
Ambos morrem
De amor.
Por amor
Os dois se andam a matar.
Lobo Mata
In POEMAS MEUS
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Como seria bom
E a Humanidade feliz
Se todos dessem as mãos,
Se houvesse compreensão
E, acima de tudo, Amor…
Muito Amor e Paz…
PAZ no coração;
E a Vida deixaria de ser
A tal bola de sabão
Que se desfaz!
Como seria bom
E belo o nosso viver,
Se os que têm a mais
Pensassem nos que têm a menos
Com fraternidade.
Como seria bom!...
A Vida teria mais sentido,
Mais sabor e mais verdade!
Mª. de Lourdes Agapito
In MADRIGAL PARA A VIDA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Felicidade, onde estás?
Porque, sem querer, partiste?
Como bola de neve que se desfaz
Só de pensar em ti, fico triste.
Chora tantas vezes o coração,
Sente sangrando e está perdido,
Foi para longe a separação,
Um amor feliz, quando vivido.
Os anos vão-se alongando,
A felicidade foi p´ ra esquecer,
Vai-se andando e sonhando,
O tempo passando a correr.
E a solidão aumentando,
A cada dia que vai nascer,
Sempre me atormentando
Ficando, apenas, o entardecer…
Mª. de Lourdes Ferreira
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Dedicado à minha mulher
Reconheço que os poemas que eu já escrevi
Para muitos são poemas sem nenhum valor
Mas as palavras que no meu coração colhi
Foram sementes cuidadas com muito amor.
No seio da poesia, outro mundo eu descobri
Com alguns requintes de delicadeza e primor
E só pensando em melhorar o que já escrevi
Posso provar aos cépticos o meu real valor.
Quero aqui deixar registradas a nosso favor
Que ajudes a espalhar os meus versos por aí
Eles são o fruto de horas de dedicação e amor
A uma paixão que contigo cresceu por aqui.
Agora, termino estes meus versos, sem temor
Consciente de todos os versos que deixo aqui.
Que eles sirvam motivação a quem se propor
Á amar alguém, como eu sempre te amei a ti.
Luis Filipe Rodrigues
In MAGIA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
Subi a montanha
Esquecendo as minhas lutas,
Aquelas que eu perdi,
Mas meu pensamento teimava
Em recordar-me
Que tudo o que via era falso…
Desci devagar até à praia,
Deitei-me na areia,
Chorando mágoas, tristezas,
Dores e paixões,
E no silêncio da minha estrada
Fui caminhando…
Mas, esse, não era o caminho,
Nem o meu desejo.
Todavia, fazendo nascer a esperança
Com o desejo de chegar,
Por ali fui ficando, ficando
Muito só, em nostalgia…
Não era este o meu caminho
E a minha luta me envolveu,
Dia após dia.
Neste caminhar eu errei
E, o meu sofrimento enfrentei,
Até que o tempo passou.
Perpétua Matias
In 2.ª ANTOLOGIA DE POESIA E PROSA POÉTICA
*
A VOZ POÉTICA DOS TERTULIANOS
«Em homenagem a América Miranda»
A Amália Rodrigues
Sabe a passado e é nome de mulher
Nome simples mas cheio de magia
Sabe bem ouvir mas preciso é dizer
Que Amália é fado e que é poesia.
Chorava a cantar e assim viveu
O amor, o ciúme, a saudade sofrida
Por todo o mundo espantou e venceu
Que estranha forma de vida.
Que mistério é este que é só seu
Que não se explica e é divinal?
No fado és rainha de Portugal.
Sua voz é grande e não se perdeu
Partiu em viagem, porém é memória
Que tão bem canta a nossa história.
Rolando Amado
In CAMINHOS DE POESIA
______________________________________
(*) - O falecimento da grande poetisa América Miranda ocorreu a 27 de Setembro de 2017
Frassino Machado,
coordenador temporário desta TERTÚLIA que, entretanto - em homenagem a América Miranda se passou a chamar TERTÚLIA POÉTICA AMÉRICA MIRANDA:
https://www.facebook.com/Tertúlia-Poética-América-Miranda-129017903900018
«PRÉMIO FERREIRA DE CASTRO 2003»
“Na edição do CD_ROM comemorativo dos 25 Anos do PNLJFC, sobre a vida da nossa Associação e a Vida e Obra de Ferreira de Castro contamos com a colaboração de várias personalidades ligadas à Literatura e Cultura Portuguesa nacionais e internacionais, a saber: António Amorim; António Cândido de Mello e Souza; António Magalhães; Associação Portuguesa de Escritores; Bernard Emery; Cecília Sacramento; Clóvis Rego; Eugénio Lisboa; Eurico Alves; Fernando Cristóvão; Francisco Lyon de Castro; Ivone Bastos Ferreira; Jorge Amado; José Artur Hespanha; José Augusto França; José Carlos Vasconcelos; José Ephim Mindlin; José Sarney; Junta de Freguesia de Ossela; Luciana Steggagno Picchio; Márcio de Souza; Maria de Belém de Menezes; Maria de Lourdes Agapito; Maria Luísa Tavares Bastos; Matilde Rosa Araújo; Nelly Novaes Coelho; Óscar Lopes; Pedro Calheiros; Ricardo António Alves; Urbano Tavares Rodrigues e Vítor Martins.”
POEMAS DA POETISA LAUREADA
POBRE HUMANIDADE
Como gostaria de odiar
E não sou capaz;
Ao menos detestar
Esta Humanidade
Da qual faço parte,
Odiar aqueles que só querem para si
E não se podem baixar,
Mesmo sem dores nas costas,
Mas por snobismo.
Ah, Sociedade,
Para onde caminhas?
Em vez de ofereceres felicidade,
Amor, comunhão, fraternidade,
Constróis abismos, distâncias, desunião,
Com alma de gás
E corpo de pez.
Ah, pobre Humanidade,
Não foi assim, não,
Que DEUS te fez!
*
SORTE
SORTE! Sei lá se tu existes,
Só sei que não te encontro.
Luto para te ter,
Trabalho sem descansar,
Preciso de ti para viver
E não te consigo alcançar.
SORTE! Sei lá se tu existes,
Sim, sei lá…
Talvez quando eu rasgar o chão
E tiver montes de flores,
Uma lápide pintada
Longe da multidão,
Silenciosa e apagada,
Eu, que sinto medo da solidão,
Talvez nessa altura, seja compreendida
E a minha Poesia
Tenha “sorte póstuma”
E eu seja lembrada um dia.
*
QUERIA MORAR
Queria morar
Num Céu de luzes coesas
Acesas
Por mãos justas e verdadeiras.
Queria morar
Onde todos fossem felizes
Dias e noites inteiras.
Queria morar
Numa gruta de silêncio,
Num moinho de vento,
Num lugar para toda a gente,
Cheio de humanidade,
Paz e entendimento.
Queria morar
Em qualquer lado,
Onde ainda não vivi,
Onde nascessem flores, muitas flores.
Queria morar
Longe dos ruídos da cidade,
Pertinho do mar.
Queria morar
Apenas morar, meu amor,
Dentro de ti!
*
SOU UM PARADOXO
Brinco, salto, rio e canto
Como se fosse criança,
E dentro de mim há pranto,
Há tempestade e bonança.
A vida que eu amo tanto
E que é feita de esperança,
Tem e não tem seu encanto
Sendo mulher, sou criança.
Tudo o que sinto tem nexo,
Sinto em mim um complexo,
E levo tudo a brincar…
Sinto de tudo saudade,
Vejo em tudo felicidade
E passo a vida a chorar…
Maria de Lourdes Agapito
In MADRIGAL PARA A VIDA
***
Maria de Lourdes Agapito:
www.tertuliabocage.blogs.sapo.pt
http://facebook.com/atelierpoetico.frassino
https://facebook.com/pages/tertulia-poetica-ao-encontro-de-bocage/129017903900018
«O Príncipe dos Poetas Germânicos»
PROÉMIO
Em nome daquele que a Si mesmo se criou!
De toda eternidade em ofício criador;
Em nome daquele que toda a fé formou,
Confiança, actividade, amor, vigor;
Em nome daquele que, tantas vezes nomeado,
Ficou sempre em essência incorporado:
Até onde o ouvido e o olhar alcançam,
A Ele se assemelha tudo o que conheces,
E ao mais alto e ardente voo do teu 'spírito
Já basta esta parábola, esta imagem;
Sentes-te atraído, arrastado alegremente,
E, onde quer que vás, tudo se enfeita em flor;
Já nada contas, nem calculas já o tempo,
E cada passo teu é já imensidade.
*
Que Deus seria esse então que só de fora impelisse,
E o mundo preso ao dedo em volta conduzisse!
Que Ele, dentro do mundo, faça o mundo mover-se,
Manter Natureza em Si, e em Natureza manter-Se,
De modo que ao que nele viva e teça e exista
A Sua força e o Seu génio assista.
*
Dentro de nós há também um Universo;
Daqui nasceu nos povos o louvável costume
De cada qual chamar Deus, mesmo o seu Deus,
A tudo aquilo que ele de melhor em si conhece,
Deixar à Sua guarda céu e terra.
Ter-Lhe temor, e talvez mesmo — amor.
Johann Wolfgang von Goethe,
in "Últimos Poemas do Amor, de Deus e do Mundo",
Tradução de Paulo Quintela
*
AGORA ME SINTO ALEGRE E INSPIRADO
Agora me sinto alegre e inspirado em chão clássico;
Mundo de outrora e de hoje mais alto e atraente me fala.
Aqui sigo eu o conselho, folheio as obras dos velhos
Com mão diligente, cada dia com novo prazer.
Mas, noites fora, Amor me mantém noutra ocupação;
Se apenas meio me instruo, dobrada é minha ventura.
E acaso não é instruir-me, quando as formas dos seios
Adoráveis espio e a mão pelas ancas passeio?
Compreendo então bem o mármore; penso e comparo,
Vejo com olhar tacteante, tacteio com mão que vê.
E se a Amada me rouba algumas horas do dia,
Em recompensa me dá as horas todas da noite.
Nem sempre beijos trocamos; falamos sensatos;
Se o sono a assalta, fico eu deitado a pensar muitas
coisas.
Vezes sem conto eu tenho também poetado em seus
braços
E baixo contado, com mão dedilhante, a medida
hexamétrica
No seu dorso. Em sono adorável respira,
E o seu hálito o peito me acende até à raiz.
O Amor atiça a candeia entretanto e pensa nos tempos
Em que aos Triúnviros seus o mesmo serviço prestava.
Johann Wolfgang von Goethe,
in "Elegias Romanas"
Tradução de Paulo Quintela
GOETHE, Wolfgang - 1749 - 1832
BIOGRAFIA
Goethe era formado em Direito e chegou a actuar como advogado por pouco tempo. Como sua paixão era a literatura, resolveu dedicar-se a esta área. Fez parte de dois movimentos literários importantes: romantismo e expressionismo. Apresentou também um grande interesse pela pintura e desenho.
No ano de 1786 foi para a Itália, onde morou por dois anos. Neste período escreveu importantes obras como, por exemplo, Torquato Tasso (drama), Ifigênia em Taúrides (peça de teatro) e as Elegias Romanas.
Porém, sua grande obra foi o poema Fausto, escrito em 1806. Baseada numa lenda, esta obra relata a vida de Dr. Fausto, que vendeu a alma para o diabo em troca de prazeres terrenos, riqueza e poderes ilimitados.
Em 1806 casou-se com Christiane Volpius, que faleceu dez anos depois.
Escreveu também sobre temas científicos. Defendia uma nova explicação para a teoria das cores, em oposição à defendida por Isaac Newton. Demonstrou também grande interesse por botânica e pela origem das formas de vida (animal e vegetal). Alguns pesquisadores afirmam que seus estudos abriram caminho para o darwinismo e evolucionismo (teoria da Evolução das Espécies).
Principais obras de Goethe
- Götz von Berlichingen - 1773
- Prometheus - 1774
- Os Sofrimentos do Jovem Werther - 1774
- Egmont - 1775
- Ifigênia em Taúrides - 1779
- Torquato Tasso - 1780
- Reineke Raposo - 1794
- Xenien (em conjunto com Friedrich Schiller) - 1796
- Fausto - 1806
- Hermann e Dorothea - 1798
- Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister - 1807
- Faust II – 1833
Frases célebres de Goethe
- "A idade não nos torna adultos. Não! Faz de nós verdadeiras crianças."
-"Todas as coisas no mundo são metáforas."
- "A igualdade nos faz repousar. A contradição é que nos torna produtivo."
- "Coloquei a minha casa sobre o nada, por isso todo o mundo é meu."
-"A alegria não está nas coisas: está em nós."
- "A natureza do amor tem sempre algo de impertinente."
- "Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser."
- "O que cantamos em companhia vai de cada coração aos demais corações."
-"Um homem de valor nunca é ingrato."
- "O homem deseja tantas coisas, e no entanto precisa de tão pouco."
A CONSTRUÇÃO DO EU
Relembrando momentos passados
Os meus olhos se inundaram
Em recordações antigas
Meus sentimentos se afogaram!
Relembrar dias de ouro
Que tanto me fizeram feliz
Rolam lágrimas de saudade
De tanta coisa que fiz.
Saudade de personagens
Que ilustraram minha vivência
Saudade de passagens
Que iluminaram minha existência.
Cada pequeno personagem
Me ajudou na construção
Daquilo que hoje sou
Dona e senhora de um bom coração.
BENJAMIM
*
AMOR IMORTAL
Amar sem esperar,
Amor condenado.
Perder a razão de estar
E ficar abandonado.
Sei de onde venho
Mas não sei para onde vou.
Nem sei a razão que tenho
Do motivo porque estou.
Está errado, dirão…
Certo, não estará,
Que fazer então?
Tudo passará…
Mas o amor não.
Esse ficará!
Fátima Pela
*
Giovanni Formaggio
RIVIVREMO L' ALBA
De
Giovanni Formaggio
Torna com i tuoi occhi di vent
com le tue labbra
nutrite dalle mie radici
com il tuo corpo
che as di flamenco.
Com le tue tempestea
la tua quiete.....
È porta verde
il sale che há bruciato le tue rose
e ti há visto fuggire....
Torna al tramonto
quando il sole incendia le case e il mondo.
Stingerò forte le tue mani
trascinerò la tua anima
nell'infinito....
Insieme
rivivremo l'alba delle nostre fedi nuziali
come quel giorno....
*
REVIVAMOS O AMANHECER
Por
Giovanni Formaggio
Volta com os teus olhos de vento
com os teus lábios
alimenta-te das minhas raízes
com o teu corpo
que tens de flamenco.
Com a tua tormenta
a tua bonança…
É porta verde
o sal que queimou as tuas rosas
e te viu fugir…
Volta ao pôr-do-sol
quando o sol incendeia as casas e o mundo.
Distingue bem as tuas mãos
arrasta a tua alma
até ao infinito…
Juntos revivamos
o alvorecer da nossa fé nupcial
como naquele dia…
AMÉRICA MIRANDA PRESIDINDO À TERTÚLIA DO PRETÉRITO DIA 17-09-2011
Tertúlia Poética Ao Encontro de Bocage – Tertúlia Anual de Homenagem a Bocage – celebra-se cada ano na segunda quinzena de Setembro. Porquê em Setembro e em cada ano? É o mês em que se celebra o aniversário do nascimento do Vate Sadino, Manuel Maria Barbosa du Bocage. Esta Tertúlia faz questão de lembrar a todos os amantes da Poesia e da Literatura, em geral, que Bocage – o poeta português mais popular, sem sombra de dúvidas – é o seu patrono artístico e também cultural.
Cada Tertúlia deve a sua motivação a grandes artistas que, do passado (muitas vezes longínquo), continuam sendo o modelo ideal para a sua forma de ver o mundo e de se afirmar como o fórum ideal das suas actividades humanístico-culturais. Esta Tertúlia, com sede na capital portuguesa, e dirigida pela conhecida poetisa América Miranda, desde há uns anos a esta parte, tem por hábito celebrar todos os meses a memória deste insigne poeta – facto que acontece no primeiro sábado de cada mês e, uma vez por ano, em Tertúlia Alargada comemorativa do seu nascimento.
Pode dizer-se que esta mesma Tertúlia tem sido um dos polos culturais mais dinâmicos da Capital, não só pela assistência que tradicionalmente consegue aglutinar à sua volta mas, principalmente, pela revitalização da convivência cultural e artística de que faz jus e atracção na vida comunitária das autarquias. Assim sendo, estas Tertúlias têm-se mantido em grande parte devido ao agrément e patrocínio, ainda que insuficiente, dos pelouros culturais das Juntas de Freguesia. É o caso da Junta de Benfica. Ali teve lugar, desta forma, no sábado passado mais uma Tertúlia Poética Alargada Ao Encontro de Bocage.
Prof. Assis Machado
O HOMEM-ESTÁTUA
Numa tarde com sol, na Primavera,
Andava vagueando no Chiado,
Quando vi um “homem-estátua”, no passeio
Imitando a figura de Camões.
Petrificado, imóvel, permanece.
Então num movimento inesperado,
Desperta, estremece.
Alteando um rosto pálido, inspirado,
Começa a recitar, de cor, uns versos:
Sonorosas estâncias dos Lusíadas
Do seu canto primeiro.
Quem dera fosse eterno
Tão breve e belo instante
E nunca passageiro.
Em momentos dum tempo, já sem crenças,
Por vezes me convenço
Que os milagres da vida
No tormento das nossas incertezas
Nascem da fé, de sonhos, de ilusões.
E assim este “homem-estátua”, mascarado
Não sendo, até julguei que era Camões.
Ó homem mascarado,
Ó estátua de carne
Com alma de poeta,
Eu vi-te nessa tarde, no Chiado.
E se tiver em mim alguma fé
Até direi que nessa tarde eu vi
Camões ressuscitado!
Orlando Lizardo
O PALCO DA MINHA INFÂNCIA
Sou uma mulher do campo,
Nasci em lençol de espigas
Embalaram-me as cigarras
Com as suas frementes cantigas.
Entre um montado de esperança
Eu vi o bailado das folhas
Tão certinho lá nos montes
Ouvi a voz das montanhas
E o doce palrar das fontes.
No palco da minha infância
Escutei na esquina da noite
Lindos contos de encantar
Quando a lua madrinha
Com toda a sua doidice
Entrava p’ la pequena janela
Da minha meninice.
E com aquela cara tão bela
A sua voz mansinha
E suas mãos prateadas
Lentamente me vinha acariciar.
Hoje guardo em meu regaço
Elo do qual eu não me desfaço:
A mansidão do Alentejo.
Graciett Vaz
*
O LIVRO
Um livro é um pedaço de nós
Onde se expressa a alegria e a tristeza
É o erguer da nossa voz
É voar para parte incerta
É um lançar de um alerta
À Humanidade e à Natureza.
Eugénia Chaveiro
*
DESESPERO
As flores crepitam
Nas labaredas da fogueira
Onde me queimo
Onde me ardo
Onde me asso
Me desfaço…
Deixando que o amor, ao vento,
Se desvaneça em fumo
Aqui e além!
Lobo Mata
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