DESENCANTO
Analisando as facetas da nossa existência e recordando os nossos tempos idos temos que admitir que a nossa passagem nesta vida é um trilho quase impossível de transpor.
A fé, a nossa força interior, o nosso desejo de vencer o mal, ainda nos ajuda a transpor o que nos parece intransponível. O amor verdadeiro, puro, já quase não existe. Há o desejo normal, animalesco, que substitui aquele desejo lindo que havia entre os seres que se amavam. A ternura do homem na exploração do corpo feminino, amado e desejado, aquele secretismo e cumplicidade erótica que existia entre duas pessoas a sós na sua intimidade, não é o mesmo. Agora, há demonstração na rua daquilo que não chega a existir verdadeiramente nas relações íntimas. Existem ainda pessoas um pouco fora do comum que são consideradas “botas de elástico” e se amam a poesia são apelidadas de loucas.
Vou na rua vagueando e analisando o que se passa à minha volta. Que vejo? Mais miséria, podridão, lixo humano e de consumo misturados numa dança fantasmagórica que arrepia. Mas como sou poetisa, como tenho uma alma sonhadora e romântica, sonho acordada com um mundo cheio de coisas maravilhosas quase impossíveis de alcançar.
Mas porquê ficar impotente e nada fazer? Porquê não usar a caneta que tem o poder de uma arma mortífera? Porquê não ferir os que nos ferem com a palavra sardónica tão veloz como uma bala certeira? Será falta de coragem ou desalento? Será fragilidade? Podemos reprovar mas temos que combater esse temor maligno que se agrava progressivamente e vem tomando conta da Humanidade – o desespero, a fome, a doença, a inveja, o terror, o desencanto, a malvadez e o uso abusivo dos mais fracos!
Esta prosa não tem poesia, porque a poesia seria maculada com tanta iniquidade, mas tem um grito de revolta misturado com laivos de esperança e força para lutar!
América Miranda
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